Doença respiratória profissional mais comum

Asma profissional

Atualizado: 
24/03/2014 - 09:06
A asma profissional é uma doença respiratória que está relacionada directamente com a inalação de poeiras, fumos, vapores industriais ou substâncias tóxicas no local de trabalho.

A asma profissional, também designada de ocupacional, é definida como uma doença respiratória relacionada com a inalação de fumos, gases ou poeiras no local de trabalho.
A doença pode desenvolver-se tanto num trabalhador que já sofra de asma como num que não a tenha. Trata-se de uma enfermidade pouco divulgada junto da população em geral, mas é, simplesmente, a doença respiratória profissional mais comum.
Estima-se que entre 5 a 15 por cento de todos os casos de asma em adultos estejam relacionados com a profissão, ainda que a incidência varie de indústria para indústria.
Pessoas com história familiar de alergia terão mais tendência para sofrerem desta doença, tal como os fumadores.

A asma profissional atinge as mais variadas profissões, como veterinários e tratadores de animais (devido a contaminações através dos pêlos), actividades marítimas, indústrias alimentares como de cereais, peixe, ovos, aves, café, mariscos, lacticínios, padaria e pastelaria, outras indústrias mais "pesadas" como soldadores, aço, resinas, têxteis (nomeadamente através do algodão), indústria farmacêutica e de detergentes, pinturas de automóveis, indústrias de plástico, cabeleireiros, na área da carpintaria e marcenaria, entre tantas outras.
As indústrias que utilizam substâncias que podem causar asma devem obedecer às normas de controlo de poeiras e vapores. No entanto, a eliminação de poeiras e vapores pode ser impossível. Os trabalhadores com asma severa, quando possível, devem mudar de actividade, pois a exposição contínua leva a um quadro de asma mais grave e persistente.
Sabe-se também que existe uma relação nítida das crises com período de exposição no trabalho e que ocorrem melhorias quando se está afastado do local de trabalho, concretamente ao fim-de-semana ou durante as férias. No entanto, os sintomas podem ocorrer durante o período de trabalho, mas, frequentemente, começam apenas algumas horas após ter terminado o expediente. Além disso, podem aparecer e desaparecer durante uma semana ou mais, após a exposição. Por essa razão, é frequentemente difícil estabelecer a relação entre o ambiente de trabalho e os sintomas.

Sintomas
A asma profissional pode causar dificuldade respiratória, sensação de opressão no peito, sibilos (pieira), tosse, espirros ou lacrimejamento. Em algumas pessoas, a respiração sibilante é o único sintoma.
Os sintomas podem verificar-se durante a jornada de trabalho, mas, muitas vezes, começam algumas horas depois de ela ter terminado. Em algumas pessoas, os sintomas começam até 24 horas depois da exposição. Aliás é importante referir que o intervalo de tempo entre o início da exposição a estes agentes e o aparecimento dos sintomas de asma é muito variável, podendo ir de meses a anos. É por essa razão que é difícil estabelecer a relação entre o local de trabalho e os sintomas.

Causas
As causas podem ser agrupadas em três diferentes mecanismos: irritantes, alérgicas e farmacológicas. Estão actualmente identificados mais de 300 agentes responsáveis por estes mecanismos.
Os agentes irritantes incluem por exemplo o ácido clorídrico, dióxido sulfúrico e amónia, presentes na indústria química e do petróleo. Estas substâncias são altamente irritativas para a árvore respiratória e podem por si só causar um ataque de asma, particularmente nos trabalhadores que já sofrem de asma ou de outras doenças respiratórias. Na grande maioria dos casos os sintomas ocorrem imediatamente após a exposição a esses agentes.
Os factores alérgicos desempenham um papel importante num grande número de casos de asma ocupacional. Quando este mecanismo está envolvido, há habitualmente um longo período de exposição no local de trabalho a um agente sensibilizante, antes de surgir a doença. São exemplos deste tipo de agentes os cereais e suas farinhas (responsáveis pela asma dos padeiros), as proteínas animais que podem originar alergias respiratórias em veterinários e trabalhadores de laboratório ou as bactérias Bacillus subtilus utilizadas na indústria dos detergentes. Ainda dentro deste tipo de mecanismo, a inalação das partículas de látex (proteína de origem vegetal utilizada na manufactura das luvas de borracha) estão na origem de um aumento crescente do número de profissionais de saúde com asma ocupacional.
O mecanismo farmacológico consiste na inalação de certas poeiras ou líquidos, capazes de levar à libertação de substâncias naturalmente presentes no nosso corpo. É o caso da libertação da histamina no pulmão com o consequente aparecimento dos sintomas de asma.

Diagnóstico
O diagnóstico nem sempre é fácil, especialmente no caso de a doença se desenvolver em pessoas sem asma identificada. Frequentemente, a sintomatologia aponta para bronquite, quando na verdade se trata de asma profissional.
Para estabelecer o diagnóstico, o médico solicita ao doente que lhe descreva os sintomas e o tipo de exposição à substância que causa a asma. Às vezes, a reacção alérgica pode ser detectada por um prova cutânea (prova do adesivo), na qual uma pequena quantidade da substância suspeita é colocada na pele.
Se se tornar difícil estabelecer um diagnóstico, efectua-se um teste de provocação por inalação, em que o doente aspira pequenas quantidades da substância suspeita e o médico observa se aparecem sibilos e dispneia. Pode também fazer provas para determinar a função respiratória e verificar se existe uma diminuição da função pulmonar.
O estudo da função respiratória pode ser feito através de espirometria e realiza-se em períodos de trabalho e de afastamento, para detectar se existem alterações.
Uma vez diagnosticada é prioritário o afastamento da pessoa face ao agente responsável pela asma. No caso de não ser possível o afastamento total, deve-se controlar ao máximo o ambiente, sendo essa responsabilidade da entidade profissional, promovendo, por exemplo, a utilização de máscaras, implementando sistemas de ventilação e aspiração de ar, etc.

Prevenção
Uma vez identificada a causa de asma ocupacional é fundamental o afastamento total dos agentes responsáveis. Uma alternativa é a recolocação do trabalhador dentro da mesma empresa, num posto de trabalho onde não ocorra esta exposição.
Nos locais de trabalho em que existem agentes potencialmente nocivos, devem ser tomadas medidas tendentes a manter os níveis destes agentes o mais baixo possíveis no ar (por ex. através de sistemas de aspiração e exaustão) e monitorizando periodicamente esses níveis.
Por outro lado, os trabalhadores devem ter acesso a equipamentos de protecção individual, como por exemplo o uso de máscaras.

Tratamento
Os tratamentos para a asma profissional são os mesmos utilizados para os outros tipos de asma e deve sempre ser instituído pelo seu médico especialista.
Habitualmente, são utilizados medicamentos que promovem a abertura das vias aéreas (broncodilatadores), podendo ser administrados sob a forma de inalador ou de comprimido.
Para as crises graves, são utilizados os corticosteróides, administrados por via oral durante um período curto. Em tratamentos de longa duração, preferem-se os corticosteróides por inalação.

O que é uma doença profissional?
Uma doença profissional é aquela que resulta directamente das condições de trabalho, consta da Lista de Doenças Profissionais (Decreto Regulamentar n.º 6/2001, de 5 de Maio) e causa incapacidade para o exercício da profissão ou morte.
Deve ser considerada como doença profissional respiratória toda a alteração permanente da saúde do indivíduo que resulte da inalação de poeiras, gases, vapores, fumos e aerossóis ou ainda que resulte de exposição a radiações ionizantes e outros agentes físicos, em que se estabeleça uma relação causal com o posto de trabalho ocupado.

A quem devo dirigir-me?
Qualquer médico, perante uma suspeita fundamentada de doença profissional – diagnóstico de presunção –, tem obrigação de notificar o Centro Nacional de Protecção contra Riscos Profissionais (CNPRP), pertencente ao Trabalho e da Solidariedade Social, mediante o envio da Participação Obrigatória devidamente preenchida.

Existem alguns centros especializados em doenças alérgicas e respiratórias ocupacionais que poderão estudar mais aprofundadamente a relação entre a asma e a profissão.

Fonte: 
Manual Merck
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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