Medicamentos

Espanha é segunda maior produtora de ópio legal. Portugal já está no clube

Primeira autorização do Infarmed em 2013 a laboratório do Reino Unido. Empresa australiana está no Alentejo desde 2015.

Espanha é já um dos maiores produtores mundiais de ópio legal, com o primeiro lugar a ser ocupado pela Austrália. As plantações de papoila, autorizadas pelos governos e exploradas por empresas ou laboratórios farmacêuticos, são fonte de matéria-prima para a produção de medicamentos usados, sobretudo, para o tratamento da dor. Portugal também já faz parte dos países produtores. Começou em 2013, quando a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) deu a sua autorização à Macfarlan Smith Ltd., farmacêutica escocesa especializada na produção de alcaloides de ópio e outras drogas controladas. E já não é a única. A TPI Enterprises, uma das maiores empresas australianas de produção de papoila, começou a plantar no Alentejo no ano passado.

Segundo o jornal El País, Espanha é um dos maiores produtores mundiais de ópio legal, apenas superado pela Austrália (19 500 hectares de plantação). Em apenas um ano a superfície plantada em Espanha cresceu 62,5%. Passou de oito mil hectares plantados, em 2014/2015, para 13 mil hectares. O processo segue regras apertadas, de forma a cumprir a Convenção das Nações Unidas sobres Estupefacientes, de 1961. Todos os países que ratificaram este acordo, caso de Portugal, têm de o seguir.

A localização exata dos campos é secreta, mas segundo o El País sabe-se que ficam nas zonas de Castilla--La Mancha, Castilla y León, La Rioja e País Basco. É preciso autorização do governo para a plantação e exportação do produto e os agricultores têm de ter o aval dos ministérios da Agricultura e da Saúde espanhóis. Alcaliber, uma das maiores produtoras de morfina do mundo, recebeu autorização de exploração do governo espanhol em 1973.

Alqueva, zona de eleição

A aventura portuguesa começou muito mais tarde. Depois de dois anos de testes, a primeira autorização do Infarmed para plantação de ópio em território nacional foi dada à Macfarlan Smith Ltd, em março de 2013. As origens da farmacêutica escocesa remontam a 1815 e é responsável por várias plantações no Reino Unido. Por cá, a zona de eleição para testar as possíveis plantações foram Serpa, Cuba e Monte Novo. O objetivo é garantir matéria-prima para a unidade de produção de medicamentos em Edimburgo, na Escócia.

A empresa começou com pouco mais de cem hectares de plantação mas, como foi noticiado em 2013, com o objetivo de expandir até aos quatro mil hectares nos três anos seguintes. Na equação, ainda a possível construção de uma fábrica no Alentejo para fazer separação das sementes do resto da planta.

As zonas de regadio do Alqueva - com bom terreno e acesso a água - atraíram mais uma empresa para Portugal: a TPI Enterprises, uma grande produtora australiana, que até ao ano passado não tinha unidades fora do país de origem. Numa entrevista ao Diário Económico, Jarrod Ritchie, presidente-executivo da empresa, explicava que tinham começado com 700 hectares de plantação de papoila branca, mas que esperavam aumentar a área até três mil hectares este ano. O investimento também cresceu: de dois milhões de euros para dez milhões.

O modelo de negócio será semelhante em ambos os casos: contratar agricultores locais para fazerem a produção. São necessárias autorizações dos ministérios dos Negócios Estrangeiros, Agricultura e Saúde e há um processo obrigatório de licenciamento. O secretismo também parece ser um ingrediente obrigatório neste negócio. Aos agricultores foi-lhes pedido que não revelassem os locais das plantações. Um documento do Ministério da Agricultura e do Mar, de 2014, estabelecia as regras para o cultivo da papoila do ópio: o agricultor tem de ter um parecer favorável do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências, o terreno não pode estar perto de estradas ou caminhos de acesso fácil ao público, caso seja necessário tem de se criar uma barreira com um mínimo de 30 metros de largura, tem de estar isolada de outras culturas, toda a semente não usada tem de ser devolvida às empresas e após a colheita o restolho tem de ser destruído.

Fonte: 
Diário de Notícias Online
Nota: 
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