Os primeiros sintomas ocorrem habitualmente depois dos 65 anos

Alzheimer atingirá cerca 70 milhões de pessoas dentro das próximas décadas

Atualizado: 
24/09/2018 - 16:00
De acordo com dados da OMS estima-se que existam mais de 25 milhões de pessoas com a doença de Alzheimer em todo o mundo, prevendo-se que, com o envelhecimento demográfico, este número triplique até 2050.

A Doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa caracterizada pela perda progressiva de neurónios em áreas cerebrais envolvidas no processamento cognitivo. De acordo com a descrição de Alois Alzheimer (1907) a degenerescência neuronal está associada à formação de depósitos de proteínas anormais: beta-amilóide e proteína tau.

Os primeiros sintomas da doença ocorrem habitualmente depois dos 65 anos, manifestando-se por perda de memórias (sobretudo as mais recentes) que se associam a alterações do raciocínio, dificuldades na orientação, capacidade de concentração ou alteração da linguagem. Podem ocorrer também alterações emocionais (ansiedade, depressão) e com o evoluir da doença são frequentes as alterações do comportamento (agitação, agressividade). Nos estádios mais avançados a doença gera uma ocorrem também alterações motoras e incontinência de esfincteres, gerando assim uma elevada dependência de terceiros. Após o aparecimento dos primeiros sinais, os doentes com DA sobrevivem em média 4 a 10 anos.

Os números da doença

A DA é a causa mais comum de demência. Aos 65 anos afeta cerca de 2-3% das pessoas, mas a sua aumenta exponencialmente com a idade, duplicando de 5 em 5 anos. Isto quer dizer que aos 90 anos mais de 50% das pessoas têm DA.

De acordo com dados da OMS estima-se que o número total de doentes a nível mundial ultrapasse os 25 milhões, prevendo-se que, com o envelhecimento demográfico, este número triplique até 2050. Em Portugal, o número de pessoas com demência ronda os 180 000, dos quais 50 a70% têm DA.  

O que causa a doença de Alzheimer?

As causas da DA são ainda mal conhecidas. Admite-se que esta resulte de uma combinação de fatores genéticos e ambientais, mas o principal fator de risco é a idade. As formas verdadeiramente genéticas são raras; nestes casos a doença manifesta-se antes dos 65 anos, têm habitualmente uma evolução mais rápida e é possível identificar outros casos na família com as mesmas características.

Através de estudos populacionais que compararam as características das pessoas com e sem doença, foram identificados alguns fatores que se associam a um maior risco de desenvolver a doença.

Estes fatores de risco são classificados pela sua natureza em ‘não-modificáveis’ e ‘modificáveis’. Os fatores ‘não-modificáveis’ são: idade superior a 65 anos, género feminino, ter um parente em 1º grau com DA e ser portador de um fator genético (genótipo Apo E4). Os ‘modificáveis’, mais importantes pois a sua correção pode minimizar o risco da doença, incluem: alteração do sono (apneia obstrutiva do sono), depressão, baixo nível de escolaridade e condições ou doenças que causam doença vascular: hipertensão arterial, o tabagismo, a diabetes, a obesidade e o sedentarismo.

É possível prevenir a DA?

A forma mais imediata de minimizar o risco de desenvolver a doença é controlar os fatores de risco modificáveis. Por outro lado, algumas medidas simples podem melhorar a saúde cerebral. O desenvolvimento de atividades cognitivas e sociais (ex. leitura, dança, jogos de mesa) e a prática regular de exercício físico reduzem o risco de declínio cognitivo. Alguns estudos mostram que a ingestão de uma dieta do tipo mediterrânico, com consumo de peixe, também diminui o risco de DA.

Tratamento

Dos medicamentos atualmente disponíveis, alguns (donepezilo, galantamina, rivastigmina) promovem o aumento de acetilcolina, um neurotransmissor importante nos processos cognitivos. Um outro fármaco, a memantina, aprovada para o tratamento das fases moderada e grave da doença, atua por redução da toxicidade neuronal. Deve salientar-se que o benefício destes fármacos é limitado e não previne nem evita a progressão da doença.

Para além do tratamento farmacológico, o recurso a técnicas de reabilitação cognitiva permite estimular as capacidades cognitivas e pode ser de grande utilidade nos estádios ligeiros da doença.

Atualmente estão em investigação vários fármacos que poderão revolucionar o tratamento da doença de Alzheimer. Esses fármacos, ainda em fase de ensaio clínico, atuam de forma específica nos mecanismos envolvidos na neurodegeneração – promovem a remoção do amiloide. Aguardam-se com grande expectativa os resultados destes estudos e a confirmar-se a sua eficácia, teremos pela primeira vez a possibilidade de intervir na história natural da doença evitando ou reduzindo a progressão da incapacidade.

Autor: 
Dr. José Vale - Neurologista
Diretor do Serviço de Neurologia do Hospital Beatriz Ângelo
Diretor do Serviço de Neurologia do Hospital dos Lusíadas

Nota: 
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