As várias intervenções

Reeducação respiratória

Atualizado: 
13/08/2019 - 10:42
A reabilitação respiratória é, desde há muito tempo, um ponto de extrema importância no tratamento e controlo de doenças respiratórias. Esta é fundamental para uma boa ventilação e para a prevenção e correção de deformidades posturais.
Homem a utilizar máscara de oxigénio

Existem várias intervenções de reabilitação como, por exemplo, a drenagem postural, as técnicas de reexpansão pulmonar e os exercícios respiratórios. A reeducação respiratória é considerada uma terapêutica em que a sua intervenção principal é incidente no movimento, ou seja, nos fenómenos mecânicos da respiração (ventilação externa).

Segundo Hipócrates a respiração é “o ritmo básico da vida”, ritmo esse que se baseia num processo de trocas gasosas entre as células do organismo de cada indivíduo e a atmosfera ambiente. As trocas gasosas envolvem três componentes básicos, que são o pulmonar (responsável pelo fornecimento), o circulatório (responsável pelo transporte) e o metabólico (responsável pela utilização). A função da respiração assenta em quatro pontos fulcrais que são a ventilação (movimentação do ar entre a atmosfera e os alvéolos), a perfusão (circulação sanguínea pulmonar), a difusão (troca de gases entre os alvéolos e os capilares pulmonares) e o transporte (movimentação dos gases no sangue entre os alvéolos e os diferentes tecidos).

A ventilação é um processo rítmico e automático que provoca a renovação do ar nas vias condutoras de ar para os pulmões e do ar que existe no espaço alveolar, ocorrendo durante a inspiração e a expiração pulmonar.

A inspiração baseia-se na entrada de ar nos pulmões, e acontece por uma contração do diafragma e dos músculos intercostais, que promove uma redução da pressão interna, o que força o ar a entrar nos pulmões. A expiração provoca a saída de ar dos pulmões, ocorrendo um relaxamento do diafragma e dos músculos intercostais, o que aumenta a pressão interna, obrigando o ar a sair dos pulmões. Os músculos intervenientes no processo de inspiração são o diafragma e os intercostais externos (músculos principais), e os escalenos, peitoral maior e menor, serrado anterior, grande dorsal e músculos faríngeos (músculos acessórios). Na expiração os músculos intervenientes principais são os abdominais e os intercostais internos.

Situações diferentes para reeducar

Hoje em dia a reeducação respiratória é uma indicação em várias situações clínicas, entre elas:

  • alterações na caixa torácica, como por exemplo deformidades na coluna e na parede;
  • patologias broncopulmonares, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), as supurações broncopulmunares, as pneumonias e atelectasias, as granulomatoses e fibroses pulmonares;
  • patologias pleurais, como o derrame pleural e o pneumotórax;
  • patologia de foro neuromuscular com influência direta na dinâmica torácica;
  • patologias cardíacas, como a cardiopatia isquémica ou a cor pulmonale;
  • em situações geriátricas, gerontológicas e outras situações médicas, ou cirúrgicas, em que esteja presente a estase de secreções, ou insuficiência respiratória.

Cada caso é uma caso, pelo que todas as situações são particulares e devem ser ponderadas, no entanto são contraindicações para reabilitação respiratória as situações clínicas de hemoptises e hemorragias digestivas, choque, embolias pulmonares, edemas agudos do pulmão, síndromes de dificuldade respiratória nos adultos, tuberculoses pulmonares ativas e cancro do pulmão e pleura.

Principais objectivos

A função principal da reeducação respiratória é restabelecer o padrão funcional da respiração, através de técnicas manuais, posturais e cinéticas, dos componentes toracoabdominais. Como tal, os objetivos principais de uma reeducação respiratória são:

  • prevenir e corrigir alterações esqueléticas e musculares, melhorando a sua performance;
  • assegurar a permeabilização das vias aéreas;
  • prevenir e corrigir defeitos de ventilação para uma melhor distribuição e ventilação alveolar;
  • mobilizar as secreções brônquicas, promovendo a sua eliminação;
  • melhorar a ventilação pulmonar, promovendo a reexpansão pulmonar, melhorando assim a oxigenação e trocas gasosas;
  • diminuir o trabalho respiratório, diminuindo assim o consumo de oxigénio;
  • aumentar a mobilidade torácica e a força muscular respiratória;
  • promover a independência respiratória funcional;
  • prevenir complicações;
  • reduzir os sintomas;
  • melhorar a qualidade de vida da pessoa;
  • reduzir a ansiedade;
  • aumentar a participação física e emocional nas atividades de vida diária;
  • acelerar a recuperação da pessoa.

Ao proporcionar uma reeducação respiratória a uma pessoa deve ter-se em conta a fase em que se encontra a sua patologia, e as complicações que a ela se associam, as condições físicas, sociais e económicas, a forma como a pessoa consegue apreender o tratamento e a sua motivação e do cuidador, o local onde se realizará a reabilitação e os meios e os recursos que estarão disponíveis. Para que se atinja o êxito num plano de reabilitação respiratória é necessário proporcionar um ambiente calmo e de confiança, ter em conta a informação dada à pessoa e a forma como se educa e ensina, aplicar métodos motivacionais e incentivar a colaboração ativa da pessoa, explicando todos os procedimentos a adotar e qual a importância da sua participação e colaboração.

Idade pediátrica

Existem particularidades na reeducação respiratória que se prendem com a idade pediátrica. Uma criança não é um adulto em ponto pequeno, pelo que existem pontos de vista a serem tidos em conta nestas terapias. As técnicas devem ser aplicadas de uma forma passiva, quando não há colaboração por parte da criança, como é o caso dos latentes e recém-nascidos, e de forma ativa nas crianças maiores e adolescentes. Sempre que possível, as terapias devem ser efetuadas de uma forma lúdica, com ajuda de jogos e brincadeiras, nas crianças pequenas e em idade pré-escolar. Quando temos um tratamento pediátrico em mãos deve-se sempre tratar e cuidar, brincando, para uma libertação dos seus medos e para uma melhor eficiência do tratamento. Nas crianças as situações mais comuns que necessitam de reeducação respiratória são as infeções respiratórias, a asma, as pneumonias, as bronquites, e as complicações advindas de doenças neurológicas, de doenças cardiovasculares e de pós-operatórios. O objetivo principal da reabilitação em pediatria é a prevenção. Como tal, aposta-se principalmente na mobilização e consequente eliminação de secreções brônquicas, na prevenção e correção da ventilação pulmonar, oxigenação e trocas gasosas, e na prevenção de complicações e danos estruturais pulmonares.

A reeducação respiratória faz-se através de diversas técnicas, entre elas técnicas de relaxamento e descanso, consciencialização e controlo de respiração, exercícios respiratórios com reeducação diafragmática e reeducação costal, manobras de limpeza das vias aéreas, como ensinos da tosse, drenagens posturais ou manobras acessórias de percussão, vibração, compressão e vibrocompressão, técnicas de correção postural, treino de atividades de vida diária, entre outras. Todas estas técnicas devem ser prescritas, proporcionadas e ensinadas por técnicos de saúde devidamente competentes e certificados para esse efeito.

Bibliografia:
Branco, P. S. (2012). Temas de reabilitação - Reabilitação respiratória. Porto: Servier.
Cordeiro, M. d., & Menoita, E. C. (2012). Manual de boas práticas na reabilitação respiratória - Conceitos princípios e técnicas. Loures: Lusociência.

Artigos relacionados

Doenças respiratórias matam mais no Inverno

“O doente com asma pode e deve praticar exercício físico”

DPOC: “A luta para conseguir respirar tornou-se constante”

Autor: 
Ângela Quinteiro - Enfermeira Especialista na USF Viriato Viseu
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
Foto: 
ShutterStock