Como gerir então a medicação de um idoso? Alguns conselhos práticos para pessoas idosas, cuidadores formais e informais.
Os medicamentos são parte integrante da vida da maioria dos nossos idosos, permitindo manter sob controlo as várias doenças crónicas de que padecem, contribuindo para uma melhoria da sua qualidade de vida. Contudo, por vezes a quantidade de medicamentos que um idoso toma diariamente é tão elevada que obriga a uma organização e administração com cuidados acrescidos por parte do idoso e de quem dele cuida, de forma a garantir que não há erros nas doses, nos horários ou na troca de medicamentos.
De seguida deixamos-lhe alguns conselhos sobre esta matéria consoante os diferentes contextos em que o idoso se movimenta:
Há alguns princípios a ter em atenção e que poderão fazer toda a diferença…
1. Mantenha os medicamentos nas embalagens originais, pois assim é mais fácil controlar a data de validade dos mesmos e evita que se misturem com outros medicamentos. Mas, se preferir colocar os medicamentos em caixas para o efeito, as chamadas caixas porta-medicação, prefira sempre as que tenham tampa e utilize caixas diferentes para diferentes tipos de medicamentos (por exemplo, material de penso, medicamentos orais ou medicamentos de inalar). A medicação deve ser sempre guardada em caixa de plástico com tampa, visto que as caixas de madeira e de papelão não são indicadas para o efeito, pois podem favorecer a formação de fungos. Mantenha os medicamentos em local seco, arejado, longe do sol e principalmente em local fora do alcance das crianças. Evite guardar medicamentos nos armários da casa de banho, pois a humidade pode estragar a medicação.
2. Para facilitar o processo e para evitar erros, dentro das caixas da medicação, os medicamentos devem estar divididos pelas horas crescentes ou períodos do dia em que devem ser administrados (exemplo: manhã, tarde, noite e nunca manhã, noite e tarde). As referidas caixas podem ser separadas por dia da semana, ou também, uma caixa por cada dia da semana.
3. No caso da pessoa idosa não saber ler, os medicamentos podem ser agrupados e, na sua caixa, desenhar, por exemplo, um relógio com a indicação dos ponteiros e das horas a que devem ser tomados ou outra figura que remeta para a fase do dia (por exemplo, uma chávena de café para a manhã ou pequeno-almoço ou uma cama para a noite ou jantar). Sempre que seja possível, deve-se evitar medicações durante a madrugada para não interromper o descanso da pessoa idosa e/ou do seu cuidador.
4. Se o número de medicamentos for muito elevado, otimize a sua organização, desenvolvendo um plano de medicação diária, que será uma espécie de agenda do dia onde colocará em cada hora o nome do medicamento e a hora exata em que este deve ser tomado. Afixe o dito plano num lugar visível, onde a pessoa idosa passe frequentemente, como por exemplo, na porta do frigorífico. Nesse plano poderá também colocar um “visto” na medicação já dada, evitando assim aquelas dúvidas, se já tomou ou não o(s) medicamento(s).
5. Deixe somente a última “guia de tratamento para o utente” (a do lado direito da receita médica) junto à caixa de medicamentos. Isto evita confusão quando há troca de medicamentos ou receitas, e facilita a consulta em caso de dúvida ou quando solicitado por qualquer profissional de saúde.
6. Para evitar confusões e erros, devolva sempre os medicamentos que já não utiliza à sua farmácia, para serem devidamente tratados, ou se não o fizer, guarde-os noutro lugar, bem longe da sua medicação diária e fora do alcance das crianças.
7. Se a pessoa idosa tiver dificuldade em engolir comprimidos ou se for alimentada por sonda nasogástrica, converse com o seu médico e/ou enfermeiro de família sobre a possibilidade de dissolver os comprimidos em água ou em sumos. É também importante saber se há alimentos que devem ser evitados pelo facto de poderem interagir com a medicação. Nalguns casos, em que está presente o hábito de beber álcool é importante discutir com a equipa de saúde, se esse consumo pode manter-se mediante determinadas regras ou se deverá ser abandonado.
8. Não utilize como referência para dar os medicamentos a cor dos comprimidos pois as cores dos comprimidos podem mudar consoante o laboratório onde são produzidos.
9. E nunca se esqueça: não guarde em casa medicamentos fora de validade e não acrescente, diminua, substitua ou retire medicamentos sem antes consultar a equipa de saúde que o segue. E já agora, não use medicamentos que foram receitados para outra pessoa, mesmo que essa pessoa tenha um problema de saúde semelhante ao seu.
10. Se após tomar um medicamento a pessoa idosa apresentar alguma reação estranha/possíveis efeitos secundários ou interação entre medicamentos, avise logo que possível a equipa de saúde.
11. Informe os profissionais de saúde sobre todos os medicamentos que a pessoa idosa toma, sejam ou não de prescrição de médica, sem esquecer os chamados produtos de saúde (chás, vitaminas e suplementos). Cuidado com os produtos naturais, como os chás de plantas medicinais, pois estes podem alterar a ação da medicação que a pessoa idosa está a tomar.
12. Se conduz veículos ou manipula máquinas ou utensílios de cozinha, convém perguntar se algum medicamento que a pessoa idosa anda a tomar ou tenha sido prescrito pode afetar o seu estado de alerta ou a sua destreza manual.
13. Se a pessoa idosa vai de viagem lembre-se de informar a sua equipa de saúde. Há medicamentos que requerem cuidados adicionais em função do destino ou do meio de transporte.
14. Em caso de qualquer dúvida e sempre que precisar de ajuda para organizar a medicação solicite-a à equipa multidisciplinar de saúde, esta com certeza estará disponível para ajudar.
Autores:
Maria Helena Junqueira, Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica – Serviço de Medicina do Hospital de Pombal – Centro Hospitalar de Leiria EPE, [email protected] [1]
Pedro Quintas, Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária na área de Enfermagem de Saúde Familiar - Unidade de Cuidados na Comunidade Pombal, [email protected] [2]