Associação dos Profissionais Licenciados em Optometria

Mais de 2 mil profissionais dão consultas de optometria sem qualificação

Há mais de 2000 profissionais a dar consultas de optometria sem qualificações. Tudo porque a profissão não é regulamentada, diz o presidente da Associação dos Profissionais Licenciados em Optometria.

Mais de dois mil profissionais sem qualificações a dar consultas de optometria e a fazerem diagnósticos. A denúncia é feita pela Associação dos Profissionais Licenciados em Optometria (APLO), que aponta o dedo para a falta de regulamentação da profissão.

“Apesar de em 2012 e em 2013 terem sido feitas recomendações para se regulamentar a profissão, isso nunca aconteceu. Não se pode impedir ninguém de ser optometrista. Toda e qualquer pessoa pode ser optometrista”, sublinha Raúl Alberto Sousa, presidente da APLO, em declarações ao Observador, acrescentando que a Entidade Reguladora da Saúde não verifica se as pessoas contratadas são efetivamente optometristas, um profissional “cuja função é lidar com os cuidados primários para a saúde da visão”.

O presidente da associação refere que em todos os países europeus, à exceção de Portugal, Polónia e República Checa, a profissão está regulamentada consoante as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Quando se dirige uma ótica e dizem que estão a fazer consultas de optometria, tem uma em cada três probabilidades de acertar numa pessoa com habilitação académica superior, que tenha feito um estágio profissionalizante e com formação contínua obrigatória.” São estes os critérios estabelecidos pela APLO, que conta com cerca de 1.100 membros, refere o presidente da associação.

Raúl Alberto Sousa destaca ainda o compromisso “Saúde de Visão Universal” da OMS, assumido pelo Governo português em 2014 e cujo objetivo é reduzir a deficiência visual e a cegueira evitável em 25% até 2019 — prazo entretanto estendido por mais um ano para Portugal. Esse compromisso implicava, entre outras medidas, incluir cuidados de visão nos Sistema Nacional de Saúde (SNS) e garantir que toda a população tem acesso a consultas de cuidados primários da saúde visual, isto é, a consultas de optometria.

“O Estado tenta ter iniciativas, mas são um mistério como vão funcionar. Ainda na semana passada, o Governo anunciou o rastreio da visão infantil. Como é que vai ser feito quando não tem um único optometrista contratado para fazer isso nos centros de saúde?”

Um estudo realizado pela Universidade Nova de Lisboa sobre a saúde da visão em Portugal adianta que a integração destes profissionais no SNS “potenciaria o acesso a cuidados de saúde da visão”, uma vez que os optometristas prestam cuidados de saúde primários, nomeadamente “refração e prescrição, deteção/diagnóstico e acompanhamento/tratamento de doenças oculares e a reabilitação/tratamento de condições do sistema visual” e permitiria “a triagem de situações que requeiram cuidados de saúde diferenciados de oftalmologia, tal como o desenvolvimento de programas de rastreio oportunistas para idades pediátricas e populações vulneráveis (e.g. diabéticos)”.

De acordo com Raúl Alberto de Sousa, a oftalmologia é a especialidade com o “pior tempo de lista de espera em consulta hospitalar” não só porque não há consultas de oftalmologia nos centros de saúde — têm de ser os médicos de família a referenciar para uma consulta no hospital — como praticamente não existem optometristas contratados para o SNS.

Em 2017 foram realizadas à volta de um milhão e quarenta mil consultas. É a especialidade que mais consultas dá, tirando Medicina Geral e Familiar, e mesmo assim consegue ser aquela com mais dias de espera”, destaca o presidente da associação. Tudo porque não “está organizada de forma eficiente”.

Para o presidente da associação, a solução passaria por colocar os optometristas com “acesso direto ao paciente”, isto é, colocar optometristas no SNS e os médicos de família referenciarem os doentes para um optometrista de forma a não saturar as consultas hospitalares dos oftalmologistas. “No Reino Unido, 99% das consultas para a visão são realizadas por optometristas.”

O estudo da Universidade Nova de Lisboa confirma precisamente esta realidade: o tempo médio de espera por uma consulta de saúde visual no SNS é de quase seis meses e quase dois terços dos casos de perda de visão nos mais velhos são provocados por erros de refração (miopia, astigmatismo, hipermetropia, etc), ou seja, situações evitáveis caso sejam diagnosticadas a tempo.

O mesmo estudo destaca ainda que a população portuguesa precisaria de cerca de mil optometristas. Contratações que implicariam um custo de cerca de 28 milhões de euros por ano ao SNS. Um valor inferior aos custos da baixa de produtividade provocada pelos problemas de visão (segundo o mesmo estudo) — de 203 a 722 milhões de euros.

 

Fonte: 
Observador
Nota: 
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