Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências

Aumento do consumo de álcool e canábis nos mais velhos preocupam autoridades

O diretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências destaca como “evoluções negativas” em 2017 a mortalidade em acidente de viação sob a influência do álcool e o aumento dos consumos de risco e dependência de álcool e canábis em mulheres e homens mais velhos.

A mortalidade por doenças atribuíveis ao álcool e o aumento ligeiro, mas contínuo dos consumos de álcool e canábis nos jovens de 18 anos também é destacado por João Goulão no relatório anual do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), hoje divulgado na Assembleia da República.

Mas existem “outros indicadores cuja evolução nos dois últimos anos exige a nossa atenção, como o aumento das proporções de novas infeções por VHC [vírus da hepatite C] entre os utentes que iniciaram tratamento no ano por problemas relacionados com o uso de álcool”, afirma João Goulão no preâmbulo do relatório sobre “A Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependência 2017”.

Aponta ainda o acréscimo de sinalizações comunicadas às Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) em que crianças e jovens assumem ou são expostos a comportamentos relacionados com o consumo de bebidas que afetam o seu bem-estar e desenvolvimento.

Segundo o relatório, foram registadas, em 2017, 302 sinalizações deste tipo comunicadas às CPCJ, sendo os valores dos dois últimos anos os mais elevados dos últimos cinco anos, tendo sido efetuados 87 diagnósticos principais relacionados com estas situações.

Na área das drogas, João Goulão cita os resultados do Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoativas na População Geral 2016/17, que evidenciaram “o não cumprimento das metas relacionadas com os consumos na população geral de 15-74 anos, devido ao agravamento do consumo de canábis” ao nível das prevalências de consumo recente, das frequências mais intensivas e da dependência.

Observa ainda “a particularidade dos agravamentos” deste consumo nas mulheres e nas faixas etárias dos 25-34 anos e 35-44 anos.

Segundo o documento, cerca de 0,7% da população de 15-74 anos tinha um consumo considerado de risco elevado (0,4%) ou de risco moderado (0,3%), quase duplicando o valor correspondente (1,2%) na população de 15-34 anos (0,6% com consumo de risco elevado e 0,6% de risco moderado).

João Goulão destaca como positivo a descida dos indicadores relacionados com as infeções por VIH e sida associadas à toxicodependência e com a mortalidade.

“De um modo geral, também foram atingidas as metas definidas para os indicadores relacionados com os consumos dos mais jovens, em particular no que respeita à canábis (perceção dos riscos do consumo, o retardar a idade do início dos consumos e a prevalência do consumo recente)”, sublinha.

Como "evolução positiva" na área do álcool, João Goulão aponta a “perceção de menor facilidade de acesso a bebidas alcoólicas” a menores e o retardar das idades de início dos consumos em jovens, a diminuição do consumo per capita e a diminuição dos internamentos hospitalares com diagnóstico principal hepatite ou cirrose alcoólicas.

“Em contrapartida, alguns indicadores apontaram para um agravamento dos consumos de risco ou dependência na população geral de 15-74 anos, e outras evoluções negativas preocupantes em alguns subgrupos populacionais, como no feminino e nas faixas etárias mais velhas”, salienta.

Para João Goulão, importa continuar “a priorizar as intervenções com impacto” nos ganhos obtidos na área da droga, como a aposta no diagnóstico precoce da infeção por VIH”, a “referenciação adequada” dos casos reativos para o Serviço Nacional de Saúde e “estratégias robustas de redução de riscos e minimização de danos com elevado impacto na mortalidade”.

João Goulão adverte que se mantém “a premência da aprovação da proposta de alargamento do atual modelo de coordenação nacional, a outros comportamentos aditivos e dependências sem substância” e reitera “a necessidade de se priorizarem as ações preventivas, que têm vindo a registar perdas de continuidade e de reforço”.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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