2018

Plástico que deitámos fora voltou para nos contaminar

O plástico que durante décadas tornou a vida mais fácil começa a cobrar em termos ambientais, ameaçando tornar os oceanos uma ‘sopa’ potencialmente tóxica que afeta a vida marinha e humana.

Desde que o uso do plástico se intensificou, a partir da década de 1950, foram produzidas mais de oito mil milhões de toneladas deste material, mas agora a fatura começa a chegar na forma de marés infestadas de partículas microscópicas e "ilhas" de garrafas e embalagens que podem destruir setores económicos como a pesca ou o turismo e fazer estragos na saúde de formas que ainda nem estão estudadas.

A noção do perigo levou este ano a medidas políticas concretas para enfrentar o problema, com a Comissão Europeia a dar logo em janeiro 12 anos aos estados-membros da União para acabarem com as embalagens de plástico descartáveis e o Governo português a dar um sinal, proibindo o uso de garrafas, sacos e pratos e talheres de plástico nos serviços da administração pública.

A Assembleia da República aprovou a cobrança de depósito sobre embalagens descartáveis de bebidas, aplicado a plástico, vidro e alumínio, que deverá avançar em regime de experiência piloto até ao fim de 2019 e ser obrigatório a partir de 2022.

No Parlamento Europeu, aprovou-se em outubro uma proposta para proibir a partir de 2021 a venda de produtos de plástico de utilização única, como pratos, talheres, cotonetes ou palhinhas e recipientes para alimentos e bebidas feitos de poliestireno expandido.

Os eurodeputados intimaram também os estados-membros a tomarem medidas para reduzir em um quarto a utilização de outros produtos de plástico de utilização única.

A estratégia da Comissão Europeia passa por promover a reutilização e a reciclagem e o fim de plásticos que não são reciclados, destacando que há muito dinheiro a fazer no setor da reciclagem, que movimenta 340 milhões de euros por ano e emprega 1,5 milhões de pessoas.

Pretende-se criar mais 200 mil empregos no setor até 2030 e as restrições ao uso do plástico deverão também chegar por via legislativa ao setor das pescas e à utilização de microplásticos, comuns em cosméticos.

Os números invocados são simples e alarmantes: os europeus deitam foram todos os anos 25 milhões de toneladas de plástico e menos de um terço é recolhido para reciclagem. Anualmente, produzem-se 320 milhões de toneladas de plástico no mundo e a tendência imposta pelo ritmo do consumo é para aumentar.

De todo o plástico já produzido, cerca de 80% continuam no meio ambiente, acumulados em aterros e na Natureza. Nas praias do mundo inteiro, 85% do lixo são plásticos.

Num estudo realizado este ano em 42 países, mais de dez mil voluntários apanharam lixo em zonas costeiras e em quase 200 mil pedaços de plástico que recolheram, 65% eram embalagens de produtos de marcas como a Coca-Cola, Pepsi, Nestlé, Danone ou Colgate-Palmolive.

Em julho passado, imagens divulgadas por uma organização não-governamental ambiental puseram nas notícias e nas redes sociais imagens desoladoras de uma praia da República Dominicana, um país procurado pela costa, completamente soterrada em lixo plástico, de que foram recolhidas trinta toneladas em três dias.

Foram a ilustração cabal de um problema para o qual os ambientalistas já vêm alertando desde há alguns anos, com o mote "qualquer dia haverá mais plástico do que peixe nos oceanos".

Os riscos para a saúde estão ainda por conhecer totalmente, mas a Organização Mundial de Saúde declarou este ano que vai prestar mais atenção à matéria, depois de um estudo ter dado a conhecer que cerca de 90% da água engarrafada vendida mundialmente tem vestígios de microplástico.

Outros estudos científicos comprovaram a presença de vestígios de plástico em peixes e outros animais marinhos que acabam por chegar ao organismo de seres humanos através da alimentação.

Quanto à responsabilidade no aquecimento global, além das emissões de gases poluentes decorrentes da própria atividade industrial, o plástico a decompor-se liberta para a atmosfera gases que contribuem para o efeito de estufa.

Com a dimensão gigantesca que o plástico assumiu na vida das sociedades, o problema não se resolve só de um lado.

Ambientalistas e decisores políticos pressionam as marcas para que se reduza a oferta e se procurem alternativas mais recicláveis, mas há setores nos quais o plástico é absolutamente essencial e não tem para já substituto em larga escala. Saúde, eletrónica e alimentar são exemplos dessas áreas.

O problema agudiza-se nos países em desenvolvimento: por um lado, e especialmente os que têm litoral, são dos que mais têm a perder com as "marés de plástico", por outro, a falta de infraestruturas e de consciência ambiental não dá grandes alternativas a milhões de pessoas que vivem sem condições básicas.

A consciência individual de cada cidadão tem também um longo caminho a fazer: o choque de ver uma baleia com o estômago cheio de plástico ou uma praia que podia ser paradisíaca transformada num atoleiro nem sempre se reflete em mudanças de comportamento.

Um gesto mundano como deitar um saco de plástico no caixote do lixo, um cotonete na sanita ou uma beata para o chão multiplicado por milhares de milhões de pessoas está longe de ser inócuo.

O plástico não só não desaparece como volta e voltará cada vez mais a contaminar a vida das sociedades, afetando setores como a economia, o lazer e a saúde. Este ano, houve sinais de que algo tem que ser feito, e depressa.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock