Projetos-piloto com dados positivos

Telemonitorização de doentes reduz despesa na Saúde

Atualizado: 
27/06/2017 - 15:49
Com o objetivo de tornar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) cada vez mais próximo e amigo do cidadão, o Ministério da Saúde assinou, no final de 2016, um acordo de desenvolvimento de Telemedicina que, entre outros benefícios, contribui para a redução de internamentos e hospitalizações.

Prestar cuidados de saúde à distância, permitindo que os doentes, quando integrados em programas de gestão de doença crónica, possam ter uma maior qualidade de vida, é um dos grandes objetivos da Telemedicina.

Em Portugal já decorreram cinco projetos-piloto na área da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, que conduziu a uma redução significativa nas idas às urgências, registando-se menos 60% de hospitalizações, e no número de dias de internamento.

A justificação prende-se com o facto dos doentes, através deste serviço, aprenderem a reconhecer potenciais problemas ou complicações, recebendo apoio clínico de forma precoce.

“A Tele-Saúde consiste na utilização de tecnologias de telecomunicação para prestar cuidados de saúde fora dos locais tradicionais de prestação de cuidados, possibilitando, por exemplo, cuidados de saúde à distância, nomeadamente em casa, onde doentes crónicos ou idosos podem receber suporte sem necessidade de deslocações”, começa por explicar João Tiago Pereira, cardiopneumologista, especialista do Centro de Gestão Clínica da Linde Saúde, entidade envolvida nos projetos-piloto que decorreram, em Portugal, na área da Telemedicina.

“Ao permitir que o doente crónico possa gerir melhor a sua doença, no conforto da sua casa, diminuindo as idas ao hospital, permitimos aos doentes terem uma maior qualidade de vida”, refere o especialista acrescentando que ao se identificar, de forma precoce, “as agudizações, existe um potencial aumento da sobrevida destes doentes”.

Por outro lado, este sistema permite uma utilização mais eficiente dos recursos hospitalares, apresentando um impacto positivo para o Estado a nível de custos, correspondendo a uma ferramenta adicional para os profissionais de saúde no acompanhamento dos seus doentes.

“De uma forma ideal, estes serviços, quando direcionados para os doentes crónicos, devem incluir: sistemas de telemonitorização de bio-sinais, um centro de gestão clínica que inclui uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde em articulação com os profissionais de saúde dos hospitais e/ou centro de saúde”, afirma João Tiago Pereira.


João Tiago Ferreira, cardiopneumologista, é um dos especialistas do Centro de Gestão Clínica da Linde Saúde, envolvido no projeto-piloto para DPOC

O que são então os sistemas de telemonitoriação? “Como o nome sugere, trata-se de uma monitorização remota, através de sistemas sem fios como, por exemplo, os tablets e os smartphones, dos bio-sinais recolhidos pelo doente (a pressão arterial, a oximetria de pulso, a temperatura axilar, o electrocardiograma, o peso, a glicémia) que são agregados numa aplicação móvel e enviados para os profissionais de saúde do Centro de Gestão Clínica, do hospital e/ou centro de saúde”, explica o cardiopneumologista.

A recolha dos bio-sinais pode ser feita regularmente ou “com uma pré-determinada frequência, de acordo com o programa que estiver indicado para o doente e doença crónica em questão”.

Do lado dos profissionais de saúde, basta que estes tenham acesso a um computador com um programa específico para a recolha, triagem e análise dos dados enviados pelo doente, e com função de gestão de alertas que permitem assinalar valores anormais de acordo com o padrão normal de cada doente.

“Quando indicado, estes profissionais contactam os doentes para correlacionar os dados recebidos com as suas queixas e, de acordo com o protocolo - previamente estabelecido com os profissionais de saúde do hospital –, podem confirmar um alerta clínico  e processá-lo de acordo com o estabelecido”, descreve este especialista.

Os dados, sinais e sintomas do doente ficam acessíveis de forma imediata e, caso seja necessário, o especialista pode intervir a nível da terapêutica ou indicar acompanhamento clínico ou hospitalar, consoante a gravidade da situação.

“A implementação deste serviço depende de financiamentos específicos de entidade hospitalar, bem como da necessidade de criação de um protocolo específico para o acompanhamento destes doentes, baseado na gestão da doença crónica”, acrescenta.

Os cinco projetos-piloto na área da DPOC decorreram, ao longo de sete meses, em diversas regiões de Portugal. “De uma forma geral, permitiram reduzir as idas à urgência, os internamentos, bem como a demora-média (dias de internamento). Além disso, os participantes deste projeto-piloto sentiram-se muito satisfeitos com os serviços de telemonitorização”, revela João Tiago Pereira.

Relativamente aos custos, sabe-se, por exemplo, que o custo médio de um internamento por doença respiratória é de 1.892 euros e que estas patologias (com a excepção do cancro do pulmão) constituem a terceira causa mais importante de custos diretos com os internamento hospitalares a seguir às doenças cardiovasculares e do sistema nervoso. Em 2013, os gastos com esta doença ascenderam aos 213 milhões de euros.

“A implementação, de forma generalizada, depende sobretudo de estratégias do âmbito de políticas de saúde, da motivação dos profissionais de saúde para estes novos serviços, mas também de evidência de custo-benefício destes programas”, refere o especialista que se mostra expectante quanto ao futuro.

“Atualmente, vemos tendências positivas. É evidente uma política de saúde que inclui telemedicina nos seus planos estratégicos e, por outro lado, os projetos-piloto têm permitido testar modelos de atuação e intervenção, bem como demonstrado a sua eficiência em comparação com o acompanhamento sem telemedicina, deste doentes”, evidencia.

Até ao final do ano espera-se que a área de atuação da telemedicina seja alargada para casos de insuficiência cardíaca e pós-enfarte agudo do miocárdio.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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