Opinião

Prestação de cuidados de saúde de qualidade por fisioterapeutas – para quando o total reconhecimento da profissão?

Atualizado: 
10/09/2018 - 11:25
Para assinalar o Dia Mundial da Fisioterapia, Sérgio Loureiro Nuno escreve sobre aquela que ainda é uma profissão pouco reconhecida.

No dia 8 de Setembro, celebra-se o dia Mundial da Fisioterapia. De facto, escrevo hoje sobre a minha profissão de saúde, com a sensação que ainda há um longo caminho a percorrer. Vou contar um diálogo (caricato) que tive durante o meu dia de trabalho há alguns dias atrás e que revela o que disse anteriormente.

“Sabe, adoro a sua profissão”, desabafava um paciente. “O que é que necessito de saber para também ser fisioterapeuta?” Respondi: “Então, basta ter o 9º ano de escolaridade e candidatar-se a fazer este trabalho, é fácil.” Estranhamente, começou a acreditar que isto seria possível (para meu espanto, como é óbvio).

A explicação perante tamanha falta de informação, nem sempre é fácil de ser feita, mas acaba por ser o meu testemunho neste dia Mundial da Fisioterapia.

“A minha profissão começou há muitos anos atrás. Já Hipócrates (460 a.C. – 370 a.C.) dizia: “Um homem sensato, considera a saúde, como a sua maior bênção” e “Não se pode estudar uma doença isolada, mas sim o paciente como um todo.” Apesar de não ter sido aí que começou a profissão, mas acaba por ser uma das razões para ser tão importante atualmente. Os antigos Gregos compreenderam também que a capacidade para o movimento era um elemento vital para a saúde e para o bem-estar geral.

Em 1851, Gleich usou pela primeira vez o termo Fisioterapia. Foi numa altura em que se procuravam cuidados de saúde mais eficazes e que voltou a ter mais repercussão, por volta da 1ª e 2ª Guerra Mundial. A existência de um grande número de pessoas com problemas físicos graves, maioritariamente em idade jovem, trouxe novamente a necessidade de dar outro tipo de cuidados de saúde à população, privilegiando a funcionalidade das pessoas.

A criação oficial da Escola de Saúde de Alcoitão em 1966 (já lá vão 52 anos...) foi um grande marco para a Fisioterapia em Portugal. Neste momento, existem 19 instituições de ensino superior em Portugal com cursos de Fisioterapia.

Antes de tudo, não é fisioterapeuta quem quer, mas quem tem capacidades para ingressar com média suficiente no curso, no ensino superior. Após o curso de formação base, que tem a duração de 4 anos, o fisioterapeuta sente (quase sempre) necessidade de participar em inúmeras formações. Em média, uma formação simples de atualização, de apenas 2 dias, pode rondar os 300/400 euros. Para além disso, são cada vez mais os fisioterapeutas que já possuem mestrado, pós-graduações, doutoramento e até, pós-doutoramento. A Fisioterapia é, certamente, das áreas de saúde com maior investimento académico. Ainda quer ser fisioterapeuta? Caso tenha também vocação, espero que sim. É inexplicável conseguir melhorar a qualidade de vida das pessoas, mas também terá de estudar muito para isso...

Ao longo de todo o percurso evolutivo da Fisioterapia, a formação de nível superior foi um dos pilares essencias da construção da identidade desta comunidade científica, em Portugal. A evolução dos cuidados de saúde permite atualmente aos fisioterapeutas trabalhar cada vez mais de forma segura e independente, sempre enquadrados numa equipa multidisciplinar.

O projeto-lei da Ordem dos Fisioterapeutas já foi aprovado na generalidade há vários meses e espera-se que seja discutido na especialidade. A criação de uma Ordem de Fisioterapeutas, prevê ser a solução para que os cuidados de Fisioterapia certificados sejam garantidos. Parece ser uma verdade de La Palice, mas o meu voto em dia Mundial da Fisioterapia é: “Fisioterapia, só com fisioterapeutas.”

Autor: 
Sérgio Loureiro Nuno - Fisioterapeuta Coordenador na Clínica São João de Deus
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Sérgio Nuno Loureiro