Técnica inovadora microinvasiva

Embolização de Fibromiomas preserva a fertilidade

Atualizado: 
31/10/2016 - 14:27
Os fibromiomas, leiomas ou miomas são tumores benignos que nascem nas paredes do útero e que afetam a capacidade de uma mulher engravidar ou a impossibilitam de levar a gravidez a termo. No entanto, se há uns anos a solução passava por uma cirurgia, muitas vezes com remoção completa do útero, pondo fim ao sonho da maternidade, a embolização dos fibromiomas trouxe uma nova esperança às mulheres em idade fértil. Mariana Costa Sá já teve três filhos e foi uma das muitas mulheres que conseguiram engravidar depois de recorrer a esta técnica microinvasiva introduzida em Portugal pelo Professor Martins Pisco.

Apesar de não existirem causas conhecidas, sabe-se que os antecedentes familiares são fatores de risco para o aparecimento de fibromiomas que afetam mulheres, maioritariamente, entre os 30 e os 45 anos.

Estima-se, aliás, que entre 20 a 40 por cento das mulheres em idade fértil sejam portadoras de fibromiomas, ascendendo a sua frequência aos 70 por cento em mulheres africanas.

Tratando-se de tumores benignos que nascem nas paredes do útero, e cujas dimensões podem ir de alguns milímetros a mais de 20 centímetros, eles interferem com  a capacidade reprodutiva, não só impossibilitando muitas mulheres de engravidar, como de levar a gravidez a termo.

“Os fibromiomas são geralmente diagnosticados durante um exame ginecológico”, começa por explicar Martins Pisco, sendo a sua presença confirmada por ecografia abdominal ou por ressonância magnética.

Dependendo da sua localização, os fibromiomas apresentam classificações distintas. Podem ser sub-serosos – desenvolvendo-se na porção externa da parede do útero e crescendo para fora; intra-murais, os mais frequentes e que se desenvolvem na parede uterina e sub-mucosos, desenvolvendo-se na superfície interna das paredes da cavidade uterina.

Períodos menstruais prolongados, por vezes com hemorragias que podem conduzir à anemia, dor pélvia e/ou na região lombar, sensação de peso e volume do abdómen, dificuldade em engravidar ou abortos de repetição são alguns dos principais sintomas. No entanto, nem sempre estes sinais são óbvios.

Mariana Costa Sá tinha 25 anos quando descobriu, por acaso, num exame de rotina que tinha vários fibromiomas. “Eu sempre tive muitas dores, sempre tive um período abundante e irregular”, recorda.

“O médico, na altura, disse-me que eu tinha dois anos se quisesse ter filhos”, afirma acrescentando que, embora não fizesse parte dos seus planos imediatos engravidar, era um sonho acalentava como qualquer outra mulher.

“Eu tinha começado a namorar com o meu marido na altura, portanto essa hipótese nem se colocava. Acabei por procurar o conselho de outros médicos”, justifica. No entanto, admite que teve de se mentalizar. “Pensei, quando tiver de ser será!”, conta.

Seis anos depois, com a vida mais estabilizada, passa a ser acompanhada na tentativa de conseguir engravidar. “Quando regressei ao médico, em 2006, os miomas estavam maiores e tive de começar a fazer um tratamento hormonal que não resultou”, lamenta acrescentando que foi a pior coisa que fez. “O útero já não estava em condições para suportar uma gravidez”, revela.

“A confiança que perdi quando fiz o tratamento hormonal foi o pior. Eu senti-me completamente abandonada e foi por isso que, quando sugerem fazer uma miomectomia, eu não aceitei”, confessa admitindo que não estava disposta a correr riscos. Neste caso, o risco era a esterilização.

De acordo com Martins Pisco,  a miomectomia consiste na remoção de cada um dos miomas e não deve ser efetuada se  estes forem numerosos ou de grandes dimensões “devido aos maus resultados”. “A miomectomia pode complicar gravidezes subsequentes, pois provoca a cicatrização do músculo uterino. Nestas situações, a embolizalização é a única alternativa à histerectomia – que envolve a remoção da totalidade do útero”, justifica o especialista.

Decidida a escolher o tratamento correto, Mariana pesquisou sobre o tema e encontrou  informação sobre Martins Pisco e a técnica que introduziu em Portugal.

“Decidi procurar ajuda e tive a minha primeira consulta em Março de 2007”, revela.

Para ter a certeza de que estava no caminho certo quis saber tudo o que havia para saber sobre embolização e, aconselhada pelo especialista, falou com algumas mullheres que já tinham sido sujeitas a esta técnica inovadora. “As outras pacientes tranquilizaram-me. Não havia cortes, era minimamente invasivo e seguro”, recorda.

Na realidade, tal como explica Martins Pisco, “a embolização é uma técnica microinvasora, com menos riscos que as técnicas cirúrgicas” e que consiste em interromper a circulação sanguínea que irriga os fibromiomas, “resolvendo o problema de forma rápida e duradoura e preservando o útero”.

“Sem irrigação sanguínea o fibromioma atrofia-se e os sintomas desaparecem”, justifica.

O processo é bastante simples, não necessitando de internamento ou período de convalescença. “Sob anestesia local, e sem perda de sangue efetua-se um pequeno orifício de 1, 5 milímetros de diâmetro na virilha, através do qual se coloca um fino tubo plástico chamado cateter e, mediante monitorização por aparelho de raios X digital sofisticado, é dirigido para as artérias uterinas”, descreve o especialista do Hospital St. Louis.

“Partículas finas, como graus de areia, são então injetadas nas artérias uterinas. Como os fibromiomas têm muito sangue comportam-se como uma esponja, absorvendo aquelas partículas que vão entupir os ramos que os irrigam, poupando contudo a própria artéria uterina, para que a paciente possa engravidar mais tarde, embora a possibilidade de gravidez não possa ser garantida”, acrescenta.

No entanto, esta técnica tem tido uma elevada taxa de sucesso. Desde que se realiza no nosso país no Hospital St Louis (Junho de 2004) já foram tratadas mais de 1800 pacientes e há o registo de 160 bebés nascidos saudáveis após embolização.

Com este tratamento assiste-se a uma redução progressiva e significativa dos fibromiomas, a sintomatologia diminui ou desaparece e os fibromiomas deixam de crescer.

“Após embololização, os fibromiomas desaparecem só em 20 por cento dos casos, podendo ser expulsos ou desfazer-se em fragmentos explusos durante a menstruação”, revela Martins Pisco.

Habitualmente, a maioria persiste no útero necessitando, por isso, de acompanhamento regular. “Na maioria dos casos, a Ressonância Magnética revelará uma isquémia superior a 90 por cento, quer dizer sem sangue, pelo que não voltarão a crescer. Os fibromiomas reduzem as dimensões, ocorrendo a maior redução durante os primeiros seis meses, mas continuam a reduzir, pelo menos, até aos cinco anos”, acrescenta.

A técnica dura entre 30 a 60 minutos e a paciente pode ir no próprio dia para casa, existindo contato permanente com a equipa médica para avaliar queixas ou esclarecer quaisquer dúvidas.

Mariana Costa Sá recorda que apenas sentiu frio durante a intervenção.  “Como sou da região norte fiquei num hotel para passar a noite a seguir à intervenção. No dia seguinte regressei a casa e não tive quaisquer sintomas nos pós-operatório”, conta.

No entanto, de acordo com o especialista, algumas pacientes podem sentir náuseas, vómitos ou dor, que facilmente são controlados por medicação apropriada.

“Coloquei apenas gelo como indicado e tomei a medicação prescrita e retomei a minha vida normal nos dias seguintes”, afiança Mariana que, ao contrário do primeiro tratamento que fez, foi acompanhada de perto pelo especialista. “O professor estava sempre a telefonar para saber como estava a correr a recuperação e ao fim de três meses fiz uma ressonância magnética. Os miomas tinham diminuído”, revela, acrescentando ainda que em Novembro desse ano já estava grávida.

“A minha primeira filha nasceu em Agosto de 2008”, conta. “A gravidez aconteceu naturalmente. Antes o único problema era o bebé não ter espaço no útero para se desenvolver devido aos miomas. Eu costuma dizer que não era um problema dos ingredientes mas da panela”, diz com humor.

Em Fevereiro de 2010 teve o seu segundo filho e em Janeiro de 2015 o terceiro. “A segunda e terceira gravidez aconteceram sem contar”, revela feliz. 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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