Quando a bexiga [1] se contrai de forma descontrolada, dando origem a um conjunto de sintomas caracterizados por uma vontade imperiosa de urinar, estamos na presença de uma condição clínica crónica designada de Bexiga Hiperativa. Ainda que possa confundir-se com a Incontinência Urinária [2], não é a mesma coisa!
De acordo com a especialista em Ginecologia e Obstetrícia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Geraldina Castro, a Bexiga Hiperativa “caracteriza-se pela presença de urgência miccional, isto é, por um desejo súbito e forte de urinar, difícil de controlar e que pode ou não ser acompanhado de perda involuntária de urina associada a estas vontades”. Geralmente associa-se também a uma necessidade frequente de urinar: “oito ou mais vezes durante o dia e uma ou mais vezes durante a noite”.
Embora, na maioria dos casos, não seja possível determinar uma causa, há um conjunto de patologias que podem estar na sua origem. É o caso de algumas doenças neurológicas, como a esclerose múltipla, a doença cerebrovascular, a doença de Parkinson [3] ou lesões na medula. “Alterações estruturais da própria bexiga, do seu músculo e órgãos adjacentes podem também causar esta doença”, acrescenta a especialista.
Certo é que 32% da população adulta em Portugal sofre desta condição, embora um grande número de casos fique por diagnosticar. “A prevalência é semelhante entre homens e mulheres”, aumentando com a idade.
Apesar de ser fácil de diagnosticar a verdade é que, por vergonha, são muitos os casos que ficam por identificar. “O seu diagnóstico é feito com base nos sintomas do doente e após exclusão de infeção urinária ou outra patologia óbvia, como a diabetes [4] ou o cancro da bexiga [5]”, explica Geraldina Castro. Na maioria dos casos, basta avaliar a história clínica do doente e pedir uma análise à urina. No caso das mulheres, é feito ainda um exame ginecológico para o seu diagnóstico. “Os casos mais complexos poderão ter de ser encaminhados para um especialista e submetidos a outros exames específicos”, adverte a ginecologista garantindo que estes são os casos que fogem à regra.
No entanto, “existem estudos que demonstram que esta é uma patologia subdiagnosticada precisamente porque os doentes sentem vergonha em falar dela ao seu médico, acham que faz parte do envelhecimento e desconhecem a existência de tratamento”.
A Bexiga Hiperativa é uma doença crónica, o que significa que não é curada, mas pode ser controlada com recurso a diversas armas terapêuticas. “É uma doença que sofre de períodos de agravamento e o seu tratamento deverá ser ajustado consoante as necessidades”, esclarece a médica.
A primeira medida contra a Bexiga Hiperativa é alterar o estilo de vida, procedendo a alterações alimentares, à evicção tabágica e alcoólica, promovendo a manutenção de um peso saudável. “Alimentos que contenham cafeína, como o chocolate, condimentados ou ácidos (tomate e citrinos), que podem causar irritação da bexiga, devem ser evitados”, explica a especialista acrescentando que “nos doentes com ingestão de líquidos elevada (superior a dois litros por dia), esta deverá ser restringida, principalmente à noite”. De fora ficam também as bebidas com cafeína, como o chá preto ou o café e ainda as bebidas gaseificadas.
Por outro lado, as técnicas de treino da bexiga e os exercícios do pavimento pélvico são também importantes no controlo desta condição clínica. “Nos episódios de urgência, a contração dos músculos do pavimento pélvico de forma sustentada pode atenuá-la ou fazê-la desaparecer”, revela. Além disso, fazer estes exercícios de forma regular ajuda a fortalecer a região e a manter as estruturas anatómicas, nomeadamente a bexiga, na posição correta.
“Quando as medidas comportamentais e os exercícios por si só não resolvem o problema, poderá ser associado um medicamento”, adianta a especialista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
“Os medicamentos disponíveis no mercado vão atuar nos receptores da bexiga. Ao promoverem o relaxamento do músculo da bexiga, vão aumentar a sua capacidade de armazenamento da urina e diminuir as contrações involuntárias deste músculo”, explica.
Apenas as situações muito graves, que não respondem a nenhum dos outros tratamentos disponíveis, são encaminhadas para cirurgia. E estas, felizmente, ainda são uma minoria.
Ligações
[1] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/bexiga
[2] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/incontinencia-urinaria
[3] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/doenca-de-parkinson-sintomas-e-tratamento
[4] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/diabetes-1
[5] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/imunoterapia-arma-mais-eficaz-no-tratamento-do-cancro-de-bexiga-avancado
[6] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/bexiga-hiperativa-alguns-medicos-nao-estao-familiarizados-com-este-problema
[7] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/como-manter-bexiga-saudavel
[8] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/sensacao-urgente-de-urinar-afeta-32-da-populacao
[9] https://www.atlasdasaude.pt/foto/pixabay
[10] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/sistema-urinario
[11] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/saude-da-mulher
[12] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/saude-do-homem
[13] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/saude-senior
[14] https://www.atlasdasaude.pt/autores/sofia-esteves-dos-santos