Dia Internacional da Mulher

Opinião: Ser Mulher!

Atualizado: 
08/03/2018 - 14:58
Proposta aliciante, esta de escrever no dia internacional da Mulher, sobre a Mulher e para a Mulher. Surge no entanto uma dúvida pertinente: Sobre o que falar? Tema infinito... difícil começar, penosa a decisão... Palavras contadas...

Falar da importância da vigilância anual na consulta de Ginecologia?

Da praga que é a infeção pelo HPV? Do facto de 80-90% das mulheres terem contacto com este vírus, cuja infeção pode evoluir para cancro do colo do útero mesmo em idade jovem? Da importância do seu rastreio como prevenção primária? Do papel da vacinação?

A possibilidade de deteção precoce do cancro do endométrio e ovário na ecografia anual inserida no contexto da tal consulta anual, principalmente após a menopausa? Explicar o porquê de essa mesma ecografia poder detetar essa neoplasia precocemente e salvar vidas?

Da realização de ecografia e/ou mamografia (consoante faixa etária) e deteção atempada do cancro da mama?

Falar do adiar da idade materna?

Falar acerca da loucura da sociedade que exige cada vez mais da mulher, que não nos deixa quase respirar?  Da quantidade de pacientes que adiam para mais tarde ser mãe?

Que adiam para depois... depois de ter o emprego ideal, depois de ter casa própria... de preferência para depois “daquela” promoção... E um dia quando olham para o lado... surge uma menopausa precoce e o sonho não chega a ser cumprido...

Com o avançar da idade a infertilidade cresce, a taxa de abortamento também...

Sorriso enorme quando se atinge o sonho... tristeza que permanece quando se fica pelo depois.

Falar da importância de um bom planeamento familiar?

Relembrar que ser mãe QUANDO se quer é importante. Ter mão na decisão desse momento é vital.

Explicar que a interrupção voluntária da gravidez existe, mas que não é método de contraceção. Que quem passa pelo processo dificilmente sai sem lesões, principalmente psicológicas que permanecem.

Que temos um conjunto grande de opções para evitar a gravidez... e que com certeza há um método ideal para cada uma de nós.

Seja a pílula de estrogénio-progestativo, ou de progestativo apenas. Seja oral, transdérmica ou vaginal. Seja o dispositivo intra-uterino de cobre ou revestido a progestativo ou o implante no braço...

Falar de como a menopausa já não é o fim da mulher como mulher?

Escrever sobre as opções terapêuticas, que nos permitem não tratar a menopausa... mas sim o seus sintomas. Individualizar tratamentos, caso a caso, de acordo com os sintomas e as co-morbilidades das pacientes.

Relembrar que hoje em dia a mulher passa, em média e de acordo com a esperança média de vida 40% da sua vida nesta fase? Que é cada vez mais importante oferecer qualidade de Vida?

Falar que a incontinência urinária existe e deve ser investigada e tratada?

Cada vez mais a mulher tem uma vida preenchida entre o trabalho, os filhos e os trails ao fim de semana. Não é justo ir fazer uma corrida e ter que levar um penso por causa da perda urinária de esforço. Muitas vezes estas perdas ocorrem quando a mulher tosse, ri, pega em pesos, faz esforços e podem limitar o dia a dia. Quase sempre há solução.

Falar sobre a Líbido Adormecida?

Sim, todos os dias ouço pacientes a queixarem-se desta “doença” ... que na maioria das vezes resulta de um vírus da sociedade atual – chamado cansaço, burnout, falta de tempo... No fugaz encontro à noite depois de um dia extenuante de uma to do list sem fim, quando o casal se encontra e fala de tudo o que os preocupa... as contas, os deadlines no trabalho, o insucesso escolar do filho, a empregada que faltou...

Na maioria das vezes? Falta de Tempo ... para Viver, para Sentir.

Os temas são muitos... a decisão difícil...

Neste Dia da Mulher, sejamos apenas Mulheres, na complexidade Maravilhosa e surpreendente que nos faz Únicas. Na plenitude vaidosa de podermos gerar Vida.

*a especialista é também autora do blogue “Aos Domingos no Meu Consultório”

Autor: 
Dra. Maria Manuel Sampaio – especialista em Ginecologia/Obstetrícia
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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