Dia do Não Fumador 2016

Nicotina induz dependência psicológica

Atualizado: 
17/11/2016 - 16:53
Considerado, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como uma doença aditiva crónica, o tabagismo é a principal causa evitável de morte, estimando-se que, em Portugal, mate mais de 30 pessoas por dia. Para assinalar o Dia do Não Fumador, a pneumologista Ana Tavares e Castro fala-nos sobre esta dependência.

O tabaco é um aerossol constituído por uma fase gasosa e uma fase de partículas. Para além da nicotina, já foram descritas mais de 4000 substâncias nocivas. Muitas existem na folha do tabaco, outras resultam da absorção pela planta de substâncias existentes no solo ou no ar, como pesticidas e fungicidas, outras são produzidas durante o processo de cura e de armazenamento da folha. Outras substâncias, como o mentol e o cacau, são adicionadas para tornar menos irritante ou aumentar a aceitabilidade, e podem potenciar o efeito aditivo da nicotina.

O tabagismo é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma doença crónica aditiva com recaídas. Ao fumar, qualquer pessoa pode rapidamente se tornar dependente da nicotina, que funciona como uma poderosa droga psicoativa, com um ação cerebral apenas comparável à da heroína e da cocaína. Induz uma dependência psicológica que atua por mecanismos de reforços positivos: dá uma sensação de prazer, reduz o stress e a ansiedade, e diminui o apetite e regula o peso, um fator extremamente valorizado sobretudo pelas mulheres.

O tabagismo é uma toxicodependência que se define pelo forte desejo ou compulsão para consumir, a dificuldade em controlar o consumo, a síndrome de abstinência quando a substância não é consumida, o desenvolvimento de tolerância (é necessário doses cada vez maiores para produzir o mesmo efeito) e a persistência do consumo, mesmo com sintomas de doença.

Globalmente, o tabagismo é a principal causa evitável de morte e o mais grave problema de saúde pública a nível mundial, sendo que Portugal não é uma exceção. Se, por um lado, cerca de 2 milhões de portugueses são fumadores, o que corresponde a 20% da população portuguesa, por outro,  o número estimado de mortes associadas ao tabaco em 2013 foi de 12.350 pessoas. Isto significa que, nesse ano, 11% do total de mortes foi devido ao tabaco.

A potente dependência à nicotina torna extremamente difícil deixar de fumar pois a ausência desta substância induz um intenso síndrome de privação relacionado com a elevada dependência física que a ela está associada. Uma vez que o tabagismo está intimamente relacionado com morte prematura e perda de anos de vida saudáveis, a realidade em Portugal está aquém das necessidades relativamente ao número de consultas de cessação tabágica e comparticipação nos fármacos que são utilizados para deixar de fumar. De facto, o agravamento geral das condições socioeconómicas dos portugueses fez-se acompanhar nos últimos anos por uma diminuição na utilização de fármacos para a cessação tabágica.

A nível mundial, o consumo de tabaco ainda está a aumentar, de tal forma que, em apenas 2014, estimaram-se um total de quase 6 mil milhões de fumadores em todo o mundo. Em contraste, em alguns países como o Reino Unido, a Austrália e o Brasil, onde foi implementado um robusto pacote de medidas legislativas contra o tabagismo, verificou-se uma redução significativa no consumo do tabaco. Contudo, esta redução foi largamente compensada pelo aumento desmesurado do número de fumadores na China, que devido à sua grande massa populacional tem um forte impacto na prevalência do tabagismo. Também na Região Mediterrânia Oriental se tem vindo a assistir a um grande aumento no consumo de tabaco.

No que diz respeito a perspectivas e riscos futuros, há uma noção de que em África, onde o desenvolvimento económico e o crescimento populacional poderá vir a  surgir um aumento excecional do número global de fumadores, contribuindo para uma maior prevalência mundial do tabagismo.

Está bem documentada a relação entre o consumo de tabaco e um número considerável de doenças, com particular destaque para o cancro em diversas localizações, as doenças respiratórias, as doenças cardiovasculares, infertilidade e nascimento prematuro.

Na mulher os efeitos são ainda mais nefastos, uma vez que a mulher tem uma maior susceptibilidade ao tabaco e infelizmente, em Portugal, tem-se assistido a um aumento do número de mulheres que fumam. Na saúde reprodutiva da mulher, fumar tem inúmeros efeitos nefastos: aumenta o risco de infertilidade, torna mais difícil conseguir engravidar e reduz o efeito da fertilização assistida.

Cada vez se torna mais necessário intervir sobretudo na prevenção e reduzir o número de pessoas que experimentar fumar.

A maioria dos fumadores começa a fumar cedo, o que justifica atuar nos grupos de adolescentes e jovens através de medidas de informação e de educação como medida preventiva do tabagismo.

Pensando nos jovens que já iniciaram o hábito de fumar, fumar, uma das medidas que reconhecidamente tem mais impacto na redução do consumo neste grupo etário é o aumento anual do preço do tabaco.

É igualmente importante incentivar uma política livre do fumo do tabaco, reduzindo a exposição e aceitação do tabaco, e apostar em medidas publicitárias desmistificando uma eventual associação entre o tabaco e uma maior aceitação social.

Apesar de todos os malefícios do tabaco, ao deixar de fumar, é possível reverter alguns dos dados provocados e obter benefícios indiscutíveis.

Nos primeiros 20 minutos o ritmo cardíaco desce e normaliza, passadas 12 horas o monóxido de carbono no sangue diminui e 1 mês depois de deixar de fumar o risco de enfarte do miocárdio reduz-se.

Os benefícios continuam-se a sentir todos os anos que se está sem fumar e 15 anos após deixar de fumar o risco de doença coronária é quase igual ao de uma pessoa que não fumou.

Embora em qualquer idade seja benéfico deixar de fumar, quanto mais cedo, mais ganhos se obtém para a saúde, mais anos de vida se adquire e mais anos de vida saudável se consegue conquistar.

Autor: 
Dra. Ana Tavares e Castro - Pneumologista Consulta Cessação Tabágica no Centro Diagnóstico Pneumológico
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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