Fisioterapia na doença Oncológica

Prevenção de linfedema em doentes intervencionados a cirurgia da mama por neoplasia

Atualizado: 
18/09/2017 - 10:26
Segundo a Association of Physiotherapists in Oncology and Palliative Care (1993) citada por Brancoft (2003), o objetivo do fisioterapeuta em oncologia é minimizar os efeitos que a doença e o seu tratamento trazem ao indivíduo, sendo que muitas vezes é possível melhorar a qualidade de vida independentemente do prognóstico.

As cirurgias ao cancro da mama que recorrem apenas à biópsia do gânglio sentinela têm um menor impacto na qualidade de vida das mulheres quando comparadas às cirurgias em que é realizada uma linfadenectomia axilar.

Existem estudos que afirmam que a incidência do linfedema no membro superior na mulher submetida a cirurgia a cancro da mama e a outras terapias oncológicas varia entre 6% a 83%, dependendo do tipo de cirurgia e restantes terapias oncológicas realizadas, verificando-se atualmente uma incidência média de cerca de 20% em mulheres submetidas a cirurgia com linfadenectomia, desenvolvendo-se a maioria nos 6 primeiros meses pós-cirurgia.

Como principais fatores de risco para o desenvolvimento do linfedema foram apontados o tipo de cirurgia, a obesidade (Índice de Massa Corporal), as terapias adjuvantes e níveis baixos de atividade física.

Os doentes que são submetidos a radioterapia após linfadenectomia axilar têm um risco acrescido do desenvolvimento de linfedema, dor no membro superior, diminuição da mobilidade do ombro, da força e da sensibilidade, em relação aos doentes submetidos somente à biópsia do gânglio sentinela (BGS).

Atualmente realizam-se várias cirurgias com recurso apenas à BGS (mastectomia simples ou total, mastectomia simples seguida de reconstrução com prótese, mastectomia simples com reconstrução com retalho miocutâneo do grande dorsal, mastectomia simples com reconstrução com retalho miocutâneo do músculo grande reto abdominal, cirurgias conservadoras

O modelo adotado na reabilitação física da mulher com cancro da mama devia iniciar-se no pós-operatório imediato (24 horas após a cirurgia) com uma avaliação pela fisiatria. A intervenção do fisioterapeuta, após a avaliação pelo fisiatra, depende sempre do protocolo de terapias oncológicas a que a doente será submetida. Esta consiste na entrega de informação sobre a prevenção de linfedema, de infeções subcutâneas e de um plano de exercícios específico para doentes submetidos a cirurgia a cancro da mama com linfadenectomia axilar. Posteriormente a doente é submetida a tratamentos individuais de fisioterapia (com a aplicação de diferentes técnicas, dependendo das complicações existentes). Estes tratamentos são mantidos até à obtenção de uma função normal ou até aproximadamente 2 semanas após o final da radioterapia. A doente tem o apoio por parte da fisioterapia ao longo de toda a sua vida.

No protocolo de avaliação desenvolvido para a área da cirurgia mamária consta: avaliação subjetiva, inspeção, palpação, amplitudes articulares, amplitudes musculares, força muscular, sensibilidade, perimetria;

Aconselhamento sobre prevenção de edema e infeções subcutâneas

As guidelines definidas por Harris et al. (2012) e Leduc et al. (2008), no que respeita à prevenção de edema e infeções subcutâneas, seguem as orientações da guideline definida pela International Society of Lymphology (2013).

 Segundo essa linha de orientação, o doente submetido a uma linfadenectomia insere-se num grupo de risco de desenvolvimento de edema e de infeções subcutâneas, devendo no decorrer de toda a sua vida realizar uma prevenção de edema e de infeções subcutâneas.

 Essa prevenção assenta nas seguintes premissas:

Evitar situações de garrote no lado da linfadenectomia (tirar sangue, medir a tensão arterial, usar vestuário apertado…), evitar fontes de calor direto no membro superior e tronco do lado da linfadenectomia (sacos de água quente, sauna, exposição prolongada ao sol…);

Evitar transportar pesos acima de 2 Kg do lado da cirurgia, manter uma pele bem hidratada, evitar qualquer tipo de ferimento do lado da cirurgia (usar luvas quando realiza atividades com o risco de corte).

Em caso de ferimento realizar imediatamente a desinfeção e proteção do local. O doente deve ser instruído quanto aos principais sinais e sintomas de uma infeção subcutânea.

A evidência demonstra que a intervenção precoce da fisioterapia no período pós-cirúrgico do cancro de mama, consegue reduzir a ocorrência dos efeitos secundários provenientes do ato cirúrgico (diminuição das amplitudes articulares ao nível do ombro, diminuição da funcionalidade e aparecimento do linfedema).

No Hospital Lusíadas Lisboa são estes os procedimentos usualmente adotados no serviço de MFR no caso dos utentes com linfedema. O papel do fisioterapeuta passa essencialmente por reduzir o edema através de técnicas como a drenagem linfática manual, a pressoterapia, a utilização de bandas multicamadas e contração muscular através do exercício.

Tem também o papel fundamental de aconselhamento, sobre os cuidados a ter ao longo do dia para com a pele e durante as várias atividades diárias. Posteriormente o fisioterapeuta preparará o utente para uma fase de manutenção dos ganhos obtidos ao longo dos tratamentos. Para tal reforçará a ideia de que os cuidados com a pele são essenciais, que a prática de exercícios é fundamental e dá também o seu parecer para a necessidade de aquisição de manga de compressão.

Autor: 
Dra. Amália Ferreira - Fisioterapeuta Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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