Novo distúrbio alimentar

Diabulimia: diabéticos cortam na insulina para emagrecer

Atualizado: 
07/03/2018 - 14:39
Um novo distúrbio alimentar, que afeta pacientes com diabetes tipo 1, está a alarmar a comunidade médica um pouco por todo o mundo. A redução ou abstenção das doses de insulina administradas, com vista a redução do peso, constituem um gesto perigoso e que pode conduzir à morte.

Estima-se que cerca de um terço das mulheres diabéticas tipo 1 sofra de distúrbios alimentares ou se incomode com o próprio peso. Alguns estudos revelam, aliás, que as mulheres adultas com diabetes tipo 1 têm maior predisposição para desenvolverem transtornos alimentares, quando comparadas às não diabéticas.

Apesar de pouco conhecida, há cada vez mais casos diagnosticados de Diabulimia.

Deixar de tomar ou diminuir as doses de insulina ou não permitir que alguém acompanhe as aplicações de insulina e os testes de glicemia, apresentar sintomas de depressão, pouca energia e glicemia sempre alta são os principais sinais de alerta para estes transtorno alimentar.

“A Diabulimia é um termo que combina a diabetes e a bulimia(...) caracteriza-se por uma preocupação excessiva com o peso e a imagem corporal em indivíduos com Diabetes tipo 1, cujos comportamentos conduzem a uma dificuldade no controlo da glicemia”, começa por explicar Ana Rita Lopes, responsável pela Unidade de Nutrição Clínica do Hospital Lusíadas Lisboa.

“A falta de controlo sobre a Diabetes pode ser causada pela redução ou abstenção das doses de insulina administradas ou por uma oscilação na ingestão alimentar. A prática de atividade física em excesso e uma alimentação compulsiva seguida de vómitos ou seguida pelo uso de laxantes são comportamentos que a caracterizam”, acrescenta.

A Diabetes tipo 1 é uma doença crónica “de natureza autoimune ou idiopática, que não está dependente dos estilos de vida” e que se caracteriza pela incapacidade de produção de insulina pelo pâncreas.

A insulina tem como função mover a glicose do sangue para as células, onde esta é convertida em energia. No entanto, na diabetes tipo 1, porque o corpo é incapaz de a produzir, não há insulina para transferir a glicose da corrente sanguínea para as células. Como consequência, o organismo decompõe sua própria gordura e músculo, levando à perda de peso. A longo prazo, esta condição pode evoluir para patologias graves, condicionando a própria vida.


A bulimia é um transtorno alimentar cerca de duas vezes mais frequente entre as mulheres com diabetes tipo 1.

“No caso da Diabulimia, a omissão deliberada da insulina conduz a um quadro de hiperglicemia e a internamentos hospitalares associados a cetoacidose diabética. A cetoacidose diabética inclui sintomas como a desidratação, mau hálito, confusão mental e cansaço excessivo, podendo, em casos extremos, resultar em coma com perda de consciência”, explica a nutricionista.

No início desta desordem de comportamento alimentar podem surgir sintomas  como a sede excessiva (polidipsia), poliúria (urinar em excesso) e fraqueza. “A longo prazo, casos de neuropatia, retinopatia, nefropatia e osteoporose podem surgir”, acrescenta Ana Rita Lopes.

De acordo com os especialistas, são muitos os motivos que podem conduzir a este  transtorno alimentar: a não aceitação da diabetes, o medo ou a vergonha de aplicar insulina, o medo de ter hipoglicemia ou o receio de ganhar peso.

“Os distúrbios alimentares estão relacionados com dificuldades na regulação das emoções. A maioria dos indivíduos com estes transtornos preocupam-se excessivamente com o seu peso corporal e com a forma do seu corpo. Para além disso, a visão que têm do seu próprio corpo é distorcida, uma vez que se consideram com excesso de peso, apesar do peso corporal estar dentro dos valores normais ou, até mesmo, abaixo”, esclarece a responsável pela Unidade de Nutrição Clínica do Hospital Lusíadas Lisboa.

Sendo mais frequentes no sexo feminino, a verdade é que qualquer pessoa pode desenvolver um transtorno deste tipo “mesmo não tendo antecedentes psiquiátricos”. No caso da Diabulimia, a redução ou abstenção das doses de insulina administradas é mais uma “ferramenta” na luta contra o peso.

O seu tratamento deve ser realizado por uma equipa multidisciplinar, envolvendo as áreas de endocrinologia, nutrição e psicologia ou psiquatria.

“Na área da nutrição, é importante abordar vários parâmetros. Inicialmente, é crucial realizar a avaliação do estado nutricional, isto é, avaliação antropométrica (altura, peso, índice de massa corporal), avaliação de parâmetros bioquímicos, exame físico, avaliação da ingestão alimentar e do dispêndio energético. Em seguida, é necessário estabelecer uma intervenção nutricional, considerando as necessidades energéticas e nutricionais do indivíduo, as suas preferências alimentares, fatores psicológicos e recursos económicos”, descreve a especialista adiantando que esta intervenção deverá ser “adequadamente monitorizada”.

Ana Rita Lopes reforça ainda a importância de uma intervenção comportamento-cognitiva “visando a prevenção de respostas compensatórias”.

“Os familiares e os amigos podem ajudar, aumentanto a auto-confiança do indivíduo e auxiliando-o a reconciliar-se com a sua imagem corporal”, acrescenta.

A verdade é que quanto mais cedo a diabulimia for tratada, melhor. Por isso, a especialista recomenda particular atenção aos sinais: “em primeiro lugar, é importante prestar atenção às doses de insulina administradas, uma vez que são fundamentais para o controlo da glicemia e, consequentemente, para o controlo da Diabetes”.

Comportamentos como excesso de exercício físico e períodos de alimentação compulsiva, seguidos de comportamentos compensatórios são outros dos sinais suspeitos. “Uma preocupação excessiva com o ganho de peso ou uma distorção da imagem corporal (considerando que tem excesso de peso mas tem um peso adequeado ou até baixo peso) são também sinais de alerta”, conclui a nutricionista.

 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.