O paradigma que tem que mudar

Fomentar a investigação científica nos hospitais e apostar na inovação tecnológica

No Dia do Hospital, assinalado a 2 de julho, a Sociedade Portuguesa de Cardiologia, está atenta para os efeitos que a economia e a gestão em saúde provocam na qualidade dos serviços hospitalares.

O paradigma da gestão hospitalar mudou ao longo dos tempos e a limitação dos recursos financeiros e a crise dos últimos anos alterou a forma de encararmos os custos hospitalares. Mas, quais são os verdadeiros impactos da Gestão nos Resultados Clínicos?

Neste momento, as administrações hospitalares, estão a ser pressionadas, mais do que nunca para responder a desafios financeiros que podem estrangular os recursos humanos e meios técnicos colocando em causa o acesso e democratização da saúde e por conseguinte o seu valor enquanto um bem e um direito humano.

Nas palavras do Presidente da SPC, Prof. João Morais, “tem de haver uma mudança de paradigma – sobretudo, atendendo a que estamos a falar de especialidades cruciais como a Cardiologia, que lida com patologias responsáveis pelas principais causas de morte em Portugal. Ainda assim, devemos registar que, nos últimos 10 anos, houve muita investigação clínica. Não é por acaso que, hoje, tratamos melhor os nossos doentes (e isso tem, naturalmente, impactos positivos em termos da gestão hospitalar)”.

Investigação versus orçamento de estado para a saúde
A inovação tecnológica é dispendiosa, mas é através da mesma que podemos conseguir os melhores resultados na prática clínica. Os materiais e os dispositivos utilizados em cada intervenção, ou procedimento, só podem ser realmente perspetivados no momento em que o médico está com o doente e por isso, a disponibilização de materiais/dispositivos e o acesso à inovação são questões a que a gestão hospitalar deve estar sensível.

Quanto às tecnologias da informação na saúde, apesar das suas melhorias, em particular nos últimos anos, elas são, em muitos hospitais, condicionadas por um parque informático obsoleto. A título de exemplo, o Prof. João Morais deixa a nota: “As «apps» (cuja utilidade é indiscutível e que devemos cada vez mais usar) são consideradas pelas autoridades como dispositivos médicos e, como tal, sujeitas às mesmas regras para aprovação como, por exemplo, um pace-maker. Ou seja, um processo de aprovação muito lento acabando por matar o desenvolvimento tecnológico e a inovação, já que, quando uma determinada «app» é aprovada, já saíram várias novas versões e outras foram desenvolvidas. Esta morosidade é injustificável e o conceito tem de ser revisto."

Quanto à investigação científica esta deverá ser incorporada nas atividades hospitalares, e para que tal aconteça, no entender da SPC, os médicos devem dispor de tempo e os contratos-programa têm de sofrer evoluções de forma a incorporar esta atividade. “Precisamos de criar centros de investigação e apostar em protocolos de cooperação com grupos empresariais e com as instituições académicas”.

As pessoas e a gestão hospitalar
Por fim, quanto à gestão, esta deveria ter objetivos clínicos e não estar centralizada meramente nos números da produção. “Neste momento, a grande questão que enfrentamos é esta: fazer bem com os recursos existentes. E, provavelmente, ainda é possível fazer melhor com os recursos de que dispomos.”

O maior desafio da Gestão está na área dos recursos humanos, o que muito se deve à má distribuição dos médicos especialistas, em Portugal. “Há regiões, como sabemos, bastante carenciadas. Por muito que se possa dizer que há médicos a mais no nosso país, a verdade é que essa carência a nível regional não pode ser ignorada. Os distritos que fazem fronteira com Espanha, têm um número irrisório de cardiologistas. Todos somados devem ser menos do que aqueles que existem em qualquer um dos serviços dos grandes hospitais do país. A discussão deste problema deveria impor-se à discussão de outras questões de âmbito financeiro.”

Fonte: 
SConsulting
Nota: 
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