Cancro do pulmão é o que mais mata em Portugal

Imunoterapia: nova esperança para doentes e especialistas

Atualizado: 
25/09/2017 - 12:56
Com uma taxa de mortalidade superior ao cancro do colón, mama e próstata combinados, a neoplasia maligna pulmonar é a que regista o maior número mortes em Portugal, onde todos os anos são detetados cerca de 5 mil novos casos da doença. Recentemente, o Infarmed aprovou a comparticipação do tratamento imuno-oncológico para o Cancro do Pulmão, considerado um dos maiores avanços no tratamento do cancro dos últimos anos.

As doenças oncológicas são consideradas como a segunda causa de morte em todo o mundo, sendo o cancro do pulmão o que mais mata. Estima-se que este seja responsável por cerca de 1,68 milhões de mortes, registando-se todos anos, em Portugal, cerca de cinco mil novos casos da doença.

“Em 2014 faleceram por cancro do pulmão um total de 3927 doentes, sendo 3077 homens e 850 mulheres, a esmagadora maioria tendo como causa o tabaco”, começa por revelar Fernando Barata, Presidente do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão.

De acordo com o especialista, este tipo de cancro é ainda o principal responsável pelo número de anos potenciais de vida perdida no nosso país.  “Em 2014, o cancro do pulmão foi responsável por 19.380 anos potenciais de vida perdida”, acrescenta.

Afetando sobretudo o sexo masculino, apresenta maior incidência em indivíduos com idade igual ou superir a 65 anos, sendo as taxas de sobrevivência global (aos cinco anos) dos doentes com cancro do pulmão ainda muito reduzidas – 18% na mulher e 14% no homem.

Com a aprovação da comparticipação do tratamento imuno-oncológico no Serviço Nacional de Saúde, há uma nova esperança para este doentes. Não só por apresentar um claro benefício na sobrevivência global, mas também por revelar um melhor perfil de tolerabilidade da terapêutica face ao tratamento convencional - quimioterapia.

Esta nova terapia define-se como sendo um tipo de tratamento que utiliza agentes biológicos que estimulam o sistema imunitário e o ajudam a corrigir os mecanismos de defesa alterados, em caso de doença. No caso da doença oncológica, a Imunoterapia leva o sistema imunológico do doente a identificar as células cancerígenas e a destruí-las.

Tal como explica Fernando Barata, “são características do desenvolvimento tumoral a autossuficiência em relação aos fatores de crescimento, a insensibilidade aos fatores antiproliferativos, capacidade de inibição da apoptose ou da morte celular programada, uma replicação ilimitada, angionése e capacidade de invadir outros tecidos”.

Mais recentemente, foram identificados outros fatores que explicam o desenvolvimento de células cancerígenas, como a instabilidade genómica e “potencialidade mutacional”, regulação autónoma da energia celular, a inflamação tumoral e capacidade de evitar a sua destruição pelas defesas imunitárias.

“Esta última capacidade da célula neoplásica - evitar a destruição pelas defesas imunitárias - aparece agora na base de uma nova perspectiva na luta anti tumoral, utilizando a imunidade nativa na destruição dos tumores”, revela o especialista. Neste caso, a destruição das células tumorais é possível através da ação de bloqueio dos reguladores negativos que controlam a resposta imune.

Os resultados da aplicação desta nova arma terapêutica de 2ª linha, em casos não operáveis ou metastáticos, têm-se mostrado bastante promissores. “Depois de uma combinação de quimioterapia em 1ª linha e face à progressão da doença, estes fármacos mostraram um claro benefício na sobrevivência global”, revela o presidente do Colégio de Pneumologia da Ordem dos Médicos. “Cerca de 30% dos doentes duplicaram a sobrevivência global e cerca de 15% a 20% mostram uma resposta mantida, duradoura com excelente qualidade de vida”, esclarece.

Associado a uma eficácia elevada, estes fármacos mostram um perfil de toxicidade geral “muito ligeiro e manuseável”. Fadiga, náusea, anorexia e astenia são os efeitos adversos relatados entre 5 a 10% do casos. No entanto, e dado que o tratamento interfere globalmente com o sistema imunitário, há uma pequena percentagem de casos (inferior a 5%)  registados de hepatites, nefrites, colites ou pneumonites que implicam um cuidado redobrado em questões de prevenção, antecipação ou deteção precoce.

Não obstante, face aos resultados alcançados, Fernando Barata assegura que “a aprovação pela entidade reguladora de pembrolizumab em segunda linha do cancro do pulmão de células não pequenas, metastático, foi mais um passo de um velho sonho: tornar o cancro do pulmão, mesmo em fase avançada, numa doença crónica controlada, com qualidade de vida”.

 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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