Saúde

Doença Renal: sintomas podem passar despercebidos

Atualizado: 
14/03/2019 - 10:32
Todos os anos surgem, em Portugal, cerca de 2 mil novos casos de insuficiência renal crónica. Tratando-se de uma doença “muda”, cujos sintomas iniciais podem passar despercebidos durante décadas de vida, é essencial conhecer a doença e aprender a preveni-la.

Caracterizada por uma lesão renal que pode conduzir à perda irreversível da função dos rins, a Doença Renal afeta cerca de 8% da população portuguesa. E, ainda que a sua incidência seja maior nos adultos e idosos, esta patologia pode também afetar crianças, “podendo, inclusivamente, ser diagnosticada «in útero» durante a gestação, quando se documenta malformações da árvore urinária”. Nestes casos, as infeções associadas a estas anomalias da estrutura do aparelho urinário são a principal causa da doença na infância.

Na população adulta, a patologia está essencialmente associada à diabetes, obesidade e hipertensão. “No seu conjunto, estes três quadros cada vez mais prevalentes na população em geral (inclusive desde a infância/adolescência) representam cerca de 75% das causas da insuficiência renal crónica”, começa por explicar o presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, Aníbal Ferreira.

Por outro lado, o especialista salienta ainda que o aumento significativo da insuficiência renal crónica espelha o aumento da esperança média de vida “nas sociedades com cuidados médicos mais desenvolvidos”. “Tal como vemos atualmente muito mais quadros de demência, porque a população tem muito maior longevidade – e importa salientar que Portugal foi o país europeu como maior aumento da esperança médica de vida nas últimas duas décadas -, pelo mesmo motivo se observa um incremento significativo da insuficiência renal crónica”, afirma.

Tratando-se de uma patologia que raramente apresenta sintomas nas suas fases iniciais, o seu diagnóstico chega quase sempre tarde demais.

“A insuficiência renal crónica é, efetivamente, uma doença muda e que passa totalmente despercebida nas suas fases iniciais, as quais se podem prolongar por décadas de vida”, refere o especialista. Sintomas como a eliminação de espuma na urina – “como se tivesse sabão no recipiente” -, urina com sangue, diminuição significativa do volume de urina e edema – “das pernas, face ou mesmo generalizados”, devem ser sinais de alerta e o melhor é mesmo procurar um Nefrologista.

“No entanto, estes sintomas são raros e o mais relevante é jogar em antecipação e fazer rastreios, pelo menos anuais, da função renal, através de análises ao sangue e à urina”, aconselha Aníbal Ferreira.  

Diabéticos e hipertenso devem reforçar os cuidados. “De um modo geral, todos os doentes hipertensos e/ou diabéticos devem fazer estes rastreios ainda com maior frequência, visto que nestes contextos se pode observar um agravamento mais rápido da função renal”, explica o presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia.

O diagnóstico é simples e é obtido pela análise de valores de substâncias eliminadas pelos rins, como a ureia e a creatinina. “Também as análises à urina, como a quantificação de albumina e proteínas, podem ser de grande utilidade, sobretudo nos doentes diabéticos”, acrescenta ainda o especialista.

Já o tratamento depende do estadiamento da doença, no entanto, o médico destaca três opções terapêuticas, em caso de insuficiência renal crónica avançada, em que o doente já perdeu a função dos rins: “a transplantação renal que, no caso de existir um dador vivo disponível é muito rápida; a hemodiálise feita através da punção de uma veio do doente, habitualmente três vezes por semana durante quatro horas, cada sessão; e a diálise peritoneal feita pelo doente, no seu domicílio, através de um cateter implantado no abdómen”.

Sendo a obesidade, a hipertensão e a diabetes os principais fatores de risco para a doença renal crónica, Aníbal Ferreira reforça a necessidade de manter um regime alimentar saudável, com menos açúcar e menos gordura, e uma correta hidratação, ingerindo pelo menos 1,5 l de água por dia.

Em matéria de prevenção, para além dos já mencionados, e que incluem a realização de rastreios anuais, o presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, acrescenta a importância de “controlar a glicemia e a tensão arterial”. “Conseguir ter um peso equilibrado, estável e próximo do ideal para a altura e género”, acrescentando que a prática de exercício físico e a eliminação do tabagismo são medidas essenciais para o combate à doença.

Aprender a prevenir a Doença Renal 

De acordo com o enfermeiro, Bruno Costa Pinto, “Portugal, no panorama internacional, no que toca à taxa de prevalência de pessoas com Doença Renal Crónica – que traduz o número de pessoas/por milhão de habitantes com esta doença tratadas no país -, não fica muito bem na fotografia”. É que, de acordo com a base de dados americana USRDS (United States Renal Data System), em 2015, Portugal apenas era ultrapassado por quatro países, “com uma estabilização do número de pessoas que anualmente inicia a diálise.

Mas, nem tudo é mau! Tal como refere o especialista, “o que fazemos, fazemos bem e podemos afirmar que Portugal tem uma taxa de mortalidade anual das pessoas em diálise das melhores ao nível mundial, assim como um dos melhores programas de transplante renal”.

Neste contexto, a prevenção assume-se como essencial. E para isso é necessário que as pessoas conheçam a patologia.

Com o objetivo de dar a conhecer os fatores de risco e como este podem ser evitados, a ANADIAL - Associação Nacional de Centros de Diálise desenvolveu uma campanha que pretende dotar o cidadão comum de conhecimentos que permitam, desde cedo, adotar comportamentos preventivos. Para tal, a campanha “A vitória contra a doença renal começa na prevenção” tem percorrido escolas e universidades sénior, de norte a sul do país, com o objetivo de “criar uma cultura pública de consciencialização sobre a problemática da Doença Renal Crónica (…) sendo o público-alvo não só as pessoas com 65 ou mais anos, mas sobretudo os jovens, sensibilizando-os a adotar esses comportamentos saudáveis e abandonar comportamentos de risco”.

Bruno Costa Pinto é um dos técnicos de saúde que tem levado informação sobre o tema a vários pontos do país e que tem constando o quão pouco os portugueses estão familiarizados com a doença

“No decurso desta campanha, parece-nos logo à partida que esta questão é pouco conhecida na sociedade, nomeadamente, o que é a Doença Renal crónica e o que é a Diálise. Ambas são temáticas pouco conhecidas”, afiança destacando que as principais dúvidas que surgem nestas ações prendem-se ou já “com cenários em que familiares já se encontram em diálise” ou sobre o que causa as pedras nos rins. Embora esta última não esteja diretamente dentro do âmbito desta campanha, o enfermeiro explica que uma vez que “ultima análise, aquilo que denominamos por lesão renal por hidronefrose – ou seja, uma obstrução da uretra ou dos uréteres por um cálculo renal – pode levar a lesão renal irreversível e consequente entrada em programa regular de diálise”, permite que se aborde a importância de ter em conta uma alimentação saudável e correta hidratação em matéria de prevenção.

Em Portugal, estima-se que existam cerca de 800 mil doentes renais. A maioria dos casos poderia ser prevenida.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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