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HIV e SIDA: tudo sobre as suas diferenças

Atualizado: 
30/11/2021 - 10:34
Apesar do acesso mais facilitado à informação, continua a haver alguma confusão acerca do VIH e da SIDA. Com este artigo, o infecciologista Luís Tavares espera ajudar a dissipar eventuais dúvidas e contribuir para uma melhor informação sobre cada uma delas.

Pode ser fácil confundir o HIV (Virus da Imunodefiência Humana) e a SIDA (Síndrome de Imunodeficiênca Adquirida). Na verdade, são diagnósticos diferentes – a infeção por VIH pode conduzir a uma doença ou síndrome, condição conhecida como SIDA.

O VIH é um virus e a SIDA é a condição que pode decorrer da infeção por esse virus. Assim, pode ter-se uma infeção por VIH sem aquirir SIDA, sendo muitas as pessoas com infeção por VIH que vivem durante anos sem desenvolver SIDA.

A SIDA ocorre quando o VIH condiciona danos importantes ou severos na imunidade (sistema imunológico) e é uma condição complexa com sintomas que variam de doente para doente.

Os sintomas da SIDA estão relacionados com as infeções que um doente pode apresentar como consequência de um sistema imunológico debilitado e, consequentemente, incapaz de combater outras infeções, ao contrário do que acontece em pessoas saudáveis. Estas podem incluir a tuberculose, a pneumonia, outras infeções e, ainda, certos tipos de neoplasias (cancro).

Grupos de risco

O VIH é transmitido de uma pessoa para outra através da troca de fluídos corporais. Mais comumente a infeção é transmitida através de relações sexuais desprotegidas ou através da utilização de agulhas contaminadas.

Menos frequentemente, pode ocorrer através de uma transfusão de sangue contaminado ou por transmitir a infeção ao filho durante a gravidez, no período perinatal ou durante o período de aleitamento materno.

Basicamente, qualquer pessoa pode contrair infeção por VIH. Da mesma forma que os consumidores de drogas injetadas estão em grande risco, consequentemente às práticas relacionadas com o uso de drogas, qualquer pessoa que se envolva em relações sexuais sem proteção (por exemplo: sexo desprotegido com um parceiro infetado) pode ser exposta à infeção por VIH.

Não existem, em sentido estrito, grupos de risco pois todos os grupos são afetados pelo VIH, embora alguns sejam mais vulneráveis do que outros.

Nesse sentido, os homens que fazem sexo com homens são a população mais severamente afetada. Por exemplo, nos Estados Unidos da América, estas pessoas correspondem a cerca de 2% da população, e a mais de metade das novas infeções por VIH.

À semelhança do grupo dos homens que fazem sexo com homens, as pessoas dentro de populações de grupos raciais/étnicos apresentam maiores  taxas de infeção.

Embora os fatores de risco para a infeção por VIH sejam os mesmos para todos, nestes grupos apresentam maiores taxas de infeção por VIH nestas comunidades, aumentando assim o risco de novas infeções.

Prevenção

As intervenções comportamentais visam reduzir o risco de transmissão do VIH, abordando comportamentos de risco. Estas intervenções podem passar por procurar reduzir o número de parceiros sexuais que as pessoas têm, melhorar a adesão ao tratamento entre as pessoas que vivem com o VIH, aumentar o uso de agulhas limpas entre as pessoas que injetam drogas, através do programa da troca de seringas, e promover o aumento do uso correto e consistente de preservativos.

Até à data, este tipo de intervenção tem provado ser o que apresenta melhores resultados.

As intervenções biomédicas usam uma combinação de abordagens médicas e clínicas para reduzir a transmissão do VIH. Exemplo de uma intervenção biomedical, a circuncisão, é um procedimento médico simples que tem demonstrado reduzir o risco de transmissão do VIH em cerca de 60% durante sexo heterossexual desprotegido. Esta medida foi testada em países de elevada prevalênica de infeção na região de África.

A fim de serem eficazes, as intervenções biomédicas são raramente executadas de forma independente e são muitas vezes utilizadas em conjunto com intervenções comportamentais.

Das intervenções biomédicas, destacam-se ainda: a terapêutica antirretrovírica para a prevenção da transmissão mãe-filho (PTV), a instituição de profilaxia e pós-exposição (PEP), os programas de aconselhamento e rastreio voluntário, o rastreio e tratamento das outras infeções sexualmente transmissíveis, os programas de substituição de opiáceos e também a eventual instituição de profilaxia pré-exposição.

Tratamento

Com os tratamentos atuais para a infeção pelo VIH, é possível viver durante anos, e mesmo décadas, sem manifestação da doença e mantendo uma boa qualidade de vida, sendo estes os objetivos últimos desse mesmo tratamento.

Os objetivos principais do tratamento com fármacos antirretrovíricos são:

  • Reduzir a morbilidade associada ao VIH e prolongar a duração e qualidade e vida
  • Suprimir a carga vírica (ou seja, manter o virus não detetável no sangue)
  • Restaurar e preserver a função imunológica
  • Prevenir a transmissão do VIH
  • Diminuir a inflamação e ativação imunológica, facto importante, nomeadamente, para a diminuição de lesão cardiovascular.

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Autor: 
Dr. Luís Tavares - Especialista Doenças Infecciosas do Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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