Falsas urgências

Quase metade dos casos não devia acabar nos hospitais

No ano passado os hospitais do SNS realizaram 6,4 milhões de urgências, o valor mais alto desde 2012. O problema maior é que 40% destes atendimentos são as chamadas falsas urgências. Casos em que foram atribuídas pulseiras verdes, azuis e brancas, o que significa que são situações que não têm grau de gravidade para serem atendidas num hospital. 2016 foi também o ano em que se registou um aumento dos gastos com as empresas de prestação de serviço médico, solução de recurso para garantir as escalas das urgências: cerca de 98 milhões de euros.

Desde 2013 que a percentagem de falsas urgências se mantém estável, a rondar os 40%. O retrato está visível nos dados disponíveis no site da Administração Central do Sistema de Saúde, que mostra igualmente que é na região de Lisboa e Vale do Tejo que esta realidade tem mais peso. Nos últimos anos o peso das falsas urgências nesta região tem estado sempre acima dos 45%, quando as restantes dificilmente chegam aos 40%.

As prioridades no atendimento da urgência são feitos com base na triagem de Manchester, escreve o Diário de Notícias. Aos casos considerados urgentes, que precisam de cuidados hospitalares são atribuídas pulseiras vermelha (emergente, que deve ser atendido de imediato), laranja (muito urgente, com um tempo máximo de espera até 10 minutos) e amarela (urgente, com atendimento até 60 minutos). As pulseiras verdes são considerados pouco urgentes, em que o atendimento deve ser feito até 120 minutos, e as azuis não urgentes, que podem esperar até 240 minutos. As pulseiras brancas são dadas por razões administrativas, por exemplo alguém que tem um exame marcado e que dá entrada para o fazer através da urgência.

Razões culturais
Entre as várias razões que levam os casos menos urgentes aos hospitais estão também motivos culturais, afirma Rui Nogueira, presidente da Associação dos Médicos de Família: "A sobreutilização das urgências é também um problema cultural que não se resolve de um dia para o outro. Ainda temos pessoas que pensam que recorrer ao médico é ir às urgências." Miguel Guimarães, bastonário dos médicos, lembra um inquérito feito há seis anos pela secção norte da Ordem a 200 a 300 utilizadores, sobre os fatores que as levaram às urgências. "Apesar de saberem que teriam de esperar mais tempo para serem atendidos, sabiam que eram vistos por um médico da especialidade e que fariam exames".

Fonte: 
Diário de Notícias Online
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock