Distúrbios alimentares

Bulimia nervosa

Atualizado: 
11/03/2020 - 16:11
A bulimia nervosa é um transtorno alimentar marcado por episódios de ingestão compulsiva de alimentos seguidos de purgas.
Mulher a vomitar para sanita

A bulimia é uma perturbação do comportamento alimentar que afecta sobretudo mulheres jovens, principalmente no final da adolescência. Esta doença é caracterizada por momentos de voracidade alimentar, ou seja, de ingestão de grandes quantidades de alimentos num curto espaço de tempo. Alimentos esses que são, na sua maioria, compostos por hidratos de carbono. Seguidos de comportamentos compensatórios, como períodos de jejum prolongado, vómito provocado, uso de laxantes e prática de exercício físico exagerado como forma de evitar o ganho de peso pelo medo exagerado de engordar. No entanto,estas técnicas compensatórias são inicialmente usadas para combater os ataques vorazes aos alimentos mas posteriormente, passa a ser feita de forma descontrolada, criando o ciclo bulímico.

Tipos de bulimia nervosa

Tipo purgativo

A pessoa recorre regularmente à auto-indução do vómito ou ao uso de medicamentos;

Tipo não purgativo

A doente não recorre ao vómito ou medicamentos e utiliza outros comportamentos como o excesso de exercício físico ou jejuns.

Em qualquer dos casos, as doentes acham o seu próprio comportamento repulsivo e vergonhoso, por isso, procuram mantê-lo em segredo. A provocação repetida do vómito é uma manifestação frequente, que pode ter consequências muito graves. Habitualmente leva a que glândulas salivares aumentem, o que se pode verificar através de pequenos inchaços visíveis na base das orelhas, ou mesmo debaixo do queixo. Pode levar a esofagite (inflamação do esófago), que é um factor de risco para cancro do esófago e pode acontecer que durante o episódio haja hemorragia ou mesmo ruptura esofágica (com risco muito elevado de morte).

Quem sofre de bulimia nervosa tem, normalmente, comportamentos paradoxais. Ou seja, se por um lado "controlam” aquilo que comem, usando para isso o vómito, por outro, têm crises de voracidade alimentar totalmente descontroladas. As bulímicas vivem sob o medo constante de não poder controlar esses ataques de fome, o que acentua a doença, passando a dominar todas as suas experiências emocionais.

Existe a ideia errada que a bulimia é o contrário da anorexia. Em rigor o contrário da anorexia seria o indivíduo achar que está muito magro e precisa engordar, ganhar peso, tornar-se obeso e continuar a achar que está magro, continuando a comer. Isso seria o oposto da anorexia, mas esse quadro psiquiátrico não existe.

Na bulimia o doente não quer engordar, mas não consegue conter o impulso para comer por mais do que alguns dias. O doente com bulimia, tipicamente, não é obeso porque usa recursos extremos para eliminar o excesso ingerido.

Sinais de bulimia nervosa

Pessoas com bulimia têm vergonha do seu problema, portanto, evitam comer em público e evitam lugares como praias e piscinas onde precisam mostrar o corpo. O doente reconhece o absurdo do seu comportamento, mas por não conseguir controlá-lo sente-se inferiorizado, incapaz de se conter a si mesmo, por isso procura esconder dos outros o seu problema para não o desprezarem também. À medida que a doença se desenvolve, essas pessoas só se interessam por assuntos relacionados à comida, peso e forma corporal.

De notar que a bulimia não constitui uma completa perda do controlo, uma vez que o doente consegue conscientemente planear os seus episódios de ingestão compulsiva, vómito, exercício físico, etc..

Apesar de a bulimia estar, na maioria das vezes, associada a uma fraca auto-estima e auto-confiança, são os comportamentos dos bulímicos que denunciam o seu transtorno alimentar ao exterior:

- Ingestão compulsiva e exagerada de alimentos;
- Vómito auto induzidos, uso de laxantes e diuréticos para evitar ganhar peso;
- Alimentação excessiva, sem aumento proporcional do peso corporal;
- Depressão;
- Obsessão por exercícios físicos;
- Comer em segredo ou escondido dos outros;
- Mentir sobre o que comeram;
- Esconder-se atrás de roupas largas e soltas;
- Demonstrar preocupação profunda em relação ao peso, forma do corpo e aspecto em geral;
- Queixas frequentes em relação a dores de garganta (causadas pelos repetidos vómitos);
- Queixas frequentes em relação a problemas dentários (também causados pelos vómitos).

Causas da bulimia nervosa

Assim como na anorexia, a bulimia nervosa é uma perturbação que tem origem numa mescla de factores biológicos, psicológicos, familiares e culturais.

Assim, a influência cultural sobre a aparência física tem um papel importante. Problemas familiares, baixa auto-estima e conflitos de identidade também são factores envolvidos no desencadeamento destes quadros. Estudos apontam para uma forte predisposição genética.

Diagnóstico da bulimia nervosa

O diagnóstico de bulimia nervosa requer episódios com uma frequência mínima de duas vezes por semana, por pelo menos três meses. A fobia de engordar é o sentimento motivador de todo o quadro. Esses episódios de comer compulsivo, seguidos de métodos compensatórios, podem permanecer escondidos da família por muito tempo. Por isso, é frequente não se perceber que alguém tem bulimia nervosa.

Apesar de a bulimia ser um transtorno alimentar e, como tal, devastar a saúde física, é diagnosticada de acordo com critérios de saúde mental. É necessário haver correspondência com cinco critérios padrão para que a bulimia seja diagnosticada, incluindo:

- Comer compulsivamente;
- Purgar - vómito provocado, uso impróprio de laxantes;
- Uso impróprio de diuréticos;
- Uso impróprio de clisteres;
- Passar fome e/ou excesso de exercício.

Para além disso, considera-se estar perante um doente bulímico quando existe um ciclo de compulsão alimentar e vómito pelo menos duas vezes por semana durante três meses – alimentando um medo profundo em relação ao aumento de peso –, ideias irrealistas relacionadas com o peso ideal e a ausência de anorexia.

A bulimia nervosa do tipo purgativo é diagnosticada quando um bulímico provoca o vómito para libertar o corpo da comida, ao passo que a bulimia nervosa do tipo não-purgativo é diagnosticada quando o doente faz exercício ou jejua em excesso após comer compulsivamente.

Tratamento da bulimia nervosa

Não existe uma cura única e reconhecida para a bulimia mas há uma variedade de opções de tratamento. A abordagem multidisciplinar é a mais adequada no tratamento da bulimia nervosa, e inclui psicoterapia individual ou em grupo, terapêutica medicamentosa e abordagem nutricional.

A abordagem nutricional visa estabelecer um hábito alimentar mais saudável, eliminando o ciclo "compulsão alimentar/purgação/jejum". Já a orientação e/ou terapia familiar é de extrema necessidade, uma vez que a família desempenha um papel muito importante na recuperação do doente.

Consequências da bulimia

Os repetidos episódios de auto-indução do vómito geram problemas noutros sistemas do corpo. Ao se vomitar não se perde apenas o que se comeu, mas os sucos digestivos também. Isso pode acarretar desequilíbrio no balanço dos electrólitos no sangue, afectando o coração, por exemplo, que precisa de um nível adequando dessas substâncias para ter seu sistema de condução eléctrica funcionante.

As repetidas passagens do conteúdo gástrico (que é muito ácido) pelo esófago acabam por feri-lo podendo provocar sangramentos. Casos extremos de rompimento do estômago devido ao excesso ingerido com muita rapidez já foram descritos várias vezes. O intestino grosso pode sofrer consequências pelo uso repetido de laxantes como constipação crónica, hemorróidas, mal-estar abdominal ou dores.

Danos no tracto digestivo, boca, dentes e glândulas salivares são comuns entre bulímicos e o ciclo "alimentação compulsiva – purga” constante significa que os bulímicos raramente retêm vitaminas e minerais suficientes para se manterem saudáveis.

Confira as consequências mais comuns:

- Sangue: desidratação, alterações dos iões sanguíneos, anemia;
- Sistema cardiovascular: arritmias, alterações cardíacas, tonturas;
- Alterações psiquiátricas: ansiedade, depressão, auto-agressividade, baixa auto-estima;
- Ginecológicas: ciclo menstrual irregular ou ausente;
- Sistema intestinal: prisão de ventre, dores, inchaço, esofagite, cancro esófago, ruptura do esófago, aftas, úlceras;
- Boca: aumento das glândulas salivares, cáries e corrosão dos dentes, sensibilidade dentária, mau hálito;
- Pele e músculo: fadiga muscular, escoriações nos dedos, pele seca.

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Fonte: 
alimentacaosaudavel.org
altersatus.com
Abcdasaude.com
Nota: 
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