As mais comuns

Doenças durante a gravidez

Atualizado: 
10/04/2014 - 16:17
Durante a gravidez são muitas as alterações a que a mulher está sujeita, seja a nível físico e/ou psíquico. Fique com a ideia das doenças mais comuns durante esta fase da sua vida.
Doenças durante a gravidez

Dor nas costas
O desenvolvimento do bebé pode provocar pressão sobre as articulações das costas e da pélvis, o que pode causar dor nas costas. Para prevenir este problema a grávida deverá:
• Evitar levantar objectos pesados;
• Flexionar os joelhos e manter as costas direitas quando levantar algo do chão;
• Usar sapatos baixos, pois permitem que o peso seja distribuído uniformemente;
• Sentar-se com as costas direitas e bem apoiadas.

 

Obstipação
A obstipação ocorre devido às alterações hormonais que ocorrem no organismo da grávida. Podem adoptar-se algumas mediadas preventivas, a grávida deverá:
• Deverá aumentar a ingestão de alimentos ricos em fibras, como pães integrais, cereais integrais, frutas e verduras, e leguminosas como feijões e lentilhas;
• Deverá praticar exercício regular;
• Deverá beber muita água.

Dores de cabeça
Muitas mulheres têm dores de cabeça com maior frequência durante a gravidez. Para aliviar dores de cabeça a grávida deverá:
• Descansar regularmente;
• O paracetamol na dose recomendada é considerado seguro.

Prurido
O prurido leve é comum na gravidez devido ao maior fornecimento de sangue à pele. A grávida pode evitar o prurido vestindo roupas soltas e evitando materiais sintéticos.

Náuseas e enjoo matinal
A náusea é muito frequente nas primeiras semanas de gravidez. As alterações hormonais nos primeiros três meses são provavelmente a causa. Numa pequena minoria das grávidas estes sintomas levam à desidratação e perda de peso que necessitem de hospitalização.

O início da náusea acontece quatro semanas após a última menstruação, na maioria dos casos. Sessenta por cento dos casos é resolvido no final do primeiro trimestre. As náuseas e vómitos são menos comuns em mulheres mais velhas, multíparas e nas fumadoras, o que tem sido atribuído ao menor volume placentário dessas mulheres.

O curso clínico de náuseas e vómitos durante a gravidez está estreitamente relacionado com o nível de gonadotrofina corionica humana (hCG). Pensa-se que a hCG pode estimular a produção de estrogénio pelos ovários, o estrogénio é conhecido por aumentar as náuseas e vómitos.

Outra teoria é que a deficiência de vitamina B pode contribuir para o aumento da incidência de náuseas e vómitos. Embora tenha sido sugerido que a náusea e o vómito podem ser causados por factores psicológicos, não há dados que suportem esta teoria.

Para evitar este problema deve:
• A mulher grávida deve levantar-se lentamente. Se possível, deve comer algo como torrada ou um biscoito simples, antes de se levantar;
• Deve comer pequenas quantidades de alimentos, muitas vezes;
• Deve beber líquidos em abundância.

Indigestão e azia
A indigestão é causada pelas alterações hormonais que ocorrem durante gravidez e pelo crescimento do útero que pressiona o estômago. A azia provoca um desconforto maior que a indigestão. Surge como uma sensação de queimadura no peito.

Para evitar indigestão a grávida deverá:
• Deverá fazer refeições menores com mais frequência;
• Deverá evitar fritos ou alimentos muito condimentados.

Para evitar a azia a grávida deverá:
• A azia surge muitas vezes na posição horizontal. A mulher grávida deve dormir bem apoiada com almofadas;
• Deverá evitar comer e beber algumas horas antes de ir para a cama.

Anemia
De entre as doenças associadas à gravidez, a anemia é de longe a mais frequente. Mesmo durante a gravidez não complicada, surge uma diminuição da concentração de hemoglobina.

Em todo o mundo, a ferropenia é a causa mais frequente de anemia na grávida, particularmente em casos de gravidez múltipla, multíparas, adolescentes, ou quando intervalos intergenésicos interiores a 2 anos. O rastreio da anemia na grávida deve ser efectuado na 1.ª consulta e na 28.ª semana de gestação.

Infecções urinárias
A infecção urinária constitui a causa mais frequente de infecção bacteriana com a prevalência de 5 a 10 por cento. Ela reagrupa 3 entidades clínicas distintas: a bacteriúrica (prevalência 4 a 10 por cento), a cistite (1 a 4 por cento) e a pielonefrite aguda (1 a 2 por cento).

A bacteriúrica assintomática, se não tratada, evolui em cerca de 20 a 30 por cento para pielonefrite aguda. O seu eficaz tratamento diminui este risco para 1 a 2 por cento. Além disso, a bacteriúrica assintomática é uma das causas de parto pré-termo e de recém-nascido de baixo peso para a idade gestacional. Dada a alta prevalência desta doença na população, bem como as suas implicações clínicas, nomeadamente o aumento da morbilidade materna e parental, torna-se premente o seu rastreio com consequente eficaz e atempado tratamento.

Profilaxia das infecções urinárias
As infecções urinárias constituem um dos problemas médicos mais prevalentes e as mulheres representam aproximadamente 80 a 90 por cento de todos os casos. O aparelho urinário durante a gravidez sofre profundas alterações fisiológicas e anatómicas que propiciam o desenvolvimento de infecções. Assim, torna-se relevante identificar grupos de maior risco, permitindo a adopção de medidas profiláticas adequadas, que diminuam a incidência de infecções urinárias nessa população.

A profilaxia baseia-se fundamentalmente na instituição de antibioterapia empírica de baixa dosagem e de longa duração, que permita uma esterilização da urina com alteração mínima da microflora vaginal. As seguintes medidas não têm evidência científica comprovada: hábitos e higiene, aumento da ingestão de líquidos, micções frequentes e micção pós-coital.

Outras infecções na gravidez
As infecções na gravidez são as principais causas de morbilidade e mortalidade materna e fetal. Podem ocorrer infecções no recém-nascido por via transplacentária, perinatal (de secreção vaginal ou sangue), ou pós-natal (a partir de leite materno ou de outras fontes). As manifestações clínicas da infecção neonatal variam de acordo com o agente infeccioso e idade gestacional na exposição. O risco de infecção é geralmente inversamente proporcional à idade gestacional de aquisição.

As infecções mais frequentemente associadas a efeitos teratogenicos são a toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus. Outros vírus já conhecidos por causar infecções congénitas incluem o parvovírus B19 (B19V), vírus varicela-zoster (VZV), vírus do Nilo Ocidental, o vírus do sarampo, enterovírus, adenovírus, vírus da imunodeficiência humana. Igualmente importante é o vírus da hepatite E por causa da alta taxa de mortalidade associada à infecção em mulheres grávidas. Mundialmente, a infecção por VIH congénita é hoje uma das principais causas da mortalidade infantil Com preocupações emergentes decorrentes da possibilidade de uma pandemia de gripe, a atenção também já foi direccionada para os efeitos da gripe em mulheres grávidas.

Conhecidas as repercussões fetais de algumas infecções durante a gravidez, é de todo o interesse sistematizar o rastreio de infecções a efectuar, quer à grávida, quer à mulher que pretende engravidar.

Algumas medidas que irão reduzir o risco de infecção na gravidez possíveis de serem veiculadas nas farmácias:

1. Lavar as mãos frequentemente com água e sabão, especialmente:
• Quando usar casas de banho públicas;
• Se tocar em carne crua, ovos crus ou vegetais não lavados;
• Quando preparar alimentos;
• Após actividades de jardinagem ou se tocar no solo;
• Após o tratamento de animais de estimação;
• Quando estiver em contacto com pessoas doentes;
• Após cuidar e brincar com as crianças;
• Após trocar fraldas;
• Se o sabão e água corrente não estiverem disponíveis, a grávida pode usar um gel à base de álcool.
2. Tentar não partilhar garfos, copos e alimentos com crianças pequenas. Lavar frequentemente as mãos, quando em contacto com crianças. A saliva e urina podem conter um vírus (ex. CMV), provavelmente inofensivo para eles, mas perigoso para a grávida;
3. Cozinhar bem a carne. As carnes mal cozidas e as carnes processadas podem conter bactérias nocivas para a grávida (ex. Listeria);
4. Evitar leite não pasteurizado e alimentos feitos a partir dele. Não comer queijos macios como feta, brie e queijo fresco, a ser não que tenham no rótulo a indicação de pasteurizados. Produtos não pasteurizados podem conter bactérias nocivas (ex. Listeria);
5. Evitar contacto com os detritos de gatos, podem conter um parasita prejudicial (ex. toxoplasmose);
6. Fazer o teste de doenças sexualmente transmissíveis, como VIH e hepatite B;
7. Evitar contacto com fontes de infecções, como a varicela ou rubéola;
8. Perguntar ao médico assistente sobre o rastreio de estreptococos do grupo B.

Infecção por toxoplasma gondii
A toxoplasmose é uma infecção causada por um parasita. Se uma mulher contrai toxoplasmose grávida, há 40 por cento de hipótese de o feto ser infectado. O parasita da toxoplasmose pode ser encontrado em fezes de gatos, solos e em carne infectada. Os gatos podem contrair toxoplasmose após comerem aves infectadas ou roedores, e a infecção pode transmitir-se aos humanos através do contacto directo com fezes de gato ou com solos.

Se a infecção ocorrer no início da gravidez a probabilidade de o feto sofrer consequências graves na sua saúde, que podem incluir cegueira, surdez, convulsões e atraso mental, são superiores. Muitas vezes, as crianças infectadas parecem normais ao nascimento, mas desenvolvem sintomas meses ou anos depois.

A toxoplasmose é facilmente evitada tomando algumas precauções simples, como evitar o contacto com a "areia” dos gatos, cozinhar bem as carnes e lavar as frutas e legumes antes de comer, usar luvas enquanto se faz jardinagem e lavar as mãos.

O tratamento da infecção pelo Taxoplasma Gondii continua a ser a única arma disponível para evitar a afecção fetal, uma vez confirmada a infecção através do doseamento do PCR no líquido amniótico (LA).

Infecção materna com varicela
O vírus da varicela acarreta riscos para a mãe e para o feto durante a gravidez. A varicela primária durante a gravidez é considerada uma emergência médica. A síndrome da varicela congénita resulta em aborto espontâneo, coriorretinite, catarata, atrofia dos membros, atrofia cortical cerebral, e/ou deficiência neurológica. O aborto espontâneo tem sido relatado em 3 a 8 por cento das infecções no primeiro trimestre.

A aquisição de infecção pela mãe no período perinatal, especificamente cinco dias antes do parto ou dois dias depois, representa um risco de varicela neonatal grave, o que acarreta uma mortalidade de 30 por cento. Deve ser dada particular atenção à infecção no 1.º trimestre (pelo risco de síndrome de varicela congénita) e no final do 3.º trimestre da gravidez (por risco de infecção do recém-nascido). Não parece haver qualquer risco para o feto quando a infecção materna ocorre durante o 2.º trimestre da gravidez.

Infecção congénita por citomegalovírus (CMV)
A seropositividade para CMV aumenta com a idade. A localização geográfica, classe socioeconómica, e exposição no trabalho são outros factores que influenciam o risco de infecção. A transmissão de CMV requer contacto íntimo através da saliva, urina e/ou outros fluidos corporais. As possíveis vias de transmissão incluem o contacto sexual, o transplante de órgãos, transmissão transplacentária, a transmissão através do leite materno, e transfusão de sangue (raro).

A reactivação, a infecção primária ou infecção recorrente por CMV pode ocorrer durante a gravidez e pode levar a infecção congénita por CMV. A infecção transplacentária pode resultar em restrição de crescimento intra-uterino, perda auditiva neurossensorial, calcificações intracranianas, microcefalia, hidrocefalia, hepatoesplenomegalia, retardo no desenvolvimento psicomotor e/ou atrofia óptica. A transmissão vertical de CMV pode ocorrer em qualquer fase da gravidez, no entanto, as sequelas graves são mais comuns ocorrem se a infecção acontecer no primeiro trimestre, enquanto o risco global de infecção é maior no terceiro trimestre. O risco de transmissão para o feto na infecção primária é de 30 a 40 por cento.

A infecção por CMV é a infecção congénita mais frequente, com mortalidade e morbilidade significativas. É a principal causa infecciosa de atraso mental na infância. A prevalência de infecção congénita na população é cerca de 0,2-2,2 por cento. A infecção ocorre em cerca de 1-2 por cento das grávidas e a infecção ocorre em cerca de 1-3 por cento, mas a primeira apresenta uma probabilidade de infecção congénita superior (30-50 por cento versus 0,2-2 por cento).

Rastreio e tratamento da sífilis
A sífilis é uma doença sistémica causada por Treponema pallidum, na maioria dos casos de transmissão sexual. O risco de contágio aumenta durante a gravidez, sendo este período um momento ideal para a realização do seu rastreio. A doença tem um período de incubação entre os 14 e os 30 dias.

Prevenção da transmissão vertical da infecção por HIV
Conhecida que é a transmissão vertical do vírus da imunodeficiência humana, está recomendado o rastreio universal desta doença durante a gravidez. A orientação clínica das grávidas seropositivas difere de acordo com a carga vírica (VL) e com a quantidade de linfócitos CD4 em circulação. Com medidas adequadas de prevenção é possível diminuir a taxa de transmissão vertical para valores inferiores a 1 por cento.

Diabetes gestacional
A insulino-resistência própria da segunda metade da gravidez pode desencadear em certas grávidas, tidas até então como normais, o aparecimento de formas variáveis de diminuição da tolerância oral à glicose denominadas de diabetes gestacional. Para a sua identificação foram implementados programas de rastreio e diagnóstico para posterior, adequada e atempada vigilância/terapêutica.

Doenças hipertensivas na gravidez
A hipertensão arterial (HTA) crónica na gravidez tem uma prevalência de 1-5 por cento estando associada ao aumento da morbi-mortalidade materno-fetal. As complicações maternas mais frequentes são a pré-eclampsia (25 por cento) e o descolamento prematuro de placenta normalmente inserida (2,3 por cento), estando o seu risco substancialmente aumentado nos casos de HTA crónica de alto risco. As complicações fetais e neonatais (morte fetal e perinatal, prematuridade, restrição de crescimento fetal) estão intimamente relacionadas com as complicações maternas. Na maioria das situações, a HTA crónica é de baixo risco e a evolução materno-fetal é idêntica à da população em geral.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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