Questões frequentes

Medicamentos e calor

Atualizado: 
10/07/2014 - 15:04
A ocorrência de temperaturas elevadas desencadeia no organismo humano mecanismos de defesa de regulação de temperatura. Em certos casos, estes mecanismos poderão ter a sua eficácia comprometida, diminuindo a capacidade de adaptação ao calor, pelo que a necessidade de vigilância é acrescida. Por outro lado, a exposição dos medicamentos a temperaturas elevadas por períodos de tempo prolongados pode alterar as suas propriedades, pelo que alguns requerem precauções particulares de armazenamento e conservação.
Medicamentos e calor

Como é que os medicamentos podem interferir na reacção do organismo ao calor?
Alguns medicamentos aumentam a eliminação de água (por exemplo, diuréticos), podendo aumentar a desidratação normal decorrente do aumento da temperatura ambiente. Outros medicamentos impedem o normal funcionamento dos mecanismos de refrigeração do organismo. Para que o organismo arrefeça, é necessário que o sistema nervoso central possa comandar a dilatação dos vasos sanguíneos superficiais, a fim de permitir uma melhor circulação do sangue, libertação de calor e transpiração. Medicamentos que diminuam a tensão arterial ou alterem o estado de vigilância, podem também agravar os efeitos do calor.

O medicamento é, por si só, um factor de risco?
Na maior parte dos casos, os medicamentos não representam por si só um factor de risco, especialmente quando utilizados correctamente, de acordo com as indicações do médico ou farmacêutico. Existem numerosos factores de risco relacionados com o estado de saúde que interferem com a capacidade de regulação da temperatura do organismo, com a consequente diminuição da capacidade de resistir ao calor:

  • Estados febris;
  • Idade avançada ou os primeiros anos de vida (0 a 4 anos);
  • Excesso de peso;
  • Existência de uma ou mais doenças crónicas, em particular, cardíacas, renais, respiratórias, diabetes, doenças neurológicas ou psiquiátricas, etc;
  • Limitação da autonomia (ex. doentes acamados).

A presença destes ou doutros factores de risco concomitantes deverá ser avaliada em conjunto com os medicamentos utilizados. Para tal, aconselhe-se com o seu médico ou farmacêutico.

Quais os medicamentos que podem apresentar riscos de interferência?
Alguns medicamentos podem agravar os perigos decorrentes de uma exposição demasiado prolongada ou forte ao calor, como consequência do seu mecanismo de acção. Como tal, necessitam de vigilância acrescida:

  • Medicamentos destinados ao tratamento da doença cardíaca: diuréticos que podem aumentar a desidratação, antihipertensores ou antianginosos que podem agravar uma hipotensão, medicamentos antiarrítmicos ou digoxina que podem requerer um ajuste de dosagem em caso de desidratação.
  • Neurolépticos, pois podem interferir com o 'termostato' central do organismo e provocar aumento da temperatura; sais de lítio que podem requerer um ajuste de dosagem em caso de desidratação.
  • Antiepilépticos que podem requerer um ajuste de dosagem em caso de desidratação.
  • Medicamentos para tratamento de enxaqueca podem impedir a vasodilatação periférica ou diminuir a transpiração
  • Alguns antibióticos (particularmente sulfamidas) e alguns anti-inflamatórios podem alterar o funcionamento normal dos rins em caso de desidratação.
  • Alguns medicamentos antidepressivos, antiparkinsónicos, destinados à incontinência urinária ou antialérgicos podem alterar a transpiração.

O que fazer no caso de uma ocorrência de uma onda de calor?

  • Ter particular atenção em idosos, crianças, doentes ou em caso de tomar qualquer medicamento.
  • Consultar o médico caso não se sinta bem ou não o faça há já algum tempo, pois poderá ser necessário proceder a quaisquer exames ou adaptações do tratamento.
  • Ler atentamente o folheto informativo dos medicamentos que toma.
  • Respeitar a posologia e os horários das tomas dos medicamentos tal como indicados pelo médico e farmacêutico.
  • Respeitar os conselhos habituais de higiene e alimentação, nomeadamente beber muitos líquidos, mesmo que não tenha sede (de preferência água ou sumos de fruta natural), evitar a exposição ao sol ou ao calor e refrescar-se frequentemente através de banho, duche ou aplicação de panos húmidos.

O que evitar no caso de uma ocorrência de uma onda de calor?

  • Nunca interromper o tratamento sem indicação médica. A interrupção do tratamento acarreta complicações, potencialmente graves, ligadas quer à interrupção súbita da toma dos medicamentos, quer aos efeitos da doença não tratada.
  • Não consumir bebidas alcoólicas, pois estas agravam a desidratação.
  • Não tomar qualquer medicamento sem a orientação de um médico ou farmacêutico, mesmo aqueles que não são sujeitos a receita médica (de venda livre).

Como conservar os medicamentos durante uma onda de calor?
Se das caixas dos medicamentos não constar qualquer indicação especial de conservação, isto significa que o medicamento é estável, mesmo quando exposto a temperaturas mais elevadas.

Quando a embalagem do medicamento refere:

  • "Conservar a temperaturas inferiores a 25/30ºC” – estes medicamentos poderão ser conservados nos locais habituais, pois apresentaram estudos que demonstraram não haver alteração das propriedades do medicamento quando sujeitos a temperaturas elevadas.
  • "Conservar entre 2 a 8ºC” – estes medicamentos são geralmente guardados no frigorífico, pelo que a ocorrência de uma onda de calor não terá qualquer efeito na sua conservação. Deverão ser retirados do frigorífico estritamente para serem utilizados, voltando a proceder de imediato à sua reintrodução, após o seu uso.

Algumas formas farmacêuticas (supositórios, óvulos, cremes, etc.) são mais susceptíveis de sofrer alterações devidas à temperatura, facto que é detectável se os medicamentos apresentarem alterações na sua aparência ou consistência, que indiciam a alteração da sua qualidade. Nestes casos, antes de utilizar o medicamento, questione o seu farmacêutico.

Como transportar os medicamentos em dias de muito calor?

  • Medicamentos habitualmente conservados no frigorífico (entre 2 a 8ºC): deverão ser transportados em sacos isotérmicos refrigerados (por ex. com acumuladores de frio), mas evitando sempre a sua congelação.
  • Todos os outros medicamentos: deverão ser transportados, preferencialmente, em sacos isotérmicos.

Mesmo utilizando sacos isotérmicos, os medicamentos não devem ser expostos, durante longos períodos de tempo, a temperaturas elevadas, como aquelas que se atingem nas malas ou interior dos carros estacionados ao sol.

Fonte: 
Infarmed
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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