Sintomas inespecíficos podem dificultar diagnóstico

Lúpus Eritematoso Sistémico atinge sobretudo mulheres em idade reprodutiva

Atualizado: 
10/05/2018 - 10:45
O Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) é uma doença reumática crónica que dá origem, na maior parte dos casos, a manifestações reumáticas, como a dor e inchaço das articulações, mas que pode atingir qualquer órgão ou sistema, como a pele, os rins, o sistema nervoso, os pulmões e os órgãos formadores de sangue.

O LES é uma doença de causa desconhecida. Os estudos realizados sugerem que a sua etiologia é multifatorial, ou seja, estão envolvidos vários fatores, entre eles os genéticos, hormonais, imunológicos e ambientais. Contudo, a exposição solar parece ter um papel crucial no desencadear da doença e agravamento da mesma. Trata-se de uma doença em que o sistema de defesa do indivíduo, denominado sistema imunitário, está desregulado, ocorrendo a produção de anticorpos que podem causar lesões de qualquer órgão.

O LES afeta 0.1% dos portugueses, mais frequentemente mulheres em idade reprodutiva, entre os 16 e os 49 anos. Numa pequena percentagem pode atingir crianças ou indivíduos com mais de 65 anos. O LES é mais frequente nos africanos, asiáticos e hispânicos e pode apresentar formas mais graves da doença nestas populações.

Dado que a doença pode envolver diversos órgãos, a sua forma de apresentação pode ser variável. Em alguns casos manifesta-se por febre ou febrícula, falta de força, emagrecimento e depressão. São sintomas gerais e inespecíficos que obrigam a um esforço diagnóstico para afastar variadas outras doenças que produzem os mesmos sintomas. Em outros casos, as manifestações predominantes são as da pele com o aparecimento de manchas vermelhas na face e dorso do nariz, bem delimitadas, que correspondem ao eritema malar em asa de borboleta, lesão típica do LES. São frequentes também as queixas articulares com dores e/ou inchaço das articulações. O coração e pulmão também podem ser atingidos, mas o envolvimento do rim ou do sistema nervoso central pode corresponder às formas mais graves da doença. Todas estes sintomas podem agrupar-se e há casos de LES que apresentam manifestações da pele, articulares, pulmonares, cardíacas e renais, por exemplo. Em outros casos é só um órgão atingido, e então o diagnóstico pode ser mais difícil.

Para o correto diagnóstico é essencial a avaliação por um clínico experiente, que na presença de manifestações clínicas sugestivas, alterações no exame físico do doente e com o auxílio de exames complementares de diagnóstico, consegue estabelecer o diagnóstico. Ou seja, uma alteração única laboratorial ou a presença de um autoanticorpo não significa doença.

O tratamento do LES é complexo e depende das manifestações clínicas. Devem ser adotadas medidas farmacológicas e não farmacológicas. Como medidas não farmacológicas, é crucial para o tratamento que os doentes evitem a exposição solar. Devem utilizar protetor solar com elevado fator de proteção durante todo o ano. Outras medidas, como a prática de exercício físico regular, a adoção de uma dieta equilibrada e a evicção tabágica são igualmente importantes no controlo da atividade da doença. O tratamento de situações específicas que podem estar associadas, como a hipertensão arterial, a diabetes e o aumento do colesterol, deve ser contemplado. Os fármacos mais utilizados no tratamento do LES são os anti-inflamatórios não esteróides, os corticóides, os antipalúdicos de síntese e os imunossupressores. As medidas terapêuticas visam a redução da atividade da doença, a diminuição de lesão de órgão e a redução da morbi-mortalidade associada à doença.

O diagnóstico e tratamento precoce na maioria das vezes associa-se ao controlo da atividade da doença, representando a medida mais eficaz para reduzir o forte impacto que está doença pode assumir.

 

Autor: 
Prof. Doutora Sandra Falcão – Reumatologista Clínica de Santo António
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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