Viver com Esclerose Múltipla

“Tentei vender a doença mas não consegui”

Atualizado: 
31/12/2019 - 10:33
Luís Loureiro foi diagnosticado com Esclerose Múltipla há quase 30 anos. Optimismo e sentido de humor têm sido os grandes pilares da sua batalha contra a doença. E embora tenha assistido, nos últimos anos, ao agravamento da sua condição garante que “não é o fim do mundo” e não se lamenta pelas coisas que já não consegue fazer.

Em todo o mundo existem cerca de 2,5 milhões de pessoas com Esclerose Múltipla, uma doença crónica, inflamatória e degenerativa que afeta o Sistema Nervoso Central. Apesar da sua causa ser ainda desconhecida, existem um conjunto de fatores que podem estar na sua origem.

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla, “é provável que as pessoas com EM, por razões hereditárias, sejam, até certo ponto, propensas a desenvolver a doença. Então, um factor ambiental desconhecido poderá activar o sistema imunológico, conduzindo a uma doença auto-imune, que ataca posteriormente a substância branca do sistema nervoso central”.

Dependendo da localização da inflamação e da desmielinização no sistema nervoso central, os sintomas podem variar entre perda de força muscular dos membros, alterações de sensibilidade, fadiga ou entorpecimento. Alterações urinárias e intestinais ou cognitivas são outros sintomas que podem também ocorrer.

Os primeiros sintomas do Luís foram “uma sensação esquisita do pescoço para baixo e um enturpecimento dos membros”. Tinha 24 anos e a vida toda pela frente. “Tentei vender a doença mas não consegui”, diz a rir.

“Este primeiro surto foi gradual”, recorda garantindo que não demorou muito tempo a procurar ajuda médica.

“Ao fim de uns dias fui à urgência do hospital mas disseram-me que o que estava a sentir se calhar se devia a cansaço”, conta.

Mas o “cansaço” não passou “e dias depois estava pior”. “Aí falei com um médico meu amigo, um neurocirurgião, e contei-lhe o que estava a sentir. Ele aconselhou-me a ir ter com o chefe de serviço do hospital onde trabalhava”, explica Luís Loureiro.

O diagnóstico chegou, de imediato, depois de realizada uma ressonância magnética, muito embora Luís admita ter sido “enganado”, a respeito da doença, por mais algum tempo.

“Talvez por a minha família estar muito próxima desta área, quiseram poupar-me à notícia. O médico não me quis contar logo o que se passava...”, revela.

“Eu tinha uma espécie de virose que era acompanhada. Foi o que me «venderam». Na realidade, andei enganado durante quase um ano”, acrescenta.

Sem apresentar melhoras, Luís decidiu pedir uma segunda opinião. “Decidi ir a Inglaterra, e foi assim que fiquei a saber que sofria de Esclerose Múltipla. Pedi os exames e o meu médico teve de me contar o que se passava, não fosse eu pensar depois que ele não sabia o que estava a fazer”, explica o engenheiro civil.

Admite ter ficado “muito aborrecido” com o médico por não lhe ter contado a verdade, mas afirma que, sendo uma pessoa optimista, não reagiu como se o mundo fosse acabar depois deste diagnóstico.

“Cada um lida com a doença à sua maneira. Sou uma pessoa positiva e foi dessa forma que encarei o que se estava a passar comigo”, afiança.

“Não é o fim do mundo! Existem limitações mas continuamos a ser animais racionais”, justifica.

De acordo com Luís Loureiro, e apesar da doença, sempre teve uma vida “quase” normal. “Tirando os surtos com internamentos de quatro ou cinco dias a levar cortisona”, manteve-se a trabalhar, casou e teve três filhos.

Apesar de conviver com a doença há quase 30 anos, explica que “os sintomas evoluiram mais nos últimos 10 anos”. Sendo que, por esta altura, a sua motricidade passou a estar afetada.

“Houve uma coincidência temporal entre a progressão da doença e um conjunto de fatores externos que marcaram a minha vida, que me leva a pensar que a doença possa ter um cariz emocional. Foi o divórcio e a insolvência da minha empresa”, tenta justificar.

Hoje em dia tem dificuldades na parte escrita, “na redação e até a pôr a assinatura no cheque” e na locomoção. “Afeta-me a perna direita também. Aliás, eu até costumo dizer que tenho muita queda para a queda e uma relação muito íntima com o chão”, diz com o sentido de humor que o caracteriza.

“O sentido de humor tem-me ajudado bastante a superar as dificuldades”, admite Luís.

Atualmente, vive com uma pensão de invalidez e de alguns biscates que faz. “Faço algumas fiscalizações de obras, pequenas coisas... Como não conseguia arranjar um emprego, a dada altura desisti. Além de que, a minha semana nunca é constante...”, refere.

Há cerca de cinco anos começou a fazer o tratamento injetável e decidiu recorrer a outras terapias para minimizar os efeitos da doença.

“Faço meditação, ozonoterapia e medicina quântica uma vez por semana”, conta.

“A doença surge por um ataque do nosso sistema imunitário e, a verdade é que,  desde que recorro a estas terapias que nunca mais fiquei constipado, por exemplo. Nunca mais tive essas pequenas doenças, portanto calculo que alguma coisa elas devam fazer”, explica.

Ao contar a sua história Luís Loureiro pretende, sobretudo, mostrar que é possivel viver com a doença com alguma qualidade de vida e que é tudo uma questão de adaptabilidade. “Honestamente, não me lamento pelas coisas que não consigo fazer. E ao longo destes anos, tenho andado a convencer quem está a minha volta de que isto não é o fim do mundo”, conclui.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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