Dentistas

Cortes sistemáticos revelam incapacidade da ADSE em gerir convenção

O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas criticou os “cortes sistemáticos” no acesso dos utentes da ADSE à medicina dentária, considerando que o subsistema de saúde dos funcionários públicos não está a conseguir “gerir convenientemente” a sua convenção.

“O que vemos é que há uma incapacidade da ADSE em gerir convenientemente a sua convenção, ou seja, em ter capacidade de controle ao nível dos procedimentos que são exigidos aos profissionais no âmbito da convenção”, disse Orlando Monteiro da Silva, em entrevista à agência Lusa.

Por via dessa incapacidade, está a assistir-se a “um conjunto de cortes que não têm nenhum estudo, nenhum pensamento, nenhum objetivo, nada de científico por trás”, sublinhou.

“São cortes sistemáticos no acesso dos utentes à medicina dentária”, que se refletem ao nível das consultas, dos procedimentos, disse Orlando Monteiro da Silva, dando como exemplo a impossibilidade de um utente poder fazer “dois tratamentos no mesmo dia, porque supostamente é proibido, quando deveria ser muitas vezes precisamente o contrário”.

Para o bastonário, esta situação “é preocupante” não na perspetiva dos profissionais, mas na dos utentes da ADSE. “São estes que estão a ser afetados por este tipo de abordagem”, vincou.

Lembrando que a ADSE “é fundamental” para cerca de 1,3 milhões de beneficiários e “fulcral para a medicina dentária”, a nível do tratamento, de colocação de dispositivos ou próteses dentárias, afirmou que “a Ordem e os médicos dentistas estão preocupados com o futuro que a ADSE está progressivamente a tomar ao nível dos seus procedimentos”.

Na semana passada, a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP)também alertou que está em risco o acesso dos beneficiários da ADSE à rede convencionada.

“Se o caminho para a sustentabilidade passa por continuamente insultar publicamente os prestadores privados e proceder a corte administrativos cegos e insustentáveis, resta aos prestadores privados aceitar que os nomeados representantes dos beneficiários pretendem acabar com este subsistema”, afirmou na altura a APHP em comunicado.

Na entrevista, o bastonário dos Dentistas defendeu também que seja “reposta uma certa normalidade de financiamento” do Serviço Nacional de Saúde, para melhorar a qualidade dos cuidados prestados e motivar os profissionais de saúde.

“Eu sou por natureza um otimista e julgo que as coisas vão sempre para melhor e raramente para pior, não vejo que na área da saúde o panorama seja tão trágico como às vezes transparece para a opinião pública”, mas “evidentemente que nestes últimos dois anos houve algum tipo de constrangimentos de cativações em termos de financiamento do Serviço Nacional da Saúde que provocaram uma crispação grande”, adiantou.

Para Orlando Monteiro da Silva, essas cativações “afetaram muito a prestação de cuidados de saúde e a qualidade com que são prestados à população”, em particular no Serviço Nacional de Saúde.

“É importante que de futuro seja corrigida essa trajetória, que seja reposta uma certa normalidade de financiamento do Serviço Nacional de Saúde, que neste momento está afetada, e que possamos ter, não só profissionais relativamente satisfeitos e motivados, mas também que a qualidade dos trabalhos a prestar seja consentânea com as perspetivas dos cidadãos, que têm um impacto grande nos próprios profissionais”, defendeu.

Destacou ainda “como positiva” a importância dada pelo Governo à medicina dentária ao colocá-la como “uma prioridade importante dentro dos cuidados de saúde primários”, de forma “muito mais evidente” do que em governos anteriores.

Para o bastonário, o projeto de colocação de médicos dentistas no Serviço Nacional de Saúde e a manutenção do programa cheque-dentista “são fundamentais para a profissão e para os utentes” do SNS.

 

Fonte: 
LUSA
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock