Saúde da Mulher

As mulheres passam um terço da sua vida em menopausa

Atualizado: 
06/03/2020 - 12:16
Assinalando o fim da fertilidade, a menopausa ainda é um bicho de sete cabeças para a maioria das mulheres. Secura vaginal, afrontamentos , alterações de humor são alguns dos sintomas que assustam aquelas que esperam a chegada desta etapa. De acordo com Paula Ramôa, especialista em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Lusíadas Porto, é preciso compreender a menopausa e vencê-la enganando-a. Saiba como neste artigo.
Valerá a pena vivê-la numa tristeza silenciosa e envergonhada, achando que os anos dourados da juventude terminaram, e por essa razão não são mais objeto de desejo?

Claro que não! Que tempo precioso desperdiçado com tontos pensamentos!

Lembrem-se de nomes que todas conhecem. Sandra Bulloch – 51 anos, Mónica Bellucci – 51 anos, Bruna Lombardi – 63 anos, Michelle Pfeiffer – 58 anos, Kim Bassinger – 62 anos, Sharon Stone – 58 anos e muitas outras…. Não são mulheres maravilhosas, lindas, cheias de projetos e de vida?

São pois! E sabem o segredo? Compreenderam que não podem simplesmente baixar os braços e, lentamente, sem se darem conta, perderem a qualidade de vida. Compreenderam que se podem intervir ativamente pela defesa da natureza, na eleição dos seus governantes, na evolução da ciência, no pensamento político do seu tempo, também podem percecionar a sua menopausa e aprender a atenuar as consequências da diminuição dos níveis hormonais.

As mulheres precisam compreender a menopausa e vencê-la enganando-a!

A menopausa é um evento único. Dá-se quando a mulher deixa de menstruar o que acontece, em média, entre os 48 e os 52 anos. Assinala o fim da fertilidade com diversas implicações biopsicossociais.

O alerta é dado pelas irregularidades menstruais e pelos sintomas vasomotores vulgarmente chamados de afrontamentos. Sentem-se vagas de calor ascendentes, que começam no peito e avançam em direcção à cabeça. O rosto fica avermelhado, como se escaldasse, o pescoço e a cabeça ficam suados. Duram apenas alguns segundos ou minutos, mas os afrontamentos constituem a face mais visível de que o relógio biológico anunciou a chegada da menopausa.

Esta pode constituir um estado mais ou menos perturbador na vida da mulher. Cada mulher vive a menopausa de uma forma diferente: algumas atravessam esta fase praticamente sem sintomas, enquanto outras a vivem de uma forma muito conturbada.

A estes sintomas juntam-se ainda suores nocturnos, dificuldade em adormecer e alterações no sono que poderão originar alterações de humor; sintomas suficientemente perturbadores associados às alterações emocionais relacionadas com a menopausa: a irritabilidade é a face mais notória desse estado de espírito num corpo a braços com a mudança.

Um pouco mais tarde surge a atrofia urogenital que se manifesta por secura vaginal e que se não for tratada leva à disfunção sexual, ao aparecimento de queixas urinárias de vários tipos assim como de infeções vaginais.

Os ovários passam a produzir menos estrogénio. O estrogénio é um vasodilatador, responsável pela irrigação sanguínea da vagina, por isso, quando os seus níveis começam a baixar, as paredes vaginais tornam-se mais finas, mais secas e menos flexíveis. Para além disso, verifica-se uma diminuição das secreções vaginais e, como consequência direta, uma menor lubrificação vaginal, irritação e até infeção.

Associado ainda a uma redução da libido, a secura vaginal pode afetar uma mulher fisicamente, mas também emocionalmente, uma vez que pode levá-la a sentir-se “velha” e “indesejada”.

Finalmente chegam as manifestações clínicas tardias e mais graves provenientes de alterações metabólicas, funcionais, psíquicas e cognitivas. Surgem os sintomas depressivos, a osteoporose, e a doença cardiovascular como a doença coronária e a HTA.

A doença cardiovascular é a principal causa de morte na mulher e a sua incidência aumenta mais rapidamente depois da menopausa devido à diminuição dos estrogénios circulantes e à falta dos efeitos favoráveis dos estrogénios sobre o metabolismo do colesterol. A diminuição de estrogénios provoca um aumento no chamado colesterol mau (lipoproteínas de baixa densidade – LDL) e uma diminuição do chamado colesterol bom (lipoproteínas de alta densidade – HDL).

Fatores concomitantes como a obesidade, a resistência à insulina e a dislipidemia, aumentam duas vezes o risco de enfarte do miocárdio e o risco de hipertensão arterial.

Então caras leitoras? Vão deixar a menopausa vencê-las?

Que tal começar hoje mesmo, no Dia Mundial da Menopausa, a apostar em medidas preventivas e no tratamento?

É preciso saber que os estrogénios são considerados potentes “ fatores de crescimento” ou seja, atuam nos tecidos orgânicos, estimulando o crescimento, a multiplicação celular e o metabolismo.

Alguns tecidos orgânicos como os que constituem o aparelho genital feminino, o osso, o músculo, o tecido vascular, o cérebro, a mama, o rim, a mucosa intestinal, o coração e outros, são muito ricos em recetores para estas hormonas ou seja, em linguagem vulgar, o seu normal funcionamento, depende da presença destas hormonas, que entretanto deixaram de existir em quantidades adequadas.

Quando falamos em tratamento, falamos em tratamento dos sintomas, mas o objetivo é restituir os níveis de estrogénios a números semelhantes aos da pré-menopausa.

Com a entrada na menopausa e com o intuito de prevenir a morbilidade, a doença e a incapacidade, é preciso proceder a adaptações quer de ordem física, quer psicológica e mesmo social.

Em conclusão, a abordagem da menopausa deve ser sempre multidisciplinar.

Qual o objetivo?

Manter nesta fase da vida o bem-estar físico, psíquico e emocional.

E de que forma?

Criando processos de adaptação através de:

1. Medicação (terapia hormonal de substituição)

2. Estilo de vida saudável com prática regular de exercício físico

3. Alimentação cuidada

Como última mensagem: SEJAM FELIZES!

Autor: 
Paula Ramôa - Ginecologista/Obstetra no Hospital Lusíadas Porto
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock