Opinião

Na luta pela janela que nos une ao mundo

Atualizado: 
17/12/2018 - 16:43
Comemora-se, hoje, o Dia da Bengala Branca, uma data criada pela Federação Internacional de Cegos, em 1970. O objetivo é reconhecer a independência das pessoas com deficiência visual e sua plena participação na sociedade. Simbolicamente, a Bengala Branca representa a independência, a liberdade e a confiança.

Num mundo em que a cada segundo uma pessoa adulta fica cega e a cada minuto uma criança fica cega, e onde a OMS estima existirem entre 40 a 45 milhões de pessoas cegas e outros 135 milhões com limitações severas de visão, impõe-se refletir sobre as causas e os porquês de tão elevado número. Ainda mais quando se estima que entre 60% a 70% dos casos de cegueira são resultantes de causas previsíveis ou tratáveis. E quando as ações para a prevenção e/ou tratamento precoce ou educação da pessoa não estão a ser suficientes.

De um modo sumário, as causas da cegueira dividem-se em dois grupos. A cegueira curável, cuja causa maior é a catarata, mas que uma cirurgia com recurso a novas tecnologias, Facolaser, pode reverter com enorme margem de segurança e eficácia, e a cegueira irreversível, cujas causas são, no adulto, a retinopatia diabética (RD), a degenerescência macular da idade (DMI) e o glaucoma.

Aqui constata-se algo terrível. Em primeiro lugar, depois de surgir a patologia, o processo é irreversível. Em segundo lugar, a maior parte destes casos podia e devia ter sido evitada. Na RD é essencial a educação do doente para um melhor controlo metabólico e para uma deteção precoce da doença. Um tratamento adequado e atempado, repito, adequado e atempado, é essencial na redução dos casos de cegueira por RD.

Na DMI, o que se referiu para a RD, aqui tem ainda mais expressão, pois o controlo metabólico, o controlo da tensão arterial e a educação para uma vida saudável são de uma importância essencial, pois a “fatura” paga-se mais tarde. Essenciais são também a deteção precoce e o tratamento adequado.

O glaucoma, o “assassino silencioso” da visão só se combate com a educação, entenda-se, com a informação das pessoas, pois só a sua deteção precoce, o tratamento adequado e a compliance do doente permitem controlar a doença e evitar a cegueira.

Na criança, as causas mais importantes de cegueira são a catarata e o glaucoma congénitos e a retinopatia do prematuro. Só a deteção e tratamento precoce permitem melhorar os resultados de intervenção terapêutica nestas crianças.

A OMS estima que em 2020, se não forem tomadas medidas de âmbito mundial e regional, haverá no mundo 75 milhões de cegos e 225 milhões de grandes amblíopes.

É fundamental que, não descurando a medicina curativa, colocando ao dispor dos doentes as novas metodologias de diagnóstico e tratamento, é fundamental investir fortemente na deteção precoce das doenças, através de rastreios e em campanhas de educação das pessoas.

Neste campo, deveria ser manifesta a responsabilidade social dos órgãos de comunicação social: jornais, revistas, rádio e televisão, não se excluindo a responsabilidade dos órgãos oficiais, como o Serviço Nacional de Saúde e a medicina privada.

É importante ainda a existência de consultas de subvisão para apoio a pessoas com baixa visão.

Baixa visão significa não conseguir ver o suficiente para ler uma carta, ver televisão ou realizar agilmente as tarefas diárias, mesmo após tratamentos, cirurgias, correção com óculos ou lentes de contacto. Como tal, a consulta de subvisão é dirigida a todos que apresentem dificuldades na realização destas ou de outras tarefas da vida diária.

Esta é uma forma de aproveitar o potencial máximo da visão residual e explorar o campo visual. Um treino bem adequado e a adaptação a ajudas ópticas/técnicas (tal como lupas) pode ser bastante eficaz.

Ter baixa visão não deverá, nunca, ser razão para pôr de parte as atividades que sempre foram realizadas. É sim, um desafio, mas em que não se está sozinho… com equipamentos e treino adequados é possível melhorar a autonomia e qualidade de vida.

A luta contra a cegueira é de todos e também nossa, que trouxemos para este campo de batalha o que de melhor há em inovação no diagnóstico e no tratamento, e com décadas de campanhas de rastreios e educação junto da população, para bem da janela que nos liga ao mundo, a visão.

Autores:
Prof. Doutor Eugénio Leite - Médico oftalmologista e Diretor Clínico das Clínicas Leite
Vera Pereira - Ortoptista nas Clínicas Leite
Mariana Coimbra - Assessora de Comunicação

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay