Podem provocar lesões benignas (papilomas) ou malignas (cancro) em várias localizações do corpo, nomeadamente no colo do útero, nos genitais externos femininos e masculinos, na região anal e perianal, na pele (verrugas), na orofaringe (amígdalas), na boca, na laringe, entre outras, mas mais raramente.
A transmissão do vírus para a boca, faringe e laringe pode ser por contato direto boca a boca, sexual (sexo oral), autoinoculação ou através de transmissão no parto.
A maioria das pessoas (80-85%) têm uma infeção por HPV ao longo da sua vida. No entanto, na maioria das vezes, as infeções curam espontaneamente nas pessoas saudáveis, num prazo de cerca de 1-2 anos. O HPV pode ficar “adormecido” nas células epiteliais e só manifestar a doença passados alguns anos. O HPV não tem tratamento e não existe nenhum medicamento que o elimine, no entanto, existem vários métodos para eliminar os tecidos onde ele está localizado.
Os vírus do HPV são agrupados pelo risco de provocar cancro: alto risco (16,18), risco intermédio (31,33,35,39,45,51,52,58,59,68), e baixo risco (6,11,42,43,44).
O cancro da orofaringe tem uma incidência em Portugal de 2,2/100.000/ano, isto é, em cada ano surgem 220 novos casos de cancro da orofaringe. Em cerca de 35% dos casos de cancro da orofaringe (amígdalas palatinas e linguais) já se encontra o HPV, associado ou não ao tabaco e álcool. O HPV 16 é o mais encontrado nos carcinomas das vias aerodigestivas superiores: 68,2% na boca, 86,7% na orofaringe e 69,2% na laringe.
Ter múltiplos parceiros sexuais é considerado um comportamento de risco para contrair o HPV, bem como o contato oro-genital ou oral com pacientes HPV+. No entanto, não devemos esquecer a disparidade entre o alto número de infeções por HPV (75% da população em Portugal) e o baixo número de cancro da orofaringe HPV+ (35-40% dos 220 casos por ano).
Em relação ao cancro do colo do útero, este é quase exclusivamente provocado pelo HPV.
Assim, o controle do HPV e das doenças que provoca passa por um conhecimento do vírus, do seu comportamento, das suas várias localizações, do modo de transmissão, e da sua prevenção.
A vacina contra o HPV tem especial interesse na idade pré-sexual em raparigas e rapazes. E foi apoiada pela Food and Drug Administration (FDA) americana para a prevenção do cancro da orofaringe. Além da prevenção, o diagnóstico precoce tem muita importância no controle e tratamento destes cancros.
Posto isto, torna-se evidente a pertinência da abordagem multidisciplinar ao tema do HPV, pelo impacto que terá no estudo e controle destas doenças provocadas pelo vírus, que envolvem as seguintes áreas: Ginecologia, Otorrinolaringologia, Proctologia, Gastro, Cirurgia Geral, Urologia, Dermatologia, Pediatria, entre outras.
Neste sentido, importa destacar iniciativas como a 3.ª Edição do “HPV Clinical Cases”, sob o tema “HPV como um todo”, uma reunião direcionada para todos os médicos das várias especialidades
que contactam com as doenças provocadas pelo HPV, com o objetivo de trocar experiências e conhecimentos e atualizar a evidência científica para a prática clínica, sensibilizando para a doença do HPV.
Os profissionais de saúde estão, assim, convidados a submeter os casos clínicos até dia 16 de julho, para serem, posteriormente, avaliados pelo júri. Os critérios a ter em conta serão a pertinência do caso clínico, a originalidade, o rigor científico, o raciocínio clínico, e o impacto do caso clínico no conhecimento da comunidade médica e nos cuidados a prestar aos doentes.
Esperamos uma grande adesão, de múltiplas especialidades, com concurso de excelentes casos clínicos, e com uma participação relevante no evento de apresentação das melhores submissões, em outubro.
Ligações
[1] https://www.atlasdasaude.pt/foto/pixabay
[2] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/artigos-de-opiniao
[3] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/tumores
[4] https://www.atlasdasaude.pt/autores/dr-pedro-montalvao-otorrinolaringologista-do-h-cuf-descobertas-coordenador-da-unidade-de