No entanto, taxa de sobrevivência aos 5 anos é inferior a 30%

«O Cancro da mama metastático é encarado como uma doença crónica»

Atualizado: 
30/10/2018 - 15:02
Em Portugal, estima-se que entre 5 a 10% das mulheres com cancro de mama estejam já num estádio avançado da doença aquando o seu diagnóstico. Para assinalar o Dia Nacional de Prevenção do Cancro de Mama, o Atlas da Saúde esteve à conversa com Marta Sousa, oncologista do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro que reforça a importância do diagnóstico precoce admitindo que, embora este seja o tumor maligno mais frequente nas mulheres, “quando diagnosticado numa fase inicial a probabilidade de cura é elevadíssima”.

Estima-se que entre 5 a 10% das mulheres com cancro da mama apresentam metástases ao diagnóstico. Neste sentido, o que é e quem apresenta maior risco de desenvolver cancro de mama avançado? Qual a sua incidência em Portugal?

Não estão definidas as doentes que apresentam maior risco para o desenvolvimento de cancro metastático avançado, no entanto sabe-se que existem algumas características histológicas que podem identificar tumores mais agressivos como o grau histológico, sobre-expressão da proteína Her2, ausência de expressão de receptores hormonais, tumores triplo negativos.

No entanto, não são só as mulheres que podem vir a desenvolver este tipo de cancro… Qual a importância de reforçar a ideia de que também os homens podem ser atingidos pela patologia?

O diagnóstico de cancro da mama no homem representa cerca de 1 % de todos os casos diagnosticados. Apesar da sua baixa incidência no sexo masculino, este diagnóstico deverá ser sempre considerado quando existem alterações mamárias no homem.

Quais os sintomas do cancro de mama avançado?

O tumor metastático poderá ser diagnosticado sob a forma de alterações mamárias associadas ao tumor primário tais como: nódulo mamário ou axilar, alterações cutâneas como ulceração, retração mamilar, dor mamária.

Com alguma frequência o diagnóstico do tumor está associado a sintomatologia dos órgãos afectados pelas metástases, como dores ósseas, falta de ar, náuseas, vómitos, aumentos do volume abdominal, cefaleia, etc.

Como é feito o seu diagnóstico? E qual o tratamento indicado para estes casos?

O diagnóstico é feito com a realização de uma biopsia. Esta poderá ser realizada na mama e ou no local de suspeita de existência de metástase. Exames imagiológicos devem também ser realizados para identificação de locais de metastização.

O tratamento é decidido numa Consulta de Grupo multidisciplinar em que são intervenientes as especialidades envolvidas no diagnóstico e tratamento desde tumor tais como, a Oncologia, a Cirurgia, a Radioncologia, a Anatomia Patológica e a Imagiologia, entre outras.

O Tratamento nesta fase da doença tem como principal objectivo o controle da mesma e manutenção da qualidade de vida. O tratamento de eleição é o tratamento sistémico que pode incluir a hormonoterapia, quimioterapia e terapêuticas-alvo. Menos frequentemente é utilizada a radioterapia e cirurgia.

Qual a principal dificuldade no tratamento do cancro de mama metastático?

A capacidade que as células tumorais têm para desenvolver resistência às terapêuticas instituídas é uma das principais dificuldades. Outra dificuldade depara-se com os efeitos secundários associados aos tratamentos, o controle da doença deverá estar associado à manutenção da qualidade de vida e não à deterioração da mesma.

Embora os tratamentos com alguns fármacos tenham sido promissores no tratamento do cancro da mama metastático, os estudos não têm mostrado um aumento muito significativo na sobrevivência global.

Por fim, apesar do tratamento ser decidido em função das características do tumor e da doente, existe ainda um desconhecimento de algumas características determinantes do tumor, sendo o seu conhecimento crucial para decisão mais precisão do tipo de tratamento, que passará no futuro por um assinatura genética.

Este diagnóstico ainda é visto como uma sentença de morte? Qual o prognóstico da doença?

A Sobrevivência do cancro da mama diminui nos estádios avançados.

O Cancro da mama metastático é encarado como uma doença crónica. A taxa de sobrevivência aos 5 anos é inferior a 30%, mas com o desenvolvimento de novos tratamentos, e um número crescente de opções terapêuticas, tem-se verificado um aumento da sobrevivência em algumas destas doentes.

Considera que, de um modo geral, a sociedade está desperta para uma doença que atinge mulheres cada vez mais jovens?

Falar de cancro já não é um mito como há uns anos atrás, o que não implica que as pessoas não tenham uma reação de pavor quando lhes é comunicado o seu diagnóstico. Nota-se um conhecimento crescente relativamente a este tema, muitas vezes por existir alguém próximo com este diagnóstico.

A abordagem sistemática deste tema por parte dos meios de comunicação, muitas vezes com exemplo de vida expressos por algumas figuras públicas, têm ajudado a sensibilizar a sociedade para este tema. Só com o conhecimento profundo da doença, dos factores de riscos associados e do seu diagnóstico precoce, poderá ser invertida, de uma forma consistente, a tendência de aumento do número de casos de cancro da mama.

Neste sentido, qual a importância do diagnóstico precoce?

O diagnóstico precoce permite detectar os tumores em estádios iniciais, e é sabido que quando o tumor da mama é diagnosticado em estádio inicial, a probabilidade de cura é cerca de 95%.

No âmbito do Dia Nacional de Prevenção do Cancro de Mama, que mensagem gostaria de deixar? Quais as principais recomendações?

O cancro da mama é o tumor maligno mais frequente nas mulheres, mas quando diagnosticados numa fase inicial a probabilidade de cura é elevadíssima.

Nesse sentido, é fundamental a sensibilização da população para o rastreio, autoexame da mama e exame médico.

A Mortalidade por cancro da mama tem baixado de modo consistente, atribuindo-se este fenómeno quer ao rastreio quer a melhoria do tratamento desta doença.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Dra. Marta Sousa