RESPIRA apresenta “Dicionário para doentes com DPOC”

DPOC: taxa de subdiagnóstico «é ainda extremamente elevada»

Atualizado: 
19/02/2018 - 15:43
Tosse crónica, fadiga e dificuldade respiratória são alguns dos principais sintomas da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica – uma patologia que afeta cerca de 14% da população portuguesa com mais de 40 anos. Para ajudar a compreender a doença, de “forma clara, simples e objetiva”, chamando a atenção para a problemática do subdiagnóstico, a Associação Respira apresentou, recentemente, o “Dicionário para doentes com DPOC”.

Em Portugal existem cerca de 1,5 milhões de pessoas com doenças respiratórias, das quais 800 mil com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica. No entanto, dados oficiais indicam que apenas 86,8% dos casos se encontram atualmente diagnosticados.

“A DPOC é um tipo de doença pulmonar obstrutiva caracterizada pela diminuição prolongada do calibre das vias aéreas respiratórias e destruição do tecido pulmonar”, começa por explicar Isabel Saraiva, vice-presidente da associação RESPIRA.

Entre os principais sintomas estão a falta de ar e tosse com produção de expetoração. Os hábitos tabágicos são apontados como a causa de 90% dos casos de DPOC. “A causa mais comum da DPOC é o consumo do tabaco. O fumo do tabaco estimula a produção de muco e obstrução ao fluxo aéreo”, adianta a representante desta associação. No entanto, alguns casos podem ocorrer como resultado do contato com alguns tipos de poeiras ou como consequência de infeções respiratórias na infância e fatores genéticos.

Quer isto dizer que, embora o doente “típico” seja fumador, com mais de 40 anos, a DPOC pode atingir qualquer pessoa desde que exposta a «fatores de risco».

“As pessoas com mais de 40 anos, fumadores ou expostos a fumos ou poeiras lesivas do aparelho respiratório, caso apresentem sintomas como tosse com expetoração e dispneia (cansaço), devem consultar um pneumologista para despistar da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica”, apela Isabel Saraiva justificando que, “na maior parte das vezes, as pessoas associam um ou mais destes sintomas a patologias de outra natureza, por desconhecerem esta doença e seus sintomas”.

Sem cura e de caráter progressivo, a DPOC pode evoluir para estadios cada vez mais graves, apresentando várias complicações.

“A maior parte dos sintomas da DPOC são devido aos seus efeitos sobre os brônquios, mas esta doença afeta também os vasos sanguíneos dos pulmões e pode causar um peso sobre o coração”, revela a vice-presidente da RESPIRA.

As exacerbações são, no entanto, a complicação mais comum da doença, correspondendo a um período de agravamento dos sintomas para o qual a medicação não é tão eficaz.

Dificuldade em realizar atividades do dia-a-dia, incapacidade para o trabalho e vida pessoal, dependência de terceiros, isolamento social, ansiedade e depressão são algumas das principais consequências de uma doença que apresenta um grande impacto na qualidade de vida dos doentes.

«A DPOC não tem cura, mas pode ser prevenida e tratada»

De acordo com Isabel Saraiva, a cessação tabágica apresenta-se como o pilar do tratamento do doente com DPOC. “Deixar de fumar pode ser o primeiro passo, sendo a medida com maior capacidade de alterar a história natural da doença”, explica.  A verdade é que “muitos dos sintomas, incluindo tosse, falta de ar e pieira, tornar-se-ão menos graves” se se abandonarem os hábitos tabágicos.

Quanto à terapêutica farmacológica, esta visa reduzir os sintomas, aumentando a tolerância ao esforço, e diminui a frequência e gravidade das exacerbações. “Entre os vários medicamentos administrados estão os corticóides inalados ou sistémicos, as vacinas antigripal e antipneumocócica (para evitar infeções respiratórias) e os antibióticos, no caso de exacerbações infeciosas bacterianas”, acrescenta.

Em casos mais graves, pode ser necessária a utilização de oxigénio “quer por períodos curtos, durante exacerbações, quer de forma contínua, quando há insuficiência respiratória crónica”.

“A reabilitação respiratória é também um elemento fundamental na vida destes doentes. Esta técnica inclui treino dos músculos inspiratórios, exercício aeróbico e de reforço muscular”, indica.

Por outro lado, a adoção de um estilo de vida saudável, onde se inclui a prática de atividade física, pode ajudar atrasar a evolução da DPOC e promover uma melhor adaptação do doente aos sintomas.

Para ajudar a compreender a doença, o “Dicionário para doentes com DPOC” foi elaborado a pensar nos que sofrem da patologia e seus cuidadores, incluindo médicos/pneumologistas.

O objetivo é, numa linguagem simples e acessível, descrever sintomas e demonstrar as experiências e sentimentos que estes doentes apresentam relativamente a cada manifestação clínica da doença.

No fundo, tal como explica Isabel Saraiva, “este livro pretende facilitar a comunicação entre médico e doente, ao clarificar os termos técnicos usados pelo médico, face à linguagem do quotidiano utilizada pelos doentes”.


O manual, elaborado com a ajuda de doentes e médicos de referência de toda a Europa, é fundamental para compreender a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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