Uma realidade

Infeção Associada aos Cuidados de Saúde

Atualizado: 
05/05/2015 - 15:15
As Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde têm um elevado impacto negativo em doentes hospitalizados e na saúde pública em geral. Neste sentido, estas são para os profissionais de saúde uma realidade para a qual cada vez mais devem dirigir o olhar.

Primordialmente as Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS) eram definidas como uma infeção hospitalar ou infeção nosocomial, pois englobavam apenas as infeções adquiridas em meio hospitalar. Atualmente, o termo IACS refere-se não só a todas as infeções adquiridas em meio hospitalar, como também a todas as infeções que surgem em consequência de prestação de cuidados de saúde, independentemente do local onde os doentes se encontram (centros de saúde, lares, unidades de cuidados continuados …) (Franco, 2010). 

Ainda de acordo com o mesmo autor, este refere que a IACS ocorre em todo o mundo, atingindo tantos países desenvolvidos como países em desenvolvimento. Assim, “o impacto das IACS é enorme, com centenas de milhares de doentes afetados anualmente” (Franco, 2010, p.1).

Na atualidade, a Direção Geral da Saúde (2007, p.4), define IACS como “uma infeção adquirida pelos doentes em consequência dos cuidados e procedimentos de saúde prestados, e que pode também afetar os profissionais de saúde durante o exercício da sua atividade”. Como consequência, está o aparecimento de infeções que se encontra ligado aos cuidados de saúde que são prestados, sendo o comportamento humano um fator de risco (profissionais de saúde, doentes e visitas).

Em Portugal, no Inquérito Nacional de Prevalência de Infeção realizado em Março de 2009 pelo Programa Nacional de Controlo de Infeção da Direção Geral de Saúde (PNCI-DGS), no âmbito da Campanha de Organização Mundial de Saúde “Práticas Simples Salvam Vidas” foram estudados 21.459 doentes internados em 144 hospitais tendo-se observado uma prevalência de 11,03% IACS em 9,8% doentes hospitalizados, estimando-se que as taxas de incidência são geralmente metade das taxas de prevalência observadas. Como tal, pelo menos 5 em cada 100 doentes tratados nos hospitais portugueses poderão ter adquirido uma infeção em consequência do seu internamento (INSRJ, 2010).

50 mil mortes por ano na Europa

As infeções associadas aos cuidados de saúde são a maior causa de mortalidade, morbilidade e custos elevados nos cuidados de saúde. Sendo que, de acordo com os mesmos autores, na Europa são contraídas 5 milhões de IACS/ano, correspondendo a 50.000 mortes (1%) que contribuem para a morte de 135.000 pessoas correspondendo a 2.7% (Biomérieux, 2007), citado por Chaves & Quadrado, 2009, p.23). 

Segundo a DGS (2007, p. 4), esta refere que “a Organização Mundial de Saúde reconhece que as IACS dificultam o tratamento adequado de doentes em todo o mundo, sendo também reconhecida como uma importante causa de morbilidade e mortalidade, bem como do consumo acrescido de recursos, quer hospitalares, quer da comunidade”.

As causas das infeções

A maioria das infeções associadas a cuidados de saúde ocorrem devido à presença de bactérias, vírus, fungos e parasitas. Porém a maioria das infeções são causadas por bactérias e vírus que se encontram, tanto nas unidades de saúde, como nos próprios doentes (pele, vias respiratórias e trato gastrointestinal). As infeções podem ser causadas por microrganismos que fazem parte da flora da pele e mucosas do doente (endógenas), como por microrganismos transmitidos por outro doente ou do próprio meio ambiente (exógenas), em consequência disto são os próprios profissionais de saúde que podem funcionar como meio de transmissão de microrganismos (Franco, 2010).

As infeções associadas aos cuidados de saúde estão associadas a técnicas invasivas e que na maioria são realizadas por profissionais de enfermagem. Assim, estes, podem ser agentes causadores de infeções e devem tomar as medidas adequadas, como uma constante atualização na temática (através de estudos/investigações, entre outros), assumindo assim um papel importante na prevenção da infeção.

De acordo com o Center of Disease Control (CDC), em 1988 foram implementadas as Precauções Básicas da qual fazem parte todos os princípios essenciais de controlo de infeção que são obrigatórios em todos os estabelecimentos de prestação de cuidados de saúde. Estas precauções aplicam-se a todos os utentes que recorrem aos serviços de saúde, hospitais, centros de saúde, ou que se encontram institucionalizados em lares, com o objetivo de prevenir e diminuir o risco de infeção em doentes e profissionais de saúde (Franco, 2010).

As estratégias de prevenção das IACS que são baseadas nas Precauções Básicas, devem constar de:

  • Higiene das mãos;
  • Boas práticas em procedimentos invasivos – uso de técnica assética;
  • Limpeza, desinfeção e esterilização dos dispositivos médicos;
  • Uso racional de antimicrobianos;
  • Administração segura de injetáveis;
  • Descontaminação dos equipamentos;
  • Higiene ambiental dos serviços de saúde;
  • Uso racional do equipamento de proteção individual;
  • Uso correto e rejeição de cortantes ou perfurantes;
  • Encaminhamento correto após exposição;
  • Correto programa de vacinação;
  • Boas práticas no transporte de espécimes;
  • Precauções em doentes com infeções epidemiologicamente importantes;
  • Isolamento e colocação de doentes colonizados/infetados conforme a via de transmissão;
  • Higiene respiratória.

A prevenção é sem dúvida a melhor forma de combate à Infeção. Cabe aos serviços proporcionar condições (recursos humanos e materiais), para uma prática segura, sempre com o objetivo de prevenir e reduzir as IACS na prestação de cuidados de saúde de qualidade ao utente.

 

Bibliografia

Chaves, M. & Quadrado, C. (2009). O enfermeiro na prevenção das infeções urinária e respiratória associada aos cuidados de saúde – Da Opinião à Ação. Trabalho de Investigação Apresentado na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, II Curso de Pós-Licenciatura em Enfermagem Médico-Cirúrgica. Coimbra.

DGS (2007). Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infeção Associada aos Cuidados de Saúde. Disponível em: http://www.dgs.pt/. Acedido em 30 de Agosto de 2012

Franco, L. (2010). Infeção Associada aos Cuidados de Saúde. Disponível em: http://www.chbalgarvio.min-saude.pt/NR/rdonlyres/B85D81E0-0C79-426E-9930.... Acedido em 15 de Setembro de 2012.

Instituto Nacional Saúde Ricardo Jorge (2010). Relatório Inquérito de Prevalência de Infeção 2010. Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infeção Associada aos Cuidados de Saúde.

 

 

Joana Margarida da Costa Taborda – Enfermeira a desempenhar funções no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra no Serviço de Urgência. Mestre em Enfermagem – Área de Gestão de Unidades de Cuidados, aluna da Pós-Especialidade em Enfermagem Médico-Cirúrgica, Pós-Graduação em Trauma, Autora da Dissertação de Mestrado “Cuidados de Enfermagem na Manipulação de Cateteres Urinários - Impacto no Perfil Microbiológico”.

 

José Filomeno A. Taborda da Costa – Enfermeiro-Chefe no Centro de Saúde de Miranda do Corvo, Enfermeiro Especialista na Área de Reabilitação, Elemento da Direção de Enfermagem do ACES PIN, Enfermeiro do Comité de Peritos do Pré-Hospitalar da Ordem dos Enfermeiros, Elemento da Comissão de Qualidade e Segurança do Programa de Prevenção e Controle de Infeções e Resistências aos Antimicrobianos (PCIRA), Elemento da Comissão de Controle e Infeção, Elemento Responsável pela Aplicação dos Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem no ACES PIN, Representante do Município de Miranda do Corvo no Conselho da Comunidade no ACES PIN, Deputado da Assembleia Municipal no Município de Miranda do Corvo

 

 

Autor: 
Joana Margarida da Costa Taborda e José Filomeno A. Taborda da Costa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
Foto: 
Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros