Consumo de medicamentos tem estado a aumentar

Impacto socioeconómico da Diabetes

Atualizado: 
02/07/2018 - 11:13
Em Portugal, o tratamento da Diabetes e das suas complicações representa cerca de 10% da despesa em saúde, o que corresponde a cerca de 1% do PIB Nacional.

A Diabetes, uma doença crónica e progressiva, pode levar a complicações que se dividem em microvasculares e macrovasculares. As complicações microvasculares são: retinopatia diabética, que pode progredir até cegueira; nefropatia diabética, que pode levar à insuficiência renal com necessidade de diálise ou transplante; e a neuropatia diabética, que causa muitas vezes úlceras na perna e no pé que podem levar à necessidade de amputação. As complicações macrovasculares são as que podem levar ao enfarte agudo do miocárdio (EAM) e ao acidente vascular cerebral (AVC).

Estas complicações são responsáveis pela mortalidade e morbilidade da doença, que se traduz num forte impacto socioeconómico em todo o Mundo. Na maioria dos países ocidentais, por exemplo, a Diabetes é a principal causa de amputações não traumáticas, de cegueira e de doença renal terminal e 8 em cada 10 doentes com Diabetes morrem por doença cardiovascular.

Segundo os dados do Relatório do Observatório Nacional da Diabetes  "Diabetes Factos e Números - o ano de 2015" e do “Programa Nacional para a Diabetes 2017”, esta doença foi responsável por mais de 4% das mortes das mulheres e mais de 3% das mortes nos homens, ou seja, por ano morrem cerca de 2.200-2.500 mulheres e 1.600-1.900 homens por Diabetes em Portugal. O número médio de anos potenciais de vida perdidos (APVP) por diabetes em 2015 foi, no sexo masculino, de 8,2 APVP/óbito e no sexo feminino, de 8,0 APVP/óbito.

Em relação aos internamentos, a Diabetes foi o diagnóstico principal em 25.766 utentes e um diagnóstico associado em 162.348 casos. Estes números representam 16% de todos os utentes saídos dos Hospitais do SNS em 2015 (excluindo internamentos com duração <24 h). As principais causas de internamento foram: doenças do aparelho circulatório, em 26% dos casos; doenças do aparelho respiratório em 15%; e doenças do aparelho digestivo em 10%.

Particularizando os casos em que a Diabetes foi o diagnóstico principal, as alterações circulatórias periféricas representaram 24% dos casos. Importa salientar que, incluindo os internamentos <24 horas, as manifestações oftálmicas assumem uma importância preponderante, pois representam 71% dos casos.

A duração média dos internamentos associados a descompensação ou complicação da Diabetes foi 11,6 dias, superior à duração média de todos os internamentos em 2015 (7,8 dias).

A letalidade intra-hospitalar (Sistema Nacional de Saúde) da Diabetes foi 25,9%, ou seja mais de 1/4 das pessoas que morrem nos hospitais em 2015 tinham esta doença. Em termos de custos, as hospitalizações em que o diagnóstico principal foi Diabetes foram responsáveis por um encargo de 40,4 milhões de euros, valor que cresce para 434,6 milhões de euros se considerarmos todas as hospitalizações com Diabetes.

Também ao nível dos Cuidados de Saúde Primários é possível observar o “peso” da Diabetes. Em 2015, estavam registados 846.955 utentes com Diabetes na Rede de Cuidados de Saúde Primários do SNS (num total de 12.470.910 utentes registados). O número total de utentes com Diabetes que utilizou os Serviços (pelo menos uma consulta) foi 681.685, tendo sido realizadas 2.109.496 consultas de Diabetes. Verificou-se que as Consultas de Diabetes representaram 7.3% das consultas nos Cuidados de Saúde Primários e que, em média, os utentes com Diabetes tiveram 3,1 consultas/ano.

O consumo de medicamentos para a Diabetes tem estado a aumentar em toda a Europa e Portugal não é excepção. Em 2000, a dose diária definida por 1000 habitantes por dia de antidiabéticos não insulínicos e insulinas era de 50,6 e em 2015 foi 67,1, o que corresponde a um aumento de 33%. Algumas das razões apontadas para este incremento são o aumento da prevalência, o aumento do número e da proporção de pessoas tratadas e o aumento das doses médias usadas. Em termos absolutos, em 2015 foram vendidas 10,3 milhões de embalagens de antidiabéticos não insulínicos e insulinas, o que corresponde a 22 milhões de euros de encargos diretos para o utente e 238,8 milhões de euros para o SNS. Especificando os dois grupos, antidiabéticos não insulínicos e insulinas, foram vendidas 8,9 milhões de embalagens (196,6 milhões de euros) de antidiabéticos não insulínicos e 1,4 milhões de embalagens (64,3 milhões de euros) de insulina.

Em Portugal, o tratamento da Diabetes e das suas complicações representa cerca de 10% da despesa em saúde o que corresponde a cerca de 1% do PIB Nacional. Com o envelhecimento da população e aumento da prevalência da doença, nascem cada vez mais problemáticas relacionadas com a realidade social do nosso país que, muito além de números, afetam os portugueses e as suas famílias. É, portanto, urgente atuar na prevenção, diagnóstico precoce e seguimento ajustado da doença.

*este artigo não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico, por opção do autor

Autor: 
Dra. Margarida Vieira - Endocrinologista Hospital Lusíadas Porto
Nota: 
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