Hoje é Dia Internacional do Idoso

Mulheres idosas com VIH

Atualizado: 
01/10/2014 - 17:10
No dia em que se assinala o Dia Internacional do Idoso, damos particular atenção às mulheres idosas. Às mulheres idosas com VIH/Sida.

A Direcção-Geral da Saúde (DGS) definiu como prioritário, a nível nacional, a redução de novos casos por VIH em 25% e o número de novos casos e mortes por Sida em 50%. Objectivos que pretende concretizar até 2016. Para isso tem a ajuda de um conjunto de projectos que estão a ser desenvolvidos e que vão ao encontro das necessidades deste grupo específico – mulheres idosas portadoras do VIH.

Na opinião de Teresa Branco, especialista de Medicina Interna do Serviço de Infecciologia do Hospital Fernando Fonseca, a concretização da redução do número de novos casos e de mortes relacionadas com a Sida “assenta em princípios sólidos de diagnóstico precoce e acesso aos cuidados de saúde e tratamento da população infectada”.

Segundo dados fornecidos pela especialista, estima-se que em Portugal existam 42.500 casos de infecção pelo VIH, com cerca de 26% do sexo feminino. Ou seja, serão cerca de 11.300 mulheres infectadas. Porém, Teresa Branco deixa o alerta de que poderão existir muitas mulheres não diagnosticadas. Por isso, sublinha que “é importante pensar que o risco de se ter infectado pode ter sido no passado, podendo estar sem qualquer sintoma ou sinal durante muitos anos”

Sabendo que as mulheres são um dos grupos mais vulneráveis para o VIH e que existem cada vez mais mulheres entre os 60 e os 70 anos a viver com a doença, a DGS definiu como prioridade o reforço nas diferentes estratégias de intervenção com particular atenção aos grupos mais vulneráveis. Nesse sentido, conta com a ajuda de dois projectos - www.sheprograma.pt, http://talcomotu.org/ - direccionados para as mulheres com VIH que contemplam especificidades deste grupo.

“O SHE, programa de apoio à mulher que vive com o VIH, pretende criar competências nas mulheres infectadas que lhes permitam lidar com esta doença, através do apoio entre pares”, explica Teresa Branco, acrescentando que são mulheres infectadas que partilham experiências e conhecimentos entre si. A ponte entre as mulheres e o programa é feito “pelas equipas de saúde que as seguem nos hospitais, fazendo a ligação com o sistema de saúde”.

A realidade é cruel e trata-se de um problema de saúde pública, por isso não cabe apenas aos profissionais de saúde e às mulheres estarem atentos a esta questão. Conforme explica Teresa Branco, “é essencial o envolvimento de todos na divulgação das mensagens de prevenção. É preciso transformar o VIH/Sida numa doença igual a qualquer outra em que o tratamento da pessoa infectada é também uma maneira de reduzir a transmissão da doença”. E para se atingir esse patamar é necessário um esforço conjunto entre o sistema de saúde, a comunicação social, o meio laboral, mas também da própria família.

Para isso a especialista defende a criação e divulgação de campanhas de educação e prevenção especificamente dirigidas a mulheres mais idosas.

 

Porquê as mulheres?

O aumento de casos de VIH nas mulheres idosas, diz Teresa Branco, resulta em parte “do aumento da sobrevivência dos infectados com o desenvolvimento do tratamento anti-retroviral combinado que permite uma esperança de vida semelhante à da população em geral”. Mas para além da cronicidade da doença, “deve-se também a novas infecções que ocorrem numa população que ignora que está a assumir comportamentos de risco para a infecção VIH/Sida e as formas de se proteger”. Ou seja, uma vez que o perigo de uma gravidez não desejada já não se coloca, as mulheres e seus parceiros não se preocupam em usar o preservativo nas relações sexuais, quando está provado que o uso do preservativo é o melhor meio de evitar as doenças sexualmente transmissíveis.

Por outro lado, existem razões fisiológicas para que uma mulher de 60 anos se infecte mais facilmente do que uma de 40. “Depois da menopausa a falta de hormonas femininas torna o aparelho genital mais frágil e susceptível a lesões durante as relações sexuais o que facilita a transmissão do vírus”, revela a internista. Estes factores criam as condições para aumentar o risco de transmissão nestas idades.

Viver com VIH, homens ou mulheres, é viver diariamente com um estigma. Mesmo passados 30 anos após os primeiros casos de VIH/Sida e, apesar de uma forma em geral as mentalidades retrógradas estarem em minoria, e os preconceitos terem caído por terra, “as mulheres infectadas pelo VIH enfrentam uma doença que, sendo crónica e com tratamento muito eficaz, está ainda associada a um estigma particular devido à sua forma de transmissão: uma doença com conotações à dependência de drogas, à promiscuidade sexual e à homossexualidade”, explica Teresa Branco alertando que “é necessário que estas mulheres tenham particular atenção às doenças do envelhecimento e a manter um estilo da vida saudável”.

“A infecção pelo VIH é uma doença crónica mas é importante que se passe também a mensagem que o melhor é evitar a doença” finaliza a especialista.

 

Dados e factos

  • O sucesso dos medicamentos anti-retrovíricos e do tratamento da infecção pelo VIH, nas últimas três décadas, tornou possível às pessoas com a infecção viverem muito mais anos;
  • Pesquisas realizadas um pouco por todo o mundo mostram que, até 2015, pelo menos metade de todas as pessoas que vivem com o VIH, terão mais de 50 anos de idade;
  • Em Portugal, embora a infecção seja maioritariamente masculina, nos últimos anos o número de mulheres infectadas tem vindo a crescer, neste momento 30% dos casos, em Portugal, são mulheres, mais de 10 mil;
  • De um total de cerca de 35 milhões de pessoas a viver com VIH, estima-se que aproximadamente 4 milhões de pessoas têm idade superior ou igual a 50 anos;
  • Segundo o UNAIDS 2013 (relatório da ONU sobre o VIH), nos países com rendimento médio-baixo existem cerca de 3 milhões de idosos com VIH, enquanto nos países com rendimentos mais elevados cerca de um terço dos adultos com mais de 50 anos vivem com VIH.
Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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