Atividades cognitivas reduzem risco de doença

Alzheimer é a causa mais comum de demência

Atualizado: 
20/09/2017 - 10:13
No âmbito do Dia Mundial do Alzheimer, que todos os anos se assinala a 21 de Setembro, o neurologista José Vale descreve-nos uma doença que afeta cerca de 30 milhões de pessoas em todo o mundo.

A Doença de Alzheimer (DA) é assim designada em homenagem ao neuropsiquiatra alemão Alois Alzheimer que em 1907 identificou as alterações celulares que caracterizam a doença. No essencial, a DA é uma doença neurodegenerativa, irreversível, que cursa com uma perda progressiva dos neurónios e consequentemente determina o aparecimento de demência - perda progressiva das funções cognitivas (memória, raciocínio, orientação, atenção, linguagem). Com o evoluir da doença podem ocorrer alterações de comportamento (agitação, agressividade) e do humor (depressão). Nos estádios mais avançados ocorrem também alterações motoras e incontinência de esfincteres.

Dados epidemiológicos

A DA é a causa mais comum de demência. Manifesta-se habitualmente depois dos 65 anos e sua prevalência aumenta exponencialmente com a idade (duplica a cada 5 anos) afetando aos 90 anos, mais de 50% das pessoas.

De acordo com dados da OMS estima-se que o número total de doentes a nível mundial ultrapasse os 25 milhões, prevendo-se que, com o envelhecimento demográfico, este número triplique até 2050. Em Portugal, o número de pessoas com demência rondará os 160-180 000 e destes, 50 a70% têm DA.  

Após o aparecimento dos primeiros sinais, os doentes com DA sobrevivem em média 8 a 10 anos.

O que causa a doença de Alzheimer?

As causas da DA são ainda mal conhecidas. Numa pequeno número de doentes (<5%), a DA pode resultar de mutações genéticas. Nestas formas hereditárias, a doença inicia-se numa idade precoce (antes dos 65 anos) e habitualmente é possível identificar outros casos na família com as mesmas características.

Na grande maioria dos casos, não é possível apurar a causa da doença. Acredita-se que esta resulte de uma combinação de vários fatores. Através de estudos populacionais que compararam as características das pessoas com e sem doença, foram identificados alguns fatores que se associam a um maior risco de desenvolver a doença.

Estes fatores de risco são classificados pela sua natureza em ‘não-modificáveis’ e ‘modificáveis’. Os fatores ‘não-modificáveis’ são: idade superior a 65 anos, género feminino, ter um parente em 1º grau com DA e ser portador de um fator genético (genótipo Apo E4). Os ‘modificáveis’, mais importantes pois a sua correção pode minimizar o risco da doença, incluem: alteração do sono (apneia obstrutiva do sono), depressão, baixo nível de escolaridade e condições ou doenças que causam doença vascular: hipertensão arterial, o tabagismo, a diabetes, a obesidade e o sedentarismo.

É possível prevenir a DA?

A forma mais imediata de minimizar o risco de desenvolver a doença é controlar os fatores de risco modificáveis. Por outro lado, algumas medidas simples podem melhorar a saúde cerebral. O desenvolvimento de atividades cognitivas e sociais (ex. leitura, dança, jogos de mesa) e a prática regular de exercício físico reduzem o risco de declínio cognitivo. Alguns estudos mostram que a ingestão de uma dieta do tipo mediterrânico, com consumo de peixe, também diminui o risco de DA.

Tratamento

Dos medicamentos atualmente disponíveis, alguns (donepezilo, galantamina, rivastigmina) promovem o aumento de acetilcolina, um neurotransmissor importante nos processos cognitivos. Um outro fármaco, a memantina, aprovado para o tratamento das fases moderada e grave da doença, atua por redução da toxicidade neuronal. Deve salientar-se que o benefício destes fármacos é limitado e não previne nem evita a progressão da doença. Para além do tratamento farmacológico, o recurso a técnicas de reabilitação cognitiva permite estimular as capacidades cognitivas e pode ser de grande utilidade nos estádios ligeiros da doença.

Atualmente, estão em investigação vários fármacos que poderão revolucionar o tratamento da doença de Alzheimer. Esses fármacos ainda em fase experimental atuam direta e específica nos mecanismos envolvidos na neurodegeneração. Se o princípio for cumprido, teremos pela primeira vez a possibilidade de intervir na história natural da doença. Apesar de ser necessário a realização de estudos de maiores dimensões (alguns já em curso) para comprovar a eficácia desses fármacos, os resultados dos primeiros ensaios clínicos são promissores e deixam-nos confiantes relativamente ao tratamento da DA.

Autor: 
Dr. José Vale - Neurologista Coordenador do serviço de Neurologia do Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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