Mais de metade da população adulta no nosso país (57%) tem excesso de peso e o número tem vindo a aumentar nos últimos anos. A obesidade afeta 1,5 milhões de portugueses e outros 3,5 milhões estão pré-obesos, de acordo com dados da Direção-Geral da Saúde. “A obesidade não só nos retira anos de vida saudável, como implica um risco acrescido para o desenvolvimento de diversas doenças como a diabetes, doenças cardiovasculares, musculoesqueléticas, doenças neurodegenerativas e alguns tipos de cancro”, alerta Conceição Calhau, Professora catedrática da NOVA Medical School e investigadora do CINTESIS–Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.
O intestino é habitado por triliões de microrganismos, entre bactérias, fungos, vírus e protozoários, cuja convivência deve ser o mais harmoniosa possível. “É comum dizer-se que o intestino é o segundo cérebro pela forte ligação cérebro-intestino, por ser chave do equilíbrio saúde/doença. A microbiota intestinal é essencial na monitorização e controlo do equilíbrio metabólico e dos gastos energéticos. Se a nossa microbiota intestinal estiver desequilibrada (disbiose) torna-se incapaz de regular o apetite, a saciedade e o armazenamento de energia”, explica.
De acordo com Conceição Calhau, o tipo de microrganismos que habitam o intestino, ao influenciarem o metabolismo energético de cada indivíduo, podem potenciar a nossa vulnerabilidade para o excesso de peso e obesidade. “Vários estudos demonstram que as pessoas obesas ou com excesso de peso têm menos abundância de espécies bacterianas benéficas, como a Akkermansia muciniphila e bifidobactérias e um aumento de bactérias potencialmente prejudiciais que contribuem para o aumento de peso”, acrescenta. Por exemplo, “as bactérias do filo Firmicutes aumentam a nossa capacidade para absorver calorias e armazenar gordura”. Pelo contrário, “as enterobactérias Hafnia alvei HA4597 produzem uma proteína – a ClpB – que atua no controlo do apetite, suprimindo a fome, e que, em simultâneo, são capazes de comunicar com os neurónios responsáveis pela sensação de saciedade, ao nível do hipotálamo, além do efeito no tecido adiposo facilitando a lipólise”, sublinha.
Para garantir que os “bons” e os “maus” microrganismos possam viver em paz e harmonia, exercendo os seus papéis fundamentais no corpo humano, “o ideal é garantir a existência de uma microbiota intestinal equilibrada e diversa, com muitos tipos diferentes de bactérias”, frisa a investigadora. E lembra que, ainda recentemente, um grupo de investigadores dinamarqueses analisou a microbiota intestinal de 123 adultos não obesos e 169 adultos obesos, e descobriu que 23% dos que tinham uma baixa diversidade de bactérias eram mais propensos a serem obesos.
Embora se considere que a obesidade é hereditária entre 40-70% dos casos, a genética também é influenciada por fatores externos como a falta de atividade física, sono insuficiente ou com má qualidade, stresse e uma alimentação pouco variada. No entanto, a investigadora garante que é possível trazer bactérias “boas” para o organismo e enriquecer a microbiota para favorecer o seu funcionamento adequado.