Doenças raras

O que são as Displasias Ósseas?

Atualizado: 
23/10/2020 - 17:16
A baixa estatura é a característica física mais evidente de um grupo de doenças designado de Displasias Ósseas. No entanto, tratando-se, este, de um conjunto de patologias muito heterogéneo, a forma como se manifesta pode variar de doente para doente. Inês Alves, Presidente da ANDO Portugal – Associação Nacional de Displasias Ósseas, revela que apesar da organização que dirige ter registo apenas de 110 casos, “poderão existir em Portugal 1500 pessoas com displasias ósseas”.

De origem genética, podendo “ser herdadas de forma autossómica recessiva, autossómica dominante, recessiva ligada ao X, dominante ligada ao cromossoma X, e ligada ao cromossoma Y”, as Displasias Ósseas correspondem a um conjunto muito heterogéneo de doenças raras que afetam, maioritariamente, o desenvolvimento, a estrutura e constituição dos ossos, da cartilagem e da dentina, refletindo-se em baixa estatura e, em alguns casos, incapacidade motora.

Segundo Inês Alves, “estão atualmente identificadas 461 displasias ósseas, não letais e letais, divididas em 42 grupos de acordo com 4 critérios: fenotípicos ou aspeto físico, radiológicos, bioquímicos e genéticos. E, embora, sejam individualmente raras, têm uma prevalência global de 1 caso a cada 5000 nascimentos”.

A maioria das displasias ósseas, explica a presidente da ANDO Portugal – Associação Nacional de Displasias Ósseas, “ocorre devido a mutações no DNA, que podem surgir de forma espontânea, conhecidas por “mutação de novo”, ou herdadas de pais para filhos”.

Embora o seu diagnóstico possa ocorrer ainda no segundo trimestre de gravidez, “em muitos casos, só é reconhecido em período pós-natal”. Não raras as vezes, a identificação exata destas doenças pode levar anos a acontecer.

“Este atraso pode ter vários motivos entre os quais o reduzido conhecimento e reconhecimento de displasias ósseas por muitos profissionais de saúde, a muito limitada referenciação de casos com suspeita de displasia óssea, as características diversas de cada displasia e a perda parcial de seguimento clínico da criança/adulto com displasia óssea”, explica Inês.

Para o seu reconhecimento, para além da realização de um exame físico completo “para observação de características distintivas ou dismórficas”, apoiado em testes laboratoriais e radiográfico, deve ser tida em conta a história familiar. “A genética médica é a especialidade por excelência para o diagnóstico de displasias, havendo contributos da pediatria, endocrinologia, ortopedia e fisiatria/reumatologia, principalmente”, esclarece a representante da Ando.

Como já foi referido, embora a baixa estatura seja o traço mais frequente nestas patologias, existem outras, nomeadamente de origem hormonal ou metabólica, que podem apresentar o mesmo tipo de manifestação. Nas displasias ósseas, as complicações associadas podem ainda ser muito distintas e afetar diferentes sistemas orgânicos, como “o esqueleto, as articulações, o sistema neurológico e o respiratório”.

Embora não exista tratamento farmacológico para todas as 461 displasias ósseas conhecidas – apenas 1% destas patologias podem recorrer a terapêutica farmacológica -, “estão atualmente em investigação ou ensaio clínicos tratamento farmacológico para outras 7 displasias”. Inês Alves, ressalva, no entanto, que estes tratamentos não curam a doença, limitando-se a melhorar a qualidade de vida da pessoa com displasia.

Tendo em conta todos estes aspetos, e sendo que podem surgir múltiplas complicações associadas à doença, ao longo da vida, estes doentes devem ser acompanhados por uma equipa multidisciplinar, “idealmente com seguimento num centro hospitalar de referência, e acompanhamento de proximidade com uma equipa de profissionais de saúde na área de residência”.

As displasias não letais mais frequentemente observadas são a acondroplasia, a discondrosteose de Léri-Weill, as colagenopatias tipo II como a displasia espondiloepifisária congénita e a osteogénese imperfeita.

«Há uma elevada complexidade multifatorial relacionada com o impacto da displasia em cada pessoa»

Dada a sua complexidade, a Displasia Óssea atinge cada doente de forma única, sendo o seu impacto dependente de diversos fatores, no entanto, Inês Alves chama atenção para o impacto que a baixa estatura tem na vida destes doentes. “As questões relacionadas com as acessibilidades de forma a assegurar independência, são muito relevantes. Por outro lado, a gestão dos cuidados médicos ao longo da vida consome muitos recursos como a energia pessoal, financeiros e de tempo e lidar com os desafios sociais face à diferença física pode ser muito impactante para as pessoas com displasia óssea e para as famílias, podendo ter uma carga existencial enorme”, revela.

“É necessário que a sociedade entenda que a diferença física é comum, seja ou porque se tem baixa estatura, ou uma cabeça desproporcionadamente grande, ou excesso de peso, ou magreza, ou cabelo ruivo, ou um membro amputado, etc e que a sociedade assuma a diferença com naturalidade. Também é muito importante que as pessoas sejam conscientes que são parte integrantes da sociedade e que cada uma se identifica individualmente pelo seu nome próprio. E este é um dos grandes trabalhos a ser feito: que as pessoas com displasia sejam conhecidas e chamadas pelo seu nome próprio e não por termos depreciativos”, acrescenta, relembrando que “é frequente as crianças começarem a questionar como são, e porque são assim, entre os 4 e os 6 anos”. Neste sentido, o papel dos pais na aceitação da doença é essencial, embora, nem sempre fácil. “Quando os pais têm conhecimento que o filho/a tem uma displasia óssea, é um período emocionalmente muito complexo, que pode demorar meses ou vários anos a superar, e que pode também estar relacionado com o tempo do diagnóstico. Aceitar que o filho/a tem uma displasia e recuperar emocionalmente é um passo muito importante para puder ajudá-lo/a”, reforça a presidente da ANDO Portugal, esclarecendo que a Associação presta aconselhamento e apoio às famílias. “A ANDO Portugal - Associação Nacional de Displasias Ósseas tem, desde 2015, apoiado pessoas com displasia ósseas e famílias, na superação de múltiplas questões, na obtenção de informação sobre a sua displasia, na ajuda a nível psicossocial, educativo, profissional assim como na orientação para acompanhamento clínico e terapêutico diferenciado”, afirma.

No entanto, admite que há ainda todo um “caminho pela frente para o diagnóstico precoce de muitas das displasias ósseas menos frequentes, na normalização da diferença física na sociedade, no acesso medicamentos inovadores e  terapias, na produção de mais investigação científica centrada na pessoa, na melhoria da qualidade de vida, na integração na sociedade e em alargar o conhecimento sobre as displasias ósseas entre profissionais de saúde, famílias e sociedade em geral”.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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