Risco cardiovascular

Tabagismo: um problema de todos nós!

Atualizado: 
25/07/2018 - 10:06
O tabagismo constitui um dos principais fatores de risco para morte. Paradoxalmente, sendo um fator de risco modificável, com malefícios comprovados há várias décadas, ainda fará sentido atualmente constituir um problema de Saúde Pública? Sim, infelizmente faz todo o sentido!

É fundamental relembrar e reforçar os efeitos prejudiciais do tabaco, porque os ‘números’ continuam a ser assustadores. Por outro lado, sendo este um fator de risco passível de ser modificável pela alteração do estilo de vida, deve ser incentivado que nunca é tarde demais para deixar de fumar, salientando-se o benefício clínico da cessação tabágica.

Segundo a Organização Mundial de Saúde o tabaco é responsável pela morte de cerca de metade dos fumadores, correspondendo globalmente a mais de sete milhões de óbitos por ano. Este problema atinge ainda maiores proporções, porque mais de 80% dos fumadores residem em países em vias de desenvolvimento, nos quais o crescimento populacional é exponencial.

Os mecanismos que justificam os malefícios do tabaco são diversos. Por exemplo, o tabaco é composto por mais de 4000 substâncias químicas, das quais pelo menos 250 são prejudiciais para a saúde e mais de 50 são comprovadamente cancerígenas.

Entre as diversas complicações clínicas e efeitos prejudiciais do tabaco, destacam-se pela sua gravidade e impacto prognóstico, as neoplasias e as doenças cardiovasculares. No que diz respeito às neoplasias, pode-se afirmar que o tabaco se associa ao desenvolvimento de cancro em praticamente todos os órgãos do organismo, tais como o pulmão, cólon, laringe, esófago, fígado, estômago, pâncreas, rim, bexiga, entre outros. Neste contexto, destaca-se obviamente o cancro do pulmão, causado na grande maioria (>90% dos casos) pelo tabaco. Os fumadores apresentam um risco cerca de 25 vezes superior para o desenvolvimento desta doença. Em termos respiratórios o tabaco também está na base do aparecimento de outras doenças caracterizadas por uma elevada mortalidade e morbilidade, salientando-se a doença pulmonar obstrutiva crónica (bronquite crónica ou enfisema pulmonar).

Em termos cardiovasculares o tabaco é um fator de risco major para a ocorrência de eventos graves como o acidente vascular cerebral e o enfarte agudo do miocárdio (risco 2-4 vezes superior ao dos não fumadores), as principais causas de morte global na atualidade. Neste âmbito, o tabaco despoleta diversas alterações fisiopatológicas que contribuem para o desenvolvimento de aterosclerose, contribuindo assim para a oclusão arterial progressiva originando angina de peito no caso das artérias coronárias e para a rotura de placas ateroscleróticas não obstrutivas, originando eventos agudos como o enfarte agudo do miocárdio, potencialmente fatal. Por outro lado, o tabagismo associa-se a outros fatores de risco cardiovascular, como a hipertensão arterial, a diabetes e a dislipidemia, que combinados aumentam o risco da ocorrência de complicações graves, incluindo a morte.

O espectro dos malefícios do tabaco não se esgota nestas doenças. Afeta a fertilidade e a função sexual, promove o desenvolvimento de alterações oftalmológicas como cataratas, doenças músculo-esqueléticas e durante a gravidez é responsável por múltiplas complicações. A manutenção do hábito durante a gravidez pode precipitar partos pré-termo e afetar o crescimento fetal e o desenvolvimento de diversas malformações irreversíveis e com implicações para o resto da vida.

Além dos fumadores, não se podem esquecer os efeitos clínicos prejudiciais a que os fumadores passivos estão sujeitos, incluindo o risco acrescido de complicações cardiovasculares.

Apesar de se poder afirmar que ‘quanto mais tabaco pior’, a mensagem principal de aconselhamento não deve ser ‘fume menos’, mas sim, ‘deixe de fumar’. Mesmo os fumadores com pouca intensidade (menos de 5 cigarros por dia) têm maior risco para a ocorrência destes eventos clínicos. Portanto, nunca é tarde para deixar de fumar e a cessação tabágica reduz o risco de complicações como o cancro e as doenças cardiovasculares.

No entanto, este hábito causa dependência, não sendo frequentemente fácil abandoná-lo. A motivação e a consciencialização da necessidade de deixar de fumar são passos iniciais fundamentais, mas o aconselhamento com profissionais de saúde dedicados e especializados em cessação tabágica é crucial.

Além dos efeitos para a saúde, o tabaco também acarreta um elevado impacto socioeconómico, sendo responsável por uma elevada taxa de absentismo laboral e incremento nos gastos com a saúde. Portanto, o tabaco é uma realidade que temos de combater, com implicações para todos nós, sejamos ou não fumadores. De facto, este combate não deve ser focado apenas nos fumadores e no tratamento das suas complicações, devendo ir mais longe, a começar na educação e na implementação de programas preventivos abrangentes que ultrapassem o individual e nos envolvam a todos nós enquanto sociedade.

Deixe de fumar, viva mais e melhor!

Autor: 
Dr. Hélder Dores - Corclínica - Cardiologia Desportiva e NOVA Medical School
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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