Tumores

Cancro da Cavidade Oral: dos fatores de risco ao tratamento

Atualizado: 
25/09/2019 - 10:37
Mais frequente entre os homens, sobretudo depois dos 40, o cancro da cavidade oral representa cerca de 3% de todos os cancros. Além da sua incidência ultrapassar a do cancro do colo do útero, este é um dos tumores que mais mata. O tabaco é um dos principais fatores de risco.
Homem com a mão a tapar a boca

O cancro oral também conhecido como cancro da cavidade oral designa o conjunto de tumores malignos que afetam qualquer tecido da cavidade oral – como os lábios, gengivas, bochechas, céu da boca e língua (pode ainda acometer a garganta, incluindo as amígdalas, tendo a designação de cancro da orofaringe).

Mais frequente no sexo masculino, sobretudo entre fumadores, a verdade é que nos últimos anos têm surgido cada vez mais casos entre a população feminina e nas faixas etárias mais jovens. Os dados sobre a doença no nosso país indicam ainda que, todos os anos, surgem cerca de 1500 novos casos, 250 dos quais dizem respeito a mulheres.

Quais os fatores de risco?

Tabaco

Ser fumador aumenta as hipóteses de sofrer deste tipo de cancro, estimando-se que o risco de desenvolver a doença seja 5 a 9 vezes maior entre aqueles que fumam.

Consumo de bebidas alcoólicas

O risco está aumentado se ao consumo de tabaco se juntar o consumo imoderado de álcool.

A este respeito, um estudo realizado em França veio demonstrar que esta relação é determinante no aumento deste risco, verificando-se que os fumadores que consomem grandes quantidades de álcool (acima dos 100 g de etanol/dia) têm uma probabilidade 30 a 100 vezes maior de desenvolver cancro oral e da orofaringe.

Exposição solar

A exposição solar desadequada (em excesso) e sem proteção aumenta a probabilidade de desenvolver cancro do lábio.

Dieta pobre em fruta e vegetais

Há evidências de que as dietas com baixos níveis de vitaminas A e C e pobres em frutas e vegetais podem contribuir para o risco de cancro oral.

Infeção pelo vírus do papiloma humano (HPV)

O aumento da incidência do cancro oral entre jovens não fumadores e não consumidores de álcool tem vindo a ser associada à infeção pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV), especialmente os tipos 16 e 18 (que apresentam elevado risco oncológico) pela prática de sexo oral sem proteção. O HPV pode causar cancro na parte de trás da garganta, na língua e nas amígdalas, zona conhecida como orofaringe.

Exposição a determinadas substâncias

A exposição a produtos industriais como madeiras, níquel e outros metais pesados, amianto ou radioterapia prévia está associada a uma maior incidência de tumores.

Outras doenças

Doentes imunodeprimidos, por exemplo indivíduos transplantados ou com patologia imunossupressora, têm mais probabilidades de desenvolverem cancro oral, particularmente do lábio inferior.

Esta predisposição está também associada a outras doenças mais raras como o xeroderma pigmentoso, a anemia de Fanconi, a disqueratose congénita e o Síndrome de Plummer-Vinson.

Discute-se ainda o papel de doenças como o líquen plano oral, as reações liquenóides, o lupus eritematoso discóide e a sífilis terciária, no aumento do risco para as neoplasias malignas da cavidade oral.

Saúde Oral deficiente

A má higiene oral associada à ausência de dentes e à presença de próteses dentárias mal adaptadas é outro importante fator de risco.

Quais os principais sintomas?

De acordo com o guia “Intervenção Precoce no Cancro Oral”, na população europeia, embora muitos dos casos de cancro da cavidade oral surjam de “novo”, alguns são precedidos de alterações da mucosa oral, consideradas como potencialmente malignas. É o caso da Leucoplasia e da Eritroplasia.

Leucoplasia – caracterizada por lesões brancas, geralmente assintomáticas, que não se conseguem remover raspando com compressa ou outro instrumento, e que podem surgir em qualquer local da cavidade oral, inclusive nas bochechas, língua lábios e palato.

Eritroplasia - trata-se de uma mancha ou placa vermelha com uma textura macia, e que surge preferencialmente no palato mole e trígono retromolar, pavimento da boca e bordo da língua. Esta lesão geralmente esbate-se na mucosa que a rodeia e é geralmente assintomática ou com queixas moderadas de ardor. Embora mais rara que a Leucoplasia, apresenta um potencial maligno muito superior.

Deste modo, para além da presença de:

  • manchas/placas vermelhas ou esbranquiçadas na língua, gengivas, céu da boca ou bochechas

Esteja ainda atento a:

  • Lesões ou feridas na cavidade oral ou nos lábios que não cicatrizam (mais de 15 dias) que podem apresentar sangramentos ou que estejam a crescer;
  • Nódulos (caroços) no pescoço
  • Rouquidão persistente

Em casos avançados, pode surgir:

  • Dificuldade a mastigar ou engolir
  • Dificuldade na fala
  • Sensação de que há algo preso na garganta
  • Dificuldade para movimentar a língua

Diagnóstico

O diagnóstico precoce é o principal desafio associado a esta doença, sendo determinante para o seu tratamento.

Se por um lado, alguns destes tumores se manifestam apenas em fase mais avançadas, por outro o preconceito associado ao cancro oral e o facto de não se dar a devida importância à gravidade dos sintomas leva a que estes doentes não procurem ajuda médica atempadamente.

Por este motivo, recomenda-se que visite regularmente o seu médico dentista, ou que, na presença de alguma alteração, fale com o seu médico de família.

Para o diagnóstico precoce do cancro oral e das lesões potencialmente malignas, o exame da cabeça, do pescoço e da cavidade oral no seu todo, tem que fazer parte da rotina de observação de cada doente nas consultas de medicina geral e familiar e de medicina dentária.

Em consulta, para além do levantamento da história clínica, deve ser feito um Exame Objetivo de acordo com as recomendações do CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e do NIH (National Institute of Health), com o auxílio de iluminação adequada, espelho dentário, compressas e luvas e que inclui:

  • Exame visual e palpação dos tecidos moles orais
  • Exame visual e palpação das regiões extraorais da cabeça e do pescoço
  • Palpação dos gânglios linfáticos da região

Alguns exames de imagem, como a tomografia computadorizada, podem ser necessários para o diagnóstico, permitindo avaliar a extensão do tumor.

Qual o tratamento?

Quando diagnosticado em fases iniciais, o cancro oral pode ser tratado com recurso a cirurgias mais simples para remover a lesão.

Diagnósticos feitos em estadios mais tardios obrigam a tratamentos que envolvem cirurgias mais complexas – com remoção da área afetada pelo tumor, linfonodos do pescoço e algum tipo de reconstrução -, radioterapia e quimioterapia.

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Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Fonte: 
Guia “Intervenção Precoce no Cancro Oral” - DGS e OMD
Make Sense Campaign - https://makesensecampaign.eu/pt/
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay