Entrevista

Descarte de medicamentos: retoma nas farmácias tem crescido mas ainda não é suficiente

Atualizado: 
11/06/2018 - 15:00
Só no último ano foram recolhidas mais de 1000 toneladas de resíduos de medicamentos. Um número bastante positivo tendo em conta que alguns destes resíduos são potencialmente perigosos para a saúde e meio ambiente. No entanto, em entrevista ao Altas da Saúde, Luís Figueiredo, diretor-geral da VALORMED, admite que o “combate” ao desperdício tem de continuar.

Qual a importância da recolha de resíduos de medicamentos? E onde nos podemos dirigir para deixar estes produtos?

A natureza química dos medicamentos ou dos seus restos e, por conseguinte, os danos que podem vir a causar no ambiente, se forem deitados no lixo comum e ecopontos ou despejados através dos esgotos, justificam que a sua entrega seja realizada num local protegido para serem encaminhados para tratamento adequado. As farmácias comunitárias são o local onde podem ser entregues e depositados os resíduos de medicamentos fora de uso ou de prazo de validade, em contentores aí existentes, sendo que a quase totalidade das cerca de 2.900 licenciadas em Portugal continental e ilhas são aderentes ao sistema VALORMED.

Que materiais podem ser entregues nas farmácias? E o que não devemos entregar?          

Na farmácia devem ser entregues os medicamentos de uso humano e veterinário que foram aí comprados e que já não necessitamos ou estão fora de prazo e todos os materiais usados no acondicionamento e embalagem dos produtos adquiridos (cartonagens vazias, folhetos informativos, frascos, blisters, ampolas, bisnagas, etc.). De igual modo, também os acessórios utilizados para facilitar a sua administração (colheres, copos, seringas doseadoras, conta gotas, cânulas, etc.), podem e devem ser entregues.

Por outro lado, não podem ser entregues ou depositadas agulhas ou seringas, termómetros, aparelhos eléctricos ou electrónicos, gaze, material de penso e cirúrgico, produtos químicos, fraldas, radiografias, enfim, todos os resíduos que não estão abrangidos pela licença que está atribuída à VALORMED.

O que acontece aos resíduos recolhidos? Se alguns materiais podem ser reciclados, como as embalagens, o que é feito aos restos de medicamentos?

A recolha das embalagens vazias e medicamentos fora de uso ou de prazo tem como objectivo retirar do lixo comum estes resíduos e enviar para reciclagem os materiais de embalagem e de acondicionamento (papel, cartão, plástico, vidro) e para incineração segura com valorização energética os medicamentos e restos de medicamentos recolhidos. Deste modo, a VALORMED contribui para a preservação do ambiente e cuida da saúde de todos.

A incineração é segura?

A fracção dos resíduos recolhidos pela VALORMED que são enviados para incineração é um processo seguro e controlado, pois é realizada por operadores de gestão de resíduos licenciados e autorizados em Portugal pelas autoridades competentes a fazerem esta operação.

Qual o papel dos cidadãos neste processo? Considera que estão devidamente sensibilizados para a importância da “reciclagem”?

Há um longo caminho a percorrer no que em relação às questões de resíduos, em geral, e resíduos de medicamentos, em particular, diz respeito, mas se observarmos a evolução das recolhas nas farmácias, desde que a VALORMED foi criada, facilmente se constata que os portugueses têm vindo a compreender que uma das suas preocupações está relacionada com a preservação do ambiente e garantia de futuro das gerações vindouras. No entanto, este “combate” terá de continuar, pelo que, o papel da VALORMED e das restantes entidades gestoras é o de insistir com ações de sensibilização e de educação que conduzam a que todos, sem exceção, assumam a responsabilidade de dar o encaminhamento devido aos resíduos que produzem.

E quanto às farmácias? Qual o seu “dever” quanto a esta matéria?

As farmácias participam na divulgação das campanhas de comunicação e informação que regularmente são produzidas pela VALORMED e, por isso, os seus colaboradores desempenham um papel fundamental neste processo, nomeadamente, no ato de dispensa dos produtos aos utentes. Enquanto técnicos de saúde contribuem também ativamente para a sensibilização dos utentes para as boas práticas ambientais, pelo que devem informar da necessidade de ser efectuada a entrega na farmácia das embalagens vazias e dos medicamentos fora de uso no momento da venda. Sempre que possível é igualmente desejável e recomendável que verifiquem se os utentes estão apenas a entregar resíduos de embalagens e de medicamentos, e não outros resíduos que não fazem parte do âmbito da licença que está atribuída à VALORMED.

Que balanço faz desta iniciativa?

O balanço é muito positivo para o sector da cadeia do medicamento, pois, se considerarmos, por um lado, que foi já possível desviar dos aterros muitos milhares de toneladas de resíduos potencialmente perigosos e dar-lhes um tratamento ambiental adequado, as farmácias comunitárias ao funcionarem como únicos pontos de retoma, permitem assegurar a recepção assistida e segura dos resíduos de embalagens e restos de medicamentos fora de uso entregues pelos cidadãos.

Na sua opinião, o que pode melhorar?

Para além da necessária e indispensável adesão dos portugueses a VALORMED ambiciona, também, a concretização de alguns objetivos fundamentais:

1. Transmitir a responsabilidade e preocupação do sector farmacêutico com o destino a dar aos resíduos de embalagens e medicamentos de origem doméstica.

2. Minimizar o impacto que os resíduos de embalagens e medicamentos podem vir a causar sobre o ambiente.

3. Sensibilizar os cidadãos para a não acumulação de medicamentos em suas casas.

4. Evitar a automedicação quando se conservam medicamentos em casa e, por isso, o seu consumo de forma não controlada e indevida.

Para finalizar, quais os erros mais comuns no que toca à separação dos resíduos de medicamentos de origem doméstica? Haverá ainda muita gente que despeja os restos de medicamentos no lixo… Quais os principais riscos? 

Os erros mais comuns, mas também mais preocupantes têm a ver, de facto, com a pouca ou nenhuma atenção que uma parte dos cidadãos ainda dá ou quer dar às questões ambientais e, por isso, juntam todos os lixos que produzem num só recipiente, por norma, o do lixo doméstico. Ou então, se pensarmos que despejar os restos de medicamentos através dos esgotos domésticos os podemos vir a consumir, ao entrarem no ciclo da água, do que estamos à espera para agir e mudar de comportamento e atitude?

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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