Opinião

Sexualidade não tem prazo de validade

Atualizado: 
14/08/2020 - 10:15
A sexualidade, quando relacionada ao envelhecimento, remete a mitos e estereótipos, levando os integrantes da terceira idade à condição de pessoas assexuadas, o que consequentemente, representa um tabu.

O envelhecimento é um processo natural da vida que traz tanto vantagens como algumas desvantagens.

O ser humano evolui constantemente, tanto as condições de vida como o próprio desenvolvimento, passam por muitas mudanças. Esta é uma fase em que se amadurece, onde se ganha sabedoria, consciência de comportamento, é uma conquista de cada um, onde a maturidade faz a diferença. No que diz respeito à sexualidade, ainda existe dificuldade em falar sobre este tema, estando ainda presente a educação duma época em que a sexualidade era algo terrível, impróprio, imoral, algo que a igreja colocava como pecado mortal, impuro, a depender da linha religiosa.

As crenças existentes, bem como uma sociedade em que olha para o idoso como incapacitado, inativo, algo preocupante, como se pudesse ser evitado ou mudado, são um dos factores que podem afectar o comportamento e a resposta sexual.

É natural que com o avançar da idade se sofra transformações, promovendo limitações físicas ou estéticas.

Os atrativos físicos nem sempre chamam à atenção e muitas pessoas pensam que as pessoas idosas são menos sedutores e sensuais, e por esse mesmo motivo, eles tenham dificuldades de expressar a sua sexualidade.

A sexualidade, quando relacionada ao envelhecimento, remete a mitos e estereótipos, levando os integrantes da terceira idade à condição de pessoas assexuadas, o que consequentemente, representa um tabu.

No entanto, a expectativa de vida da população aumentou e existe uma maior atenção ao envelhecer, ou seja, um processo complexo que ultrapassa a divisão etária, envolvendo aspectos relacionados à saúde, entre eles a sexualidade como variável que interfere na qualidade de vida do ser humano.

Portanto, a sexualidade nunca esteve tão viva, tão presente, afinal está cientificamente comprovado que o sexo, a sexualidade, a sensualidade são inerentes ao ser humano, pois contribui para a saúde, bem estar e equilíbrio emocional.

Desta forma, é importante definir que a sexualidade não se limita somente à junção dos órgão sexuais nem ao acto sexual em si, mas todo um envolvimento de carícias, sentimentos, cumplicidade, partilha, expressões de diferentes formas. Cada pessoa tem seu potencial determinado de diferentes condições e fatores, e dever-se-á ter em conta que o tema sexualidade traduz diversos significados para cada pessoa.

Apesar do envelhecimento tender à diminuição da vitalidade, da força, da exuberância do corpo, dos reflexos, também possui inúmeros benefícios, como a experiencia, a sabedoria, a confiança, o conhecimento, a paciência, capacidade para resolver problemas, determinação, maturidade e consciência de obrigação.

É importante saber que o envelhecimento não compromete necessariamente a sexualidade. 

Estas respostas sexuais só ficarão comprometidas se estiverem perante um bloqueio físico ou psicossocial, como por exemplo as doenças crónicas, os efeitos secundários de alguns medicamentos, a monotonia sexual, a depressão, o excesso de preocupações, a ausência de parceiro (por morte ou por separação), desmotivação de um dos parceiros. É também referido por algumas mulheres  o aumento da actividade sexual na menopausa que pode, entre outros factores, estar ligado ao desaparecimento do medo de engravidar, contudo outras mulheres divergem e verificam diminuição do desejo e até mesmo ausência do mesmo.

A sexualidade não tem prazo de validade e tem que ser visto de uma forma muito mais abrangente.  Inclusive , a tendência é para que seja melhor com a idade, pois as pessoas tem mais disponibilidade, compreendem melhor o corpo e pode ser mais gratificante. E mesmo que diminua com a idade por questões hormonais ou outras circunstância da vida, pode-se sempre investir na cumplicidade, nos afectos e no companheirismo.  

Dra. Sílvia Botelho
Psicóloga Clínica/Diretora Geral
Academia de Psicologia da Criança e da Família

Nota: 
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