Obesidade

O papel da psicologia na perda de peso

Atualizado: 
15/07/2019 - 11:29
No que toca ao excesso de peso, quase sempre a culpa recai sobre a alimentação. No entanto, embora seja inegável a sua relação com os maus hábitos alimentares, a verdade é que há quem não consiga perder peso mesmo estando a seguir uma dieta saudável e equilibrada. Para emagrecer não basta mudar o que leva à boca, é preciso mudar a mente!
Rapariga triste sentada

Considerada uma epidemia a nível mundial, a obesidade tem vindo a aumentar de ano para ano, sobretudo, nos países desenvolvidos. Um sinal de alerta que, de acordo com Natália Mendes, psicóloga da Unidade de Obesidade do Instituto CUF Porto, nos deve levar a repensar “a forma como vivemos e a readequar o nosso estilo de vida”.

“Apesar das consequências da obesidade para a saúde física estarem bem descritas na literatura, o seu impacto na saúde mental é complexo dependendo de cada pessoa. Mesmo assim, a investigação demonstra uma associação com o humor depressivo e com as perturbações de ansiedade. Também está documentado que se associa a um risco maior de diagnóstico psiquiátrico”, revela a especialista quanto ao impacto que a obesidade pode ter na vida do doente.

O estilo de vida – associado aos maus hábitos alimentares, sedentarismo e maus hábitos de sono – está entre as principais causas da obesidade. No entanto, este não é o único aspecto que pode influenciar o peso. A genética, as doenças endócrinas (embora num menor número de casos) ou o estado emocional podem estar por detrás do excesso de peso. 

Do ponto de vista psicológico, a especialista enumera algumas causas, como as perturbações do comportamento alimentar, onde se incluem a Ingestão Alimentar Compulsiva, Bulimia Nervosa e Síndrome de Ingestão Noturna. “A utilização da alimentação como estratégia para gerir emoções também contribui para o aumento de peso”, acrescenta. “Há pessoas que comem porque se sentem aborrecidas, amedrontadas, ansiosas ou tristes (…) esta forma de lidar com as experiências internas (emoções e pensamentos negativos) pode ocorrer porque não foram aprendidas outras estratégias para lidar com estas situações, ou por mitos associados às emoções negativas”, acrescenta a psicóloga reforçando que, no entanto, não é só no caso das emoções negativa que a alimentação é usada como estratégia de gestão emocional. Fazemo-lo também no caso das emoções positivas “quando usamos a comida para nos premiarmos por alguma conquista ou como pretexto para convivermos socialmente”.

Por outro lado, algumas perturbações mentais e seus tratamentos farmacológicos podem favorecer o aumento de peso. “Uma das características mais acentuadas da Perturbação Depressiva é a falta de prazer e vontade para levar a cabo atividades do dia-a-dia, levando a que a pessoa desempenhe cada vez menos e fique mais inativa, o que poderá levar ao aumento do peso”, explica Natália Mendes.

Por tudo isto, no combate é obesidade é essencial não se colocar o foco apenas na alimentação, sob pena de estarmos a ter uma visão redutora do problema. A obesidade é uma doença complexa que exige um tratamento multidisciplinar que pode contar com a integração das especialidades de medicina, nutrição e psicologia.

“O papel da psicologia (…) é facilitar a mudança comportamental e adesão terapêutica para obtenção de um estilo de vida saudável, adequado às singularidades da pessoa e sustentável ao longo do tempo”, descreve a especialista. “Conforme descrito em vários estudos, existe uma associação entre o estado mental e obesidade. Seja porque algumas perturbações mentais implicam diretamente o comportamento alimentar, outras favorecem estados psicológicos que podem levar à inatividade, desmotivação ou dificuldade em manter o autocuidado. Cabe aos psicólogos intervir nestes quadros com uma abordagem holística e multifatorial do problema”, justifica.

De acordo com Natália Mendes, a abordagem psicoterapêutica inicia-se por uma avaliação psicológica criteriosa “que identifique aspetos psicossociais relevantes, o comportamento alimentar, a autoestima e a autoimagem e o impacto na qualidade de vida” e mantém-se mesmo após a perda de peso.

Ao longo deste processo, explica a psicóloga, “trabalham-se conceitos como a motivação, a regulação das emoções e gestão da ansiedade, imagem corporal, expectativas e objetivos realistas, comportamento alimentar e incentivo à integração da atividade física. Estando sempre adjacente o desenvolvimento de competências que permitam que a pessoa se torne autónoma na manutenção de um estilo de vida adequado e individualizado às suas contingências”.

Quando procurar ajuda especializada?

  • Quando se está perante um caso de obesidade (IMC>30.0 kg/m2)
  • Quando existe um histórico de várias tentativas de perda de peso sem sucesso
  • Quando existe Perturbação do Comportamento Alimentar
  • Quando existe um padrão psiquiátrico que favorece a obesidade
  • Quando a pessoa sente que não está em controlo do seu impulso para comer, ou sente culpa depois de comer
  • Quando a pessoa quer perder peso e se sente desmotivada

Segundo Natália Mendes, a melhor forma de iniciar um tratamento de perda de peso do ponto de vista psicológico é, desde logo, traçar objetivos realistas, lidar com as emoções e aprender a gerir a ansiedade. “ Por outro lado, aceita que não somos organismos mecânicos e por conseguinte não sentimos o mesmo apetite todos os dias, ter guidelines que guiem as escolhas e comportamentos e não regras rígidas e inflexíveis”, conclui a especialista.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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