Entrevista

Como uma APP de reconhecimento voz pode aproximar médicos e doentes

Atualizado: 
28/05/2019 - 10:30
Designada internamente como “Mordomo Digital”, a Santa Casa da Misericórdia do Porto tem agora à disposição uma aplicação de reconhecimento de voz que promete transformar a forma como se fazem registos clínicos. O objetivo é reduzir o tempo despendido em tarefas administrativas, permitindo que os médicos dediquem mais tempo aos doentes. Em entrevista ao Atlas da Saúde, Filipa Fixe, Executive Board Member da Glintt, empresa que criou esta aplicação revela que esta é uma “solução inovadora e única” que se encontra em utilização “em formato piloto pelos médicos da Santa Casa da Misericórdia do Porto”. Além dos registos clínicos, os especialistas podem ainda prescrever exames.

Numa altura em que muito se fala na Humanização da Medicina, o que representa o desenvolvimento desta aplicação?

Um dos desafios mais evidentes da gestão em Saúde, seja pública ou privada, é a aposta contínua na melhoria da qualidade dos cuidados de saúde prestados aos cidadãos. A tecnologia permitiu a evolução de técnicas e metodologias com impacto relevante na eficiência das instituições de saúde e no sistema de saúde como um todo, que se traduz em melhores resultados em saúde relevantes para os cidadãos para a obtenção de ganhos na gestão. Exemplo disso é a solução de reconhecimento de voz para registo de notas clínicas desenvolvida pela Glintt, em cooparceria com a Santa Casa da Misericórdia e a AB Consulting. Esta é uma solução que pretende revolucionar os registos clínicos, tendo como principal objetivo a redução do tempo do médico alocado a tarefas de carácter administrativo, permitindo-lhe prestar um cuidado de maior proximidade e mais atento às necessidades do doente. Neste sentido, torna-se claro o contributo positivo da presente solução para uma maior humanização do cuidado a prestar, aliando a tecnologia aos processos implementados e às pessoas envolvidas no sentido de contribuir para uma maior capacitação dos profissionais de saúde no âmbito da prática da Medicina focada nas necessidades reais dos cidadãos.

Quais as principais funcionalidades e quais as principais vantagens, não só para o médico, mas também para o doente, do aplicativo?

Para o médico:

  • Redução do tempo alocado a tarefas de caráter administrativo;
  • Maior disponibilidade para um cuidado mais personalizado e mais atento às necessidades do doente;
  • Eliminação do erro;
  • Mobilidade do médico, o qual pode efetuar registos sem necessidade de estar fisicamente preso a um computador tradicional.

Para o doente:

  • Acesso a um cuidado mais próximo e mais alinhado com as suas necessidades;
  • Estabelecimento de uma relação de maior confiança com o profissional de saúde
  • Maior segurança da informação.

Como surgiu a ideia para a sua criação? E em que fase de desenvolvimento se encontra?

A ideia surge da necessidade de disponibilizar soluções, que permitam aumentar a mobilidade e, consequentemente, a produtividade dos profissionais de saúde, não descurando o foco nas necessidades do cidadão. Retirando partido da voz enquanto forma natural de relacionamento, e tendo em consideração a agilização das tarefas a realizar pelo médico, a presente solução encontra-se desenvolvida e em utilização em formato piloto pelos médicos da Santa Casa da Misericórdia do Porto.

Comparando com que existe no mercado, o que a distingue?

Trata-se de uma solução inovadora e única, que se distingue pela sua capacidade de integração do texto, gerado na solução, no processo clínico eletrónico, no doente certo e no episódio correto.

Esta aplicação estará apenas acessível para os médicos da Santa Casa da Misericórdia do Porto, ou irá chegar a outras instituições?

Neste momento, os médicos da Santa Casa da Misericórdia do Porto já se encontram a utilizar a solução, dado que o projeto-piloto se encontra em fase de exploração desde março de 2019. Considera-se um projeto em evolução, uma vez que se encontra previsto num futuro próximo alargar o âmbito da solução a outras áreas funcionais da atividade médica, além dos registos clínicos. Como exemplo, destaca-se a prescrição de exames por parte do médico, através do reconhecimento de voz.

Além do que se encontra previsto a nível de novas funcionalidades, a estratégia passa também pela respetiva “produtização”, apostando na replicação deste projeto de inovação para outras instituições de saúde. Pretendemos, assim, que este tipo de tecnologia possa representar benefícios de valor a um número cada vez maior de instituições e profissionais de saúde, e cidadãos.

Os médicos já a testaram? Quais as opiniões?

A solução está em utilização no âmbito do projeto-piloto em curso na Santa Casa da Misericórdia do Porto. A adopção dos profissionais de saúde tem sido muito elevada e o feedback tem sido muito positivo. As mais-valias aqui descritas são, de facto, reconhecidas pelos users, o que representa uma motivação acrescida para o desenvolvimento de novas funcionalidades que retirem partido da “voz” como fator impulsionador da mobilidade e da produtividade clínica.

Na sua opinião, e de um modo geral, para onde caminhamos no que diz respeito à transformação tecnológica da saúde? O que podemos esperar do futuro?

De um modo geral, acredito que a transformação tecnológica no setor da saúde deve passar pelo desenvolvimento de inovação incremental e disruptiva, nunca esquecendo o seu potencial de aplicação no dia-a-dia das instituições e dos profissionais de saúde, tendo sempre em consideração as necessidades reais dos cidadãos e da sociedade, no geral, de forma a potenciar a criação de ganhos de valor em saúde.

Por outro lado, o futuro deve passar pelo investimento e foco da tecnologia, não só, no tratamento da doença, mas também na sua prevenção e promoção da saúde. Como tal, como tendências futuras, destaco a evolução constante da área da genómica, a qual tem permitido uma aposta mais vocacionada numa medicina personalizada. Também a inteligência artificial tem permitido o desenvolvimento de novas ferramentas como os assistentes virtuais de saúde, que representam um apoio fundamental para o idoso e respetivos cuidadores informais.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.