Cancro do Colo do Útero

HPV: infeção assintomática afeta tanto mulheres como homens

Atualizado: 
12/10/2020 - 10:31
O Papilomavírus Humano não distingue género nem idade. Qualquer pessoa pode ser infetada, desde que já tenha iniciado a sua atividade sexual. Sendo o grande responsável pelo Cancro do Colo do Útero, estima-se que 70% da população já tenha tido contato com o vírus. Daniel Pereira da Silva, presidente da Federação das Sociedades Portuguesas de Ginecologia e Obstetrícia, recomenda rastreio e teste ao HPV a todas as mulheres com mais de 25 anos.

O Papilomavírus Humano é o principal agente responsável por infeções genitais em homens e mulheres e o segundo carcinogéneo mais importante, logo a seguir ao tabaco.

Trata-se de uma infeção bastante comum – estimando-se que cerca de 70% dos indíviduos com menos de 50 anos já tenham sido infetados -,  que se transmite por simples contato sexual, não sendo necessários comportamentos de risco.

“O Papilomavírus Humano (HPV) tem uma grande variedade de tipos, dos quais cerca de 30 infetam os genitais. A infeção desaparece espontaneamente em 95% dos casos, mas em 5% persiste e pode provovar lesões nos genitais, ânus e orofaringe, das quais as mais frequentes são as do colo do útero”, começa por explicar o ginecologista acrescentando que, no entanto, ainda não é possível prever quem vai desenvolver a lesão. Há, isso sim, alguns fatores de risco como o tabagismo, outras inflamações/infeções, uso prolongado da pílula ou  imunodepressão.

“Importa reforçar que nem todos os tipos de HPV que infetam os genitais têm o mesmo potencial de provocar lesões”, afirma adiantando que alguns provocam lesões benignas – como é o caso das verrugas genitais ou condilomas acuminados – que não evoluem para cancro mas que se espalham facilmente pelas zonas de contacto sexual “conferindo um aspeto desagradável e, por vezes, dor local”.

Pelo contrário, os HPV de alto risco são capazes de provocar alterações celulares dando origem a lesões pré-cancerígenas. “Estas lesões são mais comuns no colo do útero, mas podem acontecer na vulva, vagina e ânus”, acrescenta.

Tratando-se de uma infeção maioritariamente assintomática – apenas os condilomas e verrugas são fáceis de detetar – o seu diagnóstico nem sempre é feito a tempo. “Não se espere por sintomas, pois só aparecem quando as lesões cancerosas estão avançadas e, nessa altura, as queixas dependem dos locais das lesões”, adverte.

Tradicionalmente, o diagnóstico era feito nas mulheres com recurso a citologia do colo do útero que permitia identificar ou não a existência de alterações celulares provocadas pelo vírus. “Hoje, faz-se pela pesquisa de material do vírus nas células e secreções do tracto genital feminino e canal anal. O teste não está aferido para outras localizações. Nos ógãos genitais masculinos e orofaringe podemos chegar ao diagnóstico com uma observação rigorosa”, esclarece o especialista.

Vacina contra HPV deve ser universal

A infeção pelo Papilomavírus Humano não tem tratamento e apenas a prevenção pode fazer a diferença na luta contra o vírus e suas complicações.

“Todas as pessoas são susceptíveis à infeção desde o início da sua atividade sexual, por mais cuidados que tenham. O preservativo pode conferir alguma proteção, mas como não recobre toda a área genital, mesmo quem o usa sistematicamente pode transmitir ou ser infetado pelo HPV”, explica Daniel Pereira da Silva.


"A infeção pelo HPV não tem tratamento, não temos nenhum meio eficaz e seguro para o fazer. É muito importante prevenir as lesões e sobretudo o cancro", afirma o presidente da Federação das Sociedades Portuguesas de Ginecologia e Obstetrícia, Daniel Pereira da Silva 

A vacinação surge, deste modo, como a única forma segura que dispomos de nos proteger contra alguns tipos de HPV. “Temos de prevenir a infeção com o uso de vacinas, que deve ser universal”, afirma o especialista acrescentando que, apesar deste método ser extremamente eficaz e abrangente, “não protege contra cem por cento das situações e há muita gente que não foi vacinada”.

Atualmente, existe uma vacina bivalente que cobre apenas os tipos de HPV 16 e 18, uma vacina quadrivalente que protege contra os tipos de HPV 6, 11, 16 e 18 e vacina nonavalente que protege contra 9 tipos de HPV (6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58).

É neste contexto que se reforça a necessidade de realização do rastreio ao cancro do colo do útero e o teste ao HPV a todas as mulheres após os 25 anos de idade.

“Como referido anteriormente, é importante que o rastreio se faça, porque a maior parte da população não está vacinada e a vacinação não é um seguro contra todos os riscos”, reforça.

“Todas as mulheres devem fazer o rastreio, de preferência com o teste ao HPV realizado de cinco em cinco anos. Recomenda-se também a todas as pessoas que praticam sexo anal”, aconselha o especialista.

No âmbito da Semana Europeia do Cancro do Colo do Útero, que se assinala entre os dias 22 e 28 de Janeiro, Daniel Pereira da Silva é peremtório na sua mensagem: “controlar a infeção pelo HPV é fácil – vacine-se e faça o rastreio”.

Na Europa surgem todos os anos 60 mil casos de cancro de colo do útero. Metade são fatais.  “Em Portugal, estamos a trabalhar para acabar com este flagelo - 90 por cento das mulheres, em Portugal, com 25 anos de idade ou menos, estão vacinadas contra o HPV, o que é fantástico”, afirma.

No entanto, admite que é preciso fazer mais.  “Temos de acelerar o processo, para isso todas as mulheres, pelo menos até aos 45 anos, devem vacinar-se e todas as que têm entre 25 e 65 anos devem fazer o rastreio pelo menos de cinco em cinco anos”, conclui.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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