O impacto do Exercício Físico na Diabetes

Atividade Física aumenta a sensibilidade das células à insulina, afirma especialista

Atualizado: 
06/03/2020 - 11:39
A adoção de hábitos de vida saudáveis, com a prática regular de exercício físico, são essenciais para a prevenção e controlo da Diabetes. Para entendermos o seu papel na gestão de uma doença que, em Portugal, atinge mais de um milhão de pessoas, estivemos à conversa com Mário Rui Mascarenhas, Endocrinologista na Clínica de Santo António, que nos explicou que “a dose de insulina diária ou o número de comprimidos pode ser reduzida por efeitos da atividade física”.
Exercício físico e diabetes

Em Portugal, a diabetes atinge mais de um milhão de pessoas. No entanto, cerca de metade não sabe que tem a doença. Neste sentido, e porque nunca é demais falar sobre o tema, o que é a Diabetes e quais as suas principais complicações?

A Diabetes Mellitus é uma afecção decorrente dos níveis elevados de glicose (açúcar) no sangue, por deficiência do funcionamento de células beta do pâncreas e que sintetizam e segregam a insulina para o sangue. O excesso de açúcar no sangue também se denomina hiperglicemia.

A Diabetes Mellitus (DM) tipo 1 aparece por carência marcada de insulina e as pessoas com esta doença necessitam da administração de insulina para sobreviverem. Associa-se essencialmente a problemas de autoimunidade. Esta forma é a típica de crianças, de adolescentes e de adultos com menos de 35 anos.

A DM tipo 2 é uma complicação muito frequente da obesidade, sendo a forma mais prevalente, aparecendo tipicamente em pessoas com mais de 40 anos de idade. Esta forma associa-se à transmissão genética.

As pessoas com esta afecção têm resistência à insulina, pois esta não é utilizada de modo apropriado e o pâncreas tende a produzir maiores quantidades de insulina para compensar a utilização inadequada nas células alvo. No entanto, com o tempo, a capacidade deste órgão em sintetizar insulina reduz-se e as quantidades produzidas e lançadas para o sangue são insuficientes para controlar devidamente os níveis da glicose no sangue, aparecendo o seu excesso ou hiperglicemia. Na grande maioria dos casos, as pessoas com diabetes mellitus tipo 2 não necessitam de efetuar insulina logo após o diagnóstico.

A descompensação da DM2 pode aumentar o risco de complicações muito graves e irreversíveis, associando-se um risco de morte mais precoce.

O tratamento médico a efetuar deve ser complementado com alterações dos hábitos de atividade física, de nutrição e eventual abstinência no tabaco. O tratamento correto e as modificações no estilo de vida podem prevenir e/ou atrasar o desenvolvimento das lesões tardias da diabetes mellitus tipo 2.

Estes doentes devem ser alertados para a maior probabilidade do aparecimento de lesões na pele e infeções, de problemas nos olhos que podem causar cegueira, da neuropatia associada ao desenvolvimento do Pé Diabético - com amputações por segmentos do pé e da perna em muitas pessoas -, da insuficiência renal crónica (nefropatia) e da hipertensão arterial, da doença cardiovascular (enfarto cardíaco e AVCs), da gastroparésia e dos comas.

Assim, a diabetes mellitus descompensada ao longo de anos (a tipo 2 bem como a tipo 1), e através das hiperglicemias pode afetar qualquer parte do corpo.

Como pode esta doença condicionar a vida do doente?

A vida da pessoa com diabetes pode apenas ficar condicionada em caso de aparecimento das manifestações das complicações tardias da diabetes. Assim, por exemplo, em caso de nefropatia crónica, a pessoa deverá reduzir a ingestão diária de proteínas e adequar a atividade física ao seu estado geral de saúde.

A pessoa com cegueira por retinopatia diabética terá de efetuar, inevitavelmente, exercício muito específico.

Em caso de enfarto cardíaco, o exercício terá de ser diferente da pessoa sem manifestações arterioscleróticas do coração. A pessoa com paralisia de um membro inferior, devido a um AVC, terá de ter um acompanhamento e aconselhamento por especialistas na área da Medicina Física e de Reabilitação. O doente com esta afecção e que tenha sido submetido a amputação do pé ou da perna deve evidentemente ser portador de apoio especializado e, eventualmente, de prótese para deambulação.

Qual a importância da prática de exercício físico na diabetes?

A atividade física é muito importante e, a partir do momento em que esta seja iniciada, a pessoa sedentária e com diabetes mellitus terá muitos benefícios. A dose de insulina diária ou o número de comprimidos pode ser reduzida por efeitos da atividade física.

A atividade física aumenta a sensibilidade das células à insulina, ficando esta mais eficiente.

O excesso de glicose também pode ser reduzido com a atividade física e, em poucos meses, começar a observar-se uma redução da HbA1c (marcador do metabolismo do açúcar nos últimos três meses).

A atividade física regular é indispensável. E associando-se ao planeamento adequado da dieta e das refeições fracionadas ao longo do dia, à medicação e à diminuição da ansiedade e/ou depressão e do stress, esta apresenta bastantes reflexo na qualidade de vida de um indivíduo.

Neste sentido, quais os principais benefícios e quais os exercícios mais indicados?

As crianças com atividade física de pelo menos uma hora ou mais diárias podem ter vários benefícios para a saúde. A atividade física também é importante para o bem-estar geral e pode ajudar em muitas outras condições de saúde, como por exemplo, ajudar a perder ou manter peso, melhorar a hipertensão arterial e as dislipidemias associadas à diabetes, diminuindo deste modo o risco de enfarto cardíaco e de AVC, aliando-se á melhoria da irrigação do sangue arterial a todo o corpo.

Nas pessoas idosas e com diabetes, há um aumento da função muscular. As articulações são mais flexíveis e desenvolve-se uma tendência para a redução da perda de massa óssea associada à idade e às hiperglicemias.

A prevenção de quedas pode ser consequência do benefício de uma melhoria da função muscular.

A atividade física e os exercícios mais indicados em pessoas com diabetes mellitus são os aeróbicos como a marcha, pelo menos 30 minutos diários ou uma hora e três a quatro dias por semana. Usar escadas e não o elevador – pelo menos para descer -, a natação, a dança e a bicicleta

Os exercícios de resistências como içar pesos e os de alongamento tendem a aumentar as massas ósseas e muscular

Quais os principais mitos associados, neste contexto, à prática de exercício físico e que importam esclarecer?

A criança com diabetes pode efetuar atividades desportivas. Um mito que terminou! A verdade é que alguns atletas de alta competição têm diabetes mellitus tipo 1, o que não os impede de estarem nos eleitos de tais desportos.

A atividade física é fundamental, mas o desporto é dispensável… mas nada impede que a pessoa com diabete mellitus seja praticante profissional de desporto, caso não exista qualquer défice físico que contraindique tal prática.

Para além da prática de exercício físico regular que outros cuidados devem os doentes ter? Quais as suas considerações finais, no que diz respeito a esta matéria?

O estilo de vida parece ser muito importante para aumentar a longevidade com boa qualidade de vida.

As terapêuticas das pessoas com diabetes mellitus tipo 2 abrangem não só as medidas individuais de alterações do estilo de vida (atividade física, nutrição, abstinência em tabaco) mas também pela medicação antidiabética. No entanto, globalmente, a prevenção e/ou tratamento precoces das complicações tardias da DM2 são fundamentais para prolongar a longevidade com qualidade de vida .

Artigos relacionados

O trabalhador diabético e as faltas ao trabalho

É diabético? Saiba os cuidados a ter com a alimentação

Diabetes: A importância de uma vida saudável na prevenção do AVC

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock