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Catarata: recupere a qualidade de visão

Atualizado: 
17/10/2019 - 11:00
A prevenção primária e a detecção precoce são as medidas mais eficazes e determinantes para a redução das taxas de incidência e morbilidade das doenças da visão. Neste artigo, o Professor Eugénio Leite fala-nos de catarata, uma doença que afeta sobretudo os mais velhos limitando a sua qualidade de vida.

 

A catarata é uma doença que aparece com a idade ou em consequência de uma doença sistémica. Gradualmente, a sua visão começa a tornar-se turva e os objectos deixam de lhe parecer brilhantes ou vivos como anteriormente. O aparecimento destes sintomas pode indicar o desenvolvimento de uma catarata. Convém consultar um oftalmologista de modo a saber se é recomendável ser submetido à cirurgia de catarata para melhorar a qualidade da sua visão.

A escolha do tipo de técnica cirúrgica é uma decisão que compete ao oftalmologista, após uma conversa de esclarecimento com o doente, que deverá compreender todo o procedimento que envolve ser submetido a uma cirurgia. Para tomar a decisão de se submeter a uma cirurgia é importante esclarecer todas as suas dúvidas.

De seguida, serão apresentadas algumas questões que o ajudarão a perceber os vários tipos e causas de cataratas, para que possa tomar a sua decisão.

O que é uma catarata e o que a causa?

O olho humano funciona como uma máquina fotográfica. Os raios visuais são focados pelo cristalino na retina, a camada de fotorecetores que funciona como o filme da câmara fotográfica, no fundo do olho.

No olho normal, os raios luminosos passam através do cristalino transparente e são focados na retina, o que dará origem a uma imagem clara e brilhante.

Com o avançar da idade, o cristalino continua a crescer, adicionando camadas às existentes na superfície. Com o evoluir do tempo, o cristalino endurece e perde transparência, o que resulta numa visão turva ou imperfeita.

Nesta situação clínica, a catarata está relacionada com a idade. É um processo normal e que, mais tarde ou mais cedo, ocorre em todas as pessoas.

Se o processo de formação da catarata afeta apenas uma pequena área do cristalino e se não é central, a sua visão pode não ser atingida ou grandemente perturbada. Se, pelo contrário, o processo é severo, atinge a zona central ou todo o cristalino e a sua visão é fortemente afetada.

Ainda que a catarata ocorra usualmente em ambos os olhos, raramente se desenvolve ao mesmo tempo em ambos os olhos.

Quais serão as outras causas de catarata?

Há outros tipos menos comuns de cataratas e que não estão relacionadas com o envelhecimento. Destaquemos alguns desses tipos:

Catarata congénita – Ocorre nas crianças e pode ser hereditária ou devida a traumatismos do parto. Algumas ocorrem sem qualquer causa óbvia.

Catarata secundária – É causada por doenças ou cirurgia prévia aos olhos. A formação de cataratas secundárias pode ser acelerada por doenças crónicas, como a diabetes ou o uso excessivo de esteróides.

Catarata traumática – A causa é um traumatismo ocular. O seu aparecimento pode surgir imediatamente após o traumatismo ou desenvolver-se lentamente meses ou anos após o acidente.

Quais são os sintomas das cataratas?

Os doentes que apresentam cataratas podem apresentar um ou alguns dos seguintes sintomas:

  • Sensibilidade à luz ou deslumbramento, especialmente à luz solar intensa ou aos faróis dos outros carros ao conduzir;
  • Redução da noção de profundidade;
  • Aumento das dificuldades de leitura, o que requer múltiplas mudanças de óculos;
  • Perda das cores vivas;
  • Distorção ou imagens fantasma;
  • Turvação ou escurecimento das imagens;
  • Diminuição da acuidade visual.

Mitos

Há alguns conceitos muito divulgados e que estão incorretos pelo que devem ser corrigidos.

A catarata NÃO É:

  • Uma membrana a crescer por cima do olho;
  • Um tumor, cancro ou infeção;
  • Uma causa irreversível de cegueira;
  • Uma doença contagiosa que se transmite de olho para olho e de pessoa para pessoa.

Como se faz o diagnóstico de uma catarata?

O uso de uma lâmpada de fenda ou um biomicroscópio permite ao oftalmologista o exame tridimensional e magnificado do cristalino. Através do exame biomicroscópico pode-se detetar a presença da catarata, assim como qualquer outra doença que provoque uma acuidade visual turva ou desconforto ocular.

Após o diagnóstico de uma catarata e para se analisar e preparar a intervenção cirúrgica, é necessário efectuar alguns exames complementares, nomeadamente:

  • Topografia corneana;
  • Microscopia especular;
  • Biometria com cálculo da potência da lente intraocular;
  • Ecografia ocular.

A CIRURGIA DE CATARATA

Quando se deve efectuar a cirurgia de catarata?

Antigamente, existia o conceito de que só se devia operar a catarata quando o doente já não visse nada. Hoje, se a visão estiver um pouco turva e perturbar as actividades diárias, deve considerar-se a possibilidade de cirurgia.

A cirurgia é o único meio para remover a catarata. Nenhum outro tratamento pode remover a catarata, quer sejam gotas, exercícios ou óculos. Refira-se também que nenhum tratamento, gotas ou óculos, irá influenciar a evolução da catarata. Esta irá aumentar de acordo com uma evolução própria que varia de pessoa para pessoa.

A cirurgia à catarata deve ser efectuada por um oftalmologista com experiência cirúrgica.

Qual a técnica que se utiliza na catarata?

Actualmente, há duas técnicas para a realização da cirurgia de catarata, a técnica convencional, chamada de facoemulsificação, e o laser, uma cirurgia inovadora e de vanguarda. A consulta e exames pré-operatórios serão decisivos para a escolha da técnica mais adequada.

A técnica facoemulsificação envolve a execução de duas incisões, uma maior de 3mm e outra de 1mm na córnea, através das quais o cirurgião introduz a ponta do facoemulsificador (a maior), um instrumento de ultrasons de alta frequência, com o qual se desfaz e aspira o núcleo (centro) da catarata. O restante da catarata é aspirado com a ponta de irrigação-aspiração. A incisão menor serve para utilizar o manipulador ou instrumento de ajuda.

A técnica de laser representa um passo inovador e qualitativo para os doentes, e consiste na utilização de um equipamento de vanguarda, o Femtofaco LenSX, com elevados  índices de segurança e precisão.

Após a remoção da catarata, independentemente da técnica, é implantada ou colocada uma lente intra-ocular no espaço da catarata. Esta nova lente intra-ocular vai permitir a focagem do feixe luminoso na retina. A lente intra-ocular vai tornar-se parte permanente do olho, ao contrário das lentes de contacto que são retiradas e colocadas diariamente.

Na maior parte dos casos, é colocada a lente intra-ocular (LIO) no saco capsular, tratando-se assim de uma LIO posterior. Se a técnica utilizada for a focoemulsificação, usa-se uma lente desdobrável, que entra enrolada e só se abre dentro do olho. Se, pelo contrário, a LIO é colocada à frente da íris ou na câmara anterior, chama-se LIO de câmara anterior.

Por último, só em alguns casos é preciso suturar a incisão, pois se a técnica for facoemulsificação e se usar uma LIO desdobrável, não é preciso suturar (dar pontos).

CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS

Quais são os cuidados pré-operatórios?

Como já foi referido, é necessário realizar alguns exames antes da operação para definição de qual a técnica, tipo de LIO ou cuidados a ter.

Algumas recomendações serão feitas ao doente pelo cirurgião, como ir para a clínica em jejum ou comer até uma determinada hora. Na clínica ser-lhe-ão colocadas gotas antes da intervenção cirúrgica.

No bloco operatório, o olho a operar será desinfectado, e será aplicado um campo operatório esterilizado para protecção da zona operatória.

Qual o tipo de anestesia a usar?

A cirurgia da catarata não necessita de uma anestesia geral. Hoje, a cirurgia realiza-se com uma anestesia tópica (gotas) e com sedação dada por via sistémica. Este tipo de anestesia permite que o doente não sinta qualquer dor e não se lembre de nada.

INTERNAMENTO

Quanto tempo fica na clínica?

Hoje em dia, a cirurgia de catarata não precisa de vários dias de internamento.

A cirurgia de catarata é um procedimento cirúrgico que pode ser efectuado em regime ambulatório ou com internamento de curta duração (24 horas) conforme o tipo de doente ou técnica que se usa. Com as técnicas actuais, o doente pode retomar logo de seguida a sua actividade diária.

RECOMENDAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS

Qual é o processo de recuperação?

O actual procedimento permite que não haja necessidade de tapar o olho operado, devendo somente repousar com tranquilidade e depois regressar a casa. Esta tranquilidade é essencial para evitar complicações, nomeadamente hemorragias, infecções ou outro tipo de problemas.

Alguns outros cuidados a ter são os seguintes:

  1. Aplicar as gotas prescritas correctamente;
  2. Esperar 3 a 5 minutos entre cada tipo de gotas;
  3. Não esfregar ou pressionar o olho;
  4. Não executar tarefas perigosas enquanto recupera a visão;
  5. Não recomeçar actividades intensas sem autorização do oftalmologista.

Quais os controlos pós-operatórios?

O doente deverá efectuar alguns controlos pós-operatórios, geralmente 2 a 3 exames nas primeiras 6 a 8 semanas. Nestas consultas, vai-se controlando o processo de cicatrização e recuperação funcional da visão do olho operado.

Por vezes, quando se utiliza LIOs posteriores, ao fim de alguns meses ou anos, a cápsula posterior onde a lente está apoiada pode “sujar-se” ou opacificar, o que provocar uma visão algo embaciada. O oftalmologista, com recurso a um laser YAG, vai abrir o centro desta cápsula, um procedimento indolor e eficaz, sem precisar de internamento, e com recuperação imediata.

É necessário usar óculos depois da cirurgia?

Os doentes que usavam lentes bifocais/progressivas ou somente lentes para perto, vão continuar a precisar de, pelo menos, óculos para perto, ainda que hoje já haja lentes intra-oculares progressivas/multifocais e, em alguns casos, possam ser implantadas.

OUTRAS QUESTÕES

Para além das questões que foram expostas, há quem considere alguns outros parâmetros, como sejam comparar os potenciais benéficos e os possíveis riscos.

Quando se pondera a possibilidade da cirurgia deve-se pensar-se em:

Quais os riscos de complicações?

Como em qualquer cirurgia, um bom resultado não pode ser garantido por ninguém. Mas é importante referir que 95 a 97% das cirurgias a cataratas decorrem sem qualquer tipo de complicações. Ainda que raras, as complicações podem ocorrer durante ou após a cirurgia, impondo algumas limitações visuais.

O que acontece se não for operado?

Com algumas excepções, a presença da catarata vai evoluir sem que se possa modificar a sua progressão com a respectiva perda de visão. Contudo, o esperar, ainda que não coloque em risco a recuperação da visão, vai colocar alguns problemas de técnica motivado pelo endurecimento da catarata.

Recorde-se que 90 a 95% dos doentes se sentem satisfeitos com o resultado da cirurgia. Mas lembre-se que a cirurgia da catarata não irá melhorar uma má visão provocada por outras doenças, como sejam a diabetes ou tromboses.

Por último, a decisão é sua, mas lembre-se que a catarata é uma causa comum de perda de visão no processo de envelhecimento. Quanto mais idoso, maior a possibilidade de ter uma catarata que interfere com a sua qualidade de vida. Logo, é de considerar fortemente a possibilidade de realizar uma cirurgia que é segura, com bons resultados e quase nenhumas complicações.

As novas técnicas, como o laser, oferecem-lhe uma nova qualidade de vida, segurança e precisão.

Autor: 
Professor Doutor Eugénio Leite - Médico oftalmologista e Diretor Clínico das Clínicas Leite
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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