Inflamatória, não contagiosa mas crónica

Rosácea, a doença da pele vermelha

Atualizado: 
01/07/2019 - 11:17
A Rosácea é uma doença da pele não contagiosa caracterizada por vermelhidão nas bochechas, nariz, queixo ou testa. Os efeitos da rosácea vão para além do impacto físico, uma vez que origina um grande impacto emocional, pois diminui a auto-estima, provoca constrangimento social, depressão e ansiedade.
Mulher com o rosácea a ver-se ao espelho

Depois de pela primeira vez se comemorar o Mês de Sensibilização da Rosácea, um grupo de especialistas levou a cabo um estudo - Face Values: Global Perceptions Survey – com o objectivo de avaliar o impacto psicológico do eritema facial da rosácea, quer do ponto de vista pessoal, quer do ponto de vista da repercussão externa.

“Os seus resultados não só confirmam que a doença tem uma repercussão negativa na vida social, profissional e emocional dos doentes, como salienta a opinião desfavorável que a população pode ter de uma pessoa com o rosto vermelho, nomeadamente no que toca a sua personalidade e competências profissionais”, refere Ana Fidalgo, Dermatologista na Fundação Champalimaud e na Clínica Dermatológica Sequine.

A Rosácea é uma doença cutânea crónica comum que afecta principalmente a pele do rosto e caracteriza-se por um conjunto de sinais e sintomas, que incluem flushing, eritema persistente, pápulas inflamatórias e pústulas, sensação de calor ou ardor, nas áreas afectadas. Pode ocorrer igualmente aumento de volume localizado (designado por alterações fimatosas), que com mais frequência envolve nariz, região frontal, queixo (mento) ou pálpebras”, explica Ana Fidalgo.

Em Portugal, comenta a especialista, “não existem estudos aprofundados sobre a prevalência da doença, porém, estima-se que a doença afecte cerca de 45 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo mais frequente em populações com tom de pele mais claro. Ou seja, mais sensível ao sol, e em mulheres de meia-idade”.

Não existe nenhum teste de diagnóstico específico para a rosácea. Geralmente, o dermatologista faz o diagnóstico através da observação da pele afectada. A esta observação juntam-se normalmente algumas perguntas ao doente, sobre familiares que tenham rosácea, medicação que estejam a fazer, entre outras.

As causas exactas da doença não são ainda conhecidas, mas na opinião da dermatologista “são seguramente multifactoriais”

“De uma forma simples, admite-se que seja uma resposta anómala e heterogénea do sistema vascular da pele, associado à susceptibilidade genética individual, e a factores ambientais desencadeantes, tais como o calor, sol, bebidas quentes, álcool”, refere Ana Fidalgo acrescentando que “outros factores, igualmente importantes relacionam-se com os estímulos neurogénico (ansiedade) e hormonal. A interacção destes factores conduz à vasodilatação anormal dos vasos superficiais do rosto, inicialmente de forma transitória e que, com o passar do tempo, se torna persistente. São sobretudo os factores externos, nomeadamente, exposição inadequada ao sol, ambientes ou alimentos quentes, álcool, que são mais fáceis de evitar e controlar”.

Nessa medida convém que os doentes com Rosácea evitem os principais factores de agravamento da doença:

  • Ambientes quentes,
  • Mudanças súbitas de temperatura,
  • Exposição solar exagerada e não protegida,
  • Stress,
  • Ingestão de alimentos picantes,
  • Bebidas quentes
  • Bebidas alcoólicas,
  • Uso de cremes com elevado potencial irritativo.

Impactos da rosácea

Apesar da sua benignidade, a Rosácea tem um impacto muito significativo na imagem pessoal e auto-estima, e pode ter importantes repercussões na vida profissional e social dos doentes, fomentando a insegurança e o medo de exposição. Este impacto emocional foi avaliado numa pesquisa realizada pela National Rosacea Society, que incluiu mais de 500 pessoas com rosácea, e 42% relataram sentir-se tristes ou deprimidas com a aparência da sua pele.

Ana Fidalgo salienta que, “a sociedade actual não só sobrevaloriza a imagem como delineia padrões de perfeição, nos quais um doente com rosácea não se enquadra”.

Os resultados do estudo Face Values: Global Perceptions Survey demonstram que as pessoas em geral, e os próprios pacientes com Rosácea, têm tendência para julgar negativamente as pessoas com eritema facial no seu dia-a-dia. Os pacientes que participaram no estudo afirmaram que a doença tem impactos negativos a nível emocional, social e no local de trabalho.

Um total de 6.831 pessoas, de oito países, participaram no estudo em que observaram fotografias de faces com e sem eritema. As fotografias de pessoas sem vermelhidão facial foram fortemente associadas a traços positivos, como “relaxado” ou “saudável”, enquanto as pessoas com eritema foram mais associadas a uma situação menos saudável e a traços de personalidade negativos, como “doente”, “stressado” e “inseguro”.

Quando confrontados com estas fotografias, a maioria dos participantes mostrou maior tendência para, numa situação laboral, contratar pessoas sem eritema facial – contratariam 85% das pessoas sem vermelhidão versus 70% das pessoas com eritema. No que toca às relações pessoais, as diferenças mantiveram-se: os inquiridos consideraram que poderiam ser amigos de 58% das pessoas com eritema, versus 71% das pessoas sem.

Também os pacientes com Rosácea que participaram neste estudo mostraram-se insatisfeitos com a aparência da sua pele e afirmaram sentir-se julgados injustamente no seu dia-a-dia: 36% dos inquiridos com eritema facial afirmaram sentir-se desconfortáveis ao conhecer outras pessoas, enquanto 77% afirmou que a aparência da sua pele tem um impacto emocional, indo desde o constrangimento (46%) até ao sentir-se triste/deprimido (22%).

Perto de metade dos participantes no estudo já experienciaram reacções directas de outras pessoas quando confrontadas com o seu eritema: 15% já ouviram dizer que bebem demais ou que têm acne, e 26% foram alvo de recomendações para cuidados específicos que deveriam ter com a pele.

Tratamento da rosácea

Com frequência os doentes tentam resolver o problema da vermelhidão com todos os tipos de produtos, em particular os que permitem um disfarce imediato, como bases, maquilhagem corretora ou mais recentemente os cremes BB. “Infelizmente, nem sempre os mais adequados para a sua doença”, comenta a dermatologista, sublinhando que apesar disso, “é importante passar a mensagem de que a doença pode ser controlada, existindo actualmente diversas terapêuticas acessíveis e eficazes, que permitem reduzir bastante o eritema facial. Para tal é importante reconhecer a doença e procurar ajuda especializada”.

Não só porque cada um doente é um caso, como também pelo facto de existirem vários subtipos clínicos de rosácea, “os tratamentos são variados e incluem medicamentos tópicos, sistémicos - orais, e laser (vascular e outros)”.

Mas de uma forma global, Ana Fidalgo recomenda “o uso de fotoprotecção de largo espectro, os cuidados de higiene com produtos de limpeza suaves, a aplicação de hidratantes com baixo potencial irritativo e com acção nos vasos cutâneos, são recomendações comuns a todos os doentes com rosácea”.

Por expressa opção do autor, o texto não respeita o Acordo Ortográfico

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Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
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