Especialista explica

Mitos da Saúde Oral

Atualizado: 
11/10/2022 - 15:23
Será que é verdade que a gravidez enfraquece os dentes ou que é normal as gengivas sangrarem durante a escovagem? Com a ajuda da especialista em Medicina Dentária das Clínicas Viver, Joana Vasconcelos Cruz, vamos tentar esclarecer dos mitos mais frequentes da saúde oral.

Mitos:

Dentes brancos são sempre dentes saudáveis.

Existe uma ideia pré-concebida de que os dentes para serem bonitos/estéticos devem ser brancos o que se confunde muitas vezes com saudável. Podemos ter dentes brancos mas que não estão saudáveis. A cor dos dentes está directamente relacionada com a quantidade de dentina e esmalte que os dentes têm na sua constituição. Para além disso, existem alimentos capazes de alterar a cor do esmalte dentário como é o caso do café ou de alimentos ricos em pigmentos como os taninos presentes no vinho tinto. Por estes motivos existem dentes que estão saudáveis mas que podem apresentar uma cor mais amarelada ou mais acinzentada bem como serem mais opacos ou mais translúcidos. 

Para ter dentes saudáveis só precisa cortar nos doces.

É verdade que as bactérias produzem ácidos a partir de açúcares mas qualquer alimento excepto água tem açúcar, apesar de não ser na sua forma mais simples, a glicose. Desta forma, para ter dentes saudáveis é necessário uma higiene oral adequada e é essencial apostar na prevenção e manutenção da saúde oral de uma forma integrada.

É preciso escovar com forçar para que os dentes fiquem bem limpos.

No que diz respeito à higiene dentária é muito mais importante ter uma técnica de escovagem adequada, capaz de alcançar todas as superfícies do dente e complementada pelo uso frequente de fio dentário. A força não é sinónimo de melhor escovagem, tornando-se até num estímulo abrasivo com potencial de danificar as estruturas dentárias.

É normal as gengivas sangrarem durante a escovagem.

Quando as gengivas sangram durante a escovagem é um sinal de alarme para algo que não está bem. A gengivite é uma inflamação das gengivas que acontece pela presença de bactérias que normalmente se encontram calcificadas na forma de pedra, o famoso tártaro, e que, se não for tratada poderá evoluir para uma doença mais grave e crónica que se chama periodontite. Nesta situação a infecção já passou da gengiva para os restantes tecidos que suportam os dentes, existindo perda de osso e mobilidade dentária. Muitas vezes estas situações passam despercebidas pois podem não dar grande sintomatologia, além de verificarmos com frequência que os doentes que referem que não sangram das gengivas não utilizam a técnica correcta para escovar. Assim, a gengivite quando identificada a tempo é facilmente tratada pelo que deverá procurar o seu médico dentista e apostar na prevenção. 

Mau hálito está apenas relacionado com a má higiene oral.

A forma mais comum de mau hálito está relacionada com a remoção insuficiente dos restos alimentares que permanecem na boca após a mastigação. Contudo existem outras causas de mau hálito associadas não só a bactérias especificas que colonizam a cavidade oral e vão afectar os tecidos que suportam os dentes, como também a patologias existentes nos sistemas digestivo e /ou respiratório. Como exemplos dessas patologias temos a gastrite e o refluxo no caso do digestivo, e a sinusite ou renite no que diz respeito ao respiratório.

As cáries são um problema exclusivo de crianças e adolescentes.

As cáries são uma doença que resulta da presença de bactérias e por isso qualquer pessoa do bebé ao idoso está predisposto à cárie.  As cáries na infância são um mal menor, já que os dentes de leite vão ser substituídos pela dentição definitiva.

As cáries em dentes de leite quando atingem a proporção de abcesso dentário podem influenciar a formação dos dentes definitivos ao ponto destes poderem nascer comprometidos. Para além desta situação, a partir dos 6 aos 12 anos já existe uma dentição mista onde os dentes definitivos coexistem no mesmo ambiente que os dentes de leite cariados. Esta é uma altura muito perigosa já que a cárie é uma doença contagiosa que vai passando de uns dentes para os outros.

As cáries na infância são um mal menor, já que os dentes de leite vão ser substituídos pela dentição definitiva.

As cáries em dentes de leite quando atingem a proporção de abcesso dentário podem influenciar a formação dos dentes definitivos ao ponto destes poderem nascer comprometidos. Para além desta situação, a partir dos 6 aos 12 anos já existe uma dentição mista onde os dentes definitivos coexistem no mesmo ambiente que os dentes de leite cariados. Esta é uma altura muito perigosa já que a cárie é uma doença contagiosa que vai passando de uns dentes para os outros. 

Se não tem dores, não precisa ir ao dentista.

A dor é muitas vezes o que motiva a visita ao dentista, contudo quando já existe dor significa que a lesão de cárie já evoluiu de tal forma que já atingiu a polpa dentária (o nervo) e por isso, na grande maioria das vezes os dentes já estão bastante destruídos e as desvitalizações, as grandes restaurações ou até mesmo as extracções já são as únicas alternativas. Se se adoptar uma postura preventiva em vez de uma postura interventiva, muitos episódios de dor e muitos tratamentos mais complexos e muitas vezes mais caros poderão ser evitados. Para as pessoas que “fogem” do dentista, esta é uma dica muito importante.

Gravidez enfraquece os dentes.

Este é um verdadeiro mito que foi passando de geração em geração. Está na altura de deixarmos de culpar os bebés de “roubar o cálcio às mães”.

As alterações hormonais presentes na gravidez são factores predisponentes para a inflamação da gengiva (gengivite) caracterizada por edema/inchaço, dor e hemorragia. Em muitas situações pela presença de dor e/ou sangramento as mulheres, que nesta fase da sua vida estão mais sensíveis e mais focadas no bebé, têm tendência a diminuir a frequência da escovagem o que resulta numa deficiente higiene oral durante esse período e consequentemente num agravar de algum problema dentário que já exista mas que esteja latente.

Os branqueamentos não desgastam a estrutura do esmalte.

O grande problema dos branqueamentos está relacionado com a quantidade de produtos branqueadores e técnicas que existem, muitas ao acesso de todos, o que faz com que as pessoas usem e abusem destes procedimentos. Muitos produtos de branqueamento actuam no dente branqueando à custa de um micro desgaste que é feito no esmalte, sendo que a sua utilização continua e exagerada irá afectar e danificar a estrutura do esmalte. O branqueamento é um tratamento que deve ser efectuado, vigiado e controlado por um médico dentista.

Colocar implantes é um processo doloroso e pode trazer complicações.

A evolução dos implantes dentários, dos materiais para regeneração óssea e até das técnicas cirúrgicas veio simplificar bastante o processo de colocação de implantes. Hoje em dia a cirurgia de colocação de implantes é super bem tolerada pela grande maioria dos pacientes que referem apenas um ligeiro desconforto nas primeiras 24 a 48 horas. Costumamos dizer que extrair um dente acaba por ser mais incómodo e muitas vezes até mais demorado do que colocar implantes dentários. O facto da cirurgia ser efectuada em ambiente esterilizado com todos os cuidados de assepsia e dos implantes serem abertos apenas no momento da implantação reduz bastante a dor e as complicações no pós-operatório. 

A perda de dentes é uma consequência natural do envelhecimento.

O envelhecimento acarreta uma série de alterações no nosso corpo. Os dentes naturalmente também não se escapam aos efeitos do envelhecimento. No entanto, a perda de dentes não é uma consequência do envelhecimento mas sim um sinal de algo que não está bem com a nossa saúde. Não é natural perdermos dentes. Se os dentes forem bem conservados podem manter-se até ao fim dos nossos dias. Com a idade o que acontece é que os dentes podem ficar mais desgastados, mais escurecidos ou até mesmo mais desalinhados pois existe sempre alguma mobilidade fisiológica que aumenta com a idade.

 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock