Por ser a altura do ano em que ocorrem mais infeções respiratórias e em que as crianças passam mais tempo fechadas em locais pouco arejados, o inverno é a estação em que se regista maior número de casos de escarlatina – uma doença que resulta não da ação direta do estreptococo em si, mas antes de uma reação de hipersensibilidade às toxinas produzidas por esta bactéria e que resulta nas tão característica manchas na pele. Quer isto dizer que, embora o estreptococo responsável pela escarlatina seja o mesmo que está na origem da amigdalite [1] ou faringite, a escarlatina é, por assim dizer, uma complicação desta infeção bacteriana [2].
O contágio é feito de pessoa para pessoa, através de gotículas de saliva ou secreções infetadas, provenientes de doentes ou de portadores sãos (ou seja, pessoas saudáveis que transportam a bactéria na garganta ou no nariz sem apresentarem sintomas).
Com um período de incubação que pode ir de um a sete dias - embora seja habitual os sintomas surgirem ao fim de dois a quatro dias -, a doença manifesta-se de forma abrupta com febre (que pode ser alta nos dois primeiros dias e manter-se baixa até uma semana), mal-estar, dores de garganta, dores musculares, dores de barriga [3], por vezes náuseas e/ou vómitos, e prostração.
A erupção cutânea surge geralmente entre 12 a 48 horas após o início da febre, afetando inicialmente o pescoço e o tronco, e só depois a face e os membros. As manchas, de cor avermelhada e com o tamanho da cabeça de um alfinete, tendem a ser mais intensas na face, nas axilas e nas virilhas.
A língua também pode ser atingida, apresentando-se inicialmente pálida e depois avermelhada (com o aspecto de um morango) devido ao aumento das papilas.
As manchas vermelhas, visíveis na língua, devem-se à dilatação dos vasos sanguíneos da pele, provocada por uma toxina produzida pelo Estreptococo
Numa fase mais tardia pode ocorrer a descamação da pele.
Quanto ao seu tratamento, este é feito com a administração de antibióticos - penicilina ou amoxicilina - e tem como objetivo reduzir a duração e gravidade da doença, assim como prevenir a sua transmissão. Nos doentes com alergia à penicilina o medicamento habitualmente utilizado é a eritromicina.
Os doentes são ainda aconselhados a ingerir alimentos moles e a aumentar a ingestão de líquidos durante o período de tratamento.
A escarlatina pode apresentar complicações durante a fase aguda da doença, ou estas surgirem semanas após o seu tratamento.
As complicações na fase aguda da doença resultam essencialmente da disseminação da infeção por estreptococos a outros locais do organismo, causando otite, sinusite, laringite ou meningite, por exemplo.
Já as infeções tardias, que surgem após o tratamento da doença, podem incluir febre reumática (lesão das válvulas do coração) e a glomerulonefrite (lesão do rim que pode evoluir para insuficiência renal). No entanto, embora estas complicações sejam potencialmente graves, são bastante raras.
Embora o diagnóstico de escarlatina seja feito com base na observação clínica (associação de febre, inflamação da garganta e erupção puntiforme de cor vermelho vivo e de distribuição típica), deve ser confirmado através da pesquisa do estreptococo. A confirmação da doença também pode ser feita após tratamento através de exames de sangue (ou seja, testes serológicos).
Quanto a outros cuidados, quando doente a criança deve ficar em casa para evitar o contágio. Os beijos devem ser evitados e não deve partilhar os seus talheres ou beber água pelo mesmo copo. Além disso, deve incentivar-se a lavagem frequente das mãos com água e sabão.
O regresso à escola pode ser feito após 24 horas do início do tratamento mas sempre com a indicação do seu médico.
Ligações
[1] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/amigdalite
[2] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/infeccoes-bacterianas-da-pele
[3] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/dores-de-barriga-na-crianca
[4] https://www.atlasdasaude.pt/artigos/ja-conhece-doenca-mao-pe-boca
[5] https://www.atlasdasaude.pt/varicela
[6] https://www.atlasdasaude.pt/artigos/sarampo-o-que-e-e-como-se-transmite
[7] https://www.atlasdasaude.pt/fonte/sns-rota-da-saude
[8] https://www.atlasdasaude.pt/foto/shutterstock-e-msd
[9] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/infeccoes-bacterianas
[10] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/saude-infantil
[11] https://www.atlasdasaude.pt/autores/sofia-esteves-dos-santos